segunda-feira, 29 de março de 2010

Privada pública ou pública privada?

Ele é um dos lugares em que as maiores diferenças aparecem quando se é cadeirante: o banheiro. E é motivo de muita polêmica na luta pela acessibilidade.
Mas afinal, quais as adaptações ideais? As barras de apoio são a exigência mínima, necessárias em qualquer adaptação para cadeirante. As mais adequadas são as fixas de um lado e móveis do outro, como da foto abaixo, de um banheiro da UFMG, que permitem que o cadeirante coloque a cadeira ao lado do vaso para fazer a transferência, depois a retire e feche a barra para se posicionar melhor. Mas se houver pelo menos uma barra ao lado do vaso já é suficiente para se apoiar na hora da transferência.
Mas a grande polêmica no banheiro é mesmo o vaso sanitário. Há modelos com assentos mais macios, com assentos tipo meia lua, abertos na frente, e há até vasos sanitários com uma abertura no próprio vaso, como o da foto abaixo. Esta abertura, que causa estranhamento em muita gente, acredito que seja para dar espaço na hora de fazer o cateterismo. E é o modelo mais indicado, porque atende a qualquer situação. Mas o mais importante mesmo é o vaso ser mais elevado, em pelo menos quinze centímetros em relação ao chão, devido à altura da cadeira de rodas. Pode já ser feito mais alto, como o de baixo, ou sobre uma plataforma, como o de cima. Uma adaptação extremamente simples mas que muita gente deixa de fazer por falta de informação.
A ideia do post foi da minha amiga Sandra, de Petrolina, que me contou sobre um banheiro do aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, que tinha até uma haste pendurada no teto para o cadeirante se pendurar para se arrumar melhor. E não é que ela descolou uma foto pra gente colocar aqui? Olha só que bizarro:
No fim das contas, o que deve ter o banheiro para um cadeirante: uma porta bem larga, com no mínimo 70 centímetros para entrar uma cadeira de rodas, barras de apoio ao lado do vaso sanitário e o vaso sanitário mais alto do que os modelos normais. E bastante espaço para manobrar a cadeira de rodas. Esqueci alguma coisa?

domingo, 28 de março de 2010

Artesamalt Choperia

Não sei se eu e o blog estamos sem moral, ou os cadeirantes de BH não gostam de sair de casa mesmo, mas não apareceu ninguém na comemoração de um ano do blog. Assim eu paro de escrever... Brincadeira, não ligo pra isso não, só queria conhecer pelo menos um cadeirante em BH e saber mais sobre a rotina, o dia-a-dia e as dificuldades que encontra. Quem sabe um dia.... Aliás, até ia aparecer, mas se atrasou e desencontramos.
O bar é muito bacana, mas logo na chegada já tive que esperar. A rampa, localizada ao lado da entrada principal, estava cheia de mesas e cadeiras. Aqui é assim, até tem acesso, mas geralmente é usado pra outra coisa, já que fica ocioso 99% do tempo.
Retiraram as tralhas e pude entrar pela rampa lateral. Mas aí veio outro detalhe: a área "disponível" para cadeira de rodas é restrita, praticamente, ao corredor que fica entre a cozinha/banheiros e a área rebaixada por dois degraus, onde fica a maioria das mesas. E tem ainda o andar de cima, acessível por uma longa escadaria. Os garçons até se ofereceram para descer a cadeira para a parte rebaixada se fosse minha vontade, mas fiquei ali mesmo.
Pelo menos o banheiro é muito bom. Independente para cadeirante, todo adaptado com barras, vaso sanitário próprio e bem amplo, não deixou a desejar. Só faltou uma trava na porta, não acreditei que não tinha, acho que por falta de uso também. Começo a suspeitar que fui o primeiro cadeirante a frequentar o lugar. Vou mandar pra eles as sugestões.
A estrutura do estabelecimento é um espetáculo, figura entre os top five de BH, ao lado de Pinguim e Krug Bier, com chop de fabricação própria com muitas variações, vasto cardápio com pratos sofisticados e ambiente de primeira. Comemos uma costelinha ao molho de pimenta biquinho que estava uma delícia, muito bem preparada. E o chop é muito bom, com espuma cremosa. Mas não é barato, sete chops e o rango deu quase sessenta reais. Mas vale pela qualidade.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Um ano de blog!!!


Na verdade um ano e 13 dias! Nem me toquei que tinha feito um ano, até ter a curiosidade de ver quando foi o primeiro post: dia 12 de março de 2009! 
Para comemorar proponho a todos os cadeirantes de BH e região ou que estejam por aqui para, no sábado dia 27/03 conhecer o Artesamalt, choperia que abriu há pouco tempo ao lado do Shopping Pátio Savassi, na Rua Lavras, 158. Liguei pra lá e disseram que tem rampa e banheiro acessível, então decidi conferir, já faz um bom tempo que quero conhecer o lugar e está é uma boa oportunidade. Mas não é só cadeirantes não, quem acompanha o blog e quiser pintar por lá será muito bem vindo! Não vou reservar mesa nem nada, vou chegar lá por volta das oito e meia e procuro uma mesa em um lugar mais amplo, se for o caso da mesa "crescer".
Parabéns pro blog!!!

Tylex na veia

Muitos médicos me avisaram. Fisioterapeutas também. Até enfermeiras dão um toque. Mas não tem jeito, na hora da dor intensa, só o super Tylex resolve. Mas não pode tomar muito, senão vicia!! É isso que o povo alerta.
E vicia mesmo. É que o remedinho contém codeína na sua fórmula, um derivado do ópio. É excelente para aliviar a dor, mas o uso frequente causa dependência. Não sou médico nem nada, só estou repetindo o que ouço. O pior é que ultimamente tenho tomado muito Tylex, umas três a quatro vezes por semana, pois as dores tem vindo com mais frequencia. Mas se não tomar, não consigo dormir. Não bastasse a perna pulando, tem as dores também. Ô noite de sono custosa... Mas até que consigo dormir, na base do cansaço. Um dia dormindo mal, no dia seguinte durmo bem. E assim o pobre vai sofrendo...
Voltando ao Tylex, já repararam no tamanho do comprimido? O negócio é gigante, vira e mexe agarra na garganta e só um litro de água pra fazer o bicho descer. Tudo bem que é uma mega dose de paracetamol com fosfato de codeína, mas precisava ser tão enorme? Imagino quem tem a garganta mais estreita, é capaz de morrer sufocado.
Mas vou tentar evitar tomar muito o danado, senão entro pra lista dos famosos que morrem jovens por verdose de remédios pesados, ao lado de atores, atrizes e cantores... Cruz credo, Deus me livre, é brincadeira, o que esse povo toma é pra acalmar elefante! Pro cavalo aqui, só um tylexzinho de vez em quando...

segunda-feira, 22 de março de 2010

Pernas com vida própria

Os espasmos fazem parte da vida dos lesados medulares, todos sabemos, mas eu tenho uns que estão me dando nos nervos (expressão bem coerente pra quem tem pobrema nos nelvo). Mas é sério, tem noites que não consigo dormir por causa de espasmos nas pernas, hora numa, hora noutra, e é a noite inteira, mudo de posição, fico sobre um lado, fico sobre o outro e nada, a perna não para de pular. Se mexem a noite inteira, quando bem entendem. É isso mesmo, minhas pernas tem vida própria. Mas pelo menos é melhor do que não ter vida nenhuma...
O que enche o saco é a sequência: ela dá três puxadas, fica quieta por uns quinze segundos, e depois dá três puxadas de novo. Mas não é toda noite, só quando elas estão mal humoradas. É a única explicação, pois não faço nada diferente, e numa bela noite elas começam a pular. São sistemáticas, enjoadas. Deve ser saudade da época em que eu dava 'meus pulos' (deixa minha namorada ler isso aqui).
Me lembrei de uma amiga de Vitória, que quando alguém enchia o saco ela dava um soco na pessoa e falava: "oh, desculpa, foi um espasmo!" Depois disso, qualquer coisa neguinho dava um murro e gritava "olha o espasmo!!" De vez em quando faço isso com quem me perturba. Acho que vou virar pro lado da namorada e dar uns chutes nela à noite só pra sacanear.
Eu tomo baclofeno de oito em oito horas para conter os espasmos, mas mesmo assim de vez em quando isso acontece. E agora como tenho ficado o dia todo sentado, os espasmos aumentaram. Mais uma vez, alongamento e mobilização passiva podem ajudar. Alguém sabe outra receita?

sábado, 20 de março de 2010

Na Minha Cadeira ou na Tua?

Depois de uma longa jornada, a Juliana Carvalho, publicitária que colabora no blog "Sem Barreiras", está lançando seu livro sobre aventuras e desventuras na cadeira de rodas de forma leve e bem humorada. Texto da orelha:


"Aos dezenove anos, uma doença colocou uma cadeira de rodas no caminho de Juliana Carvalho. Sem esconder os momentos dolorosos e a vontade de desistir, este relato autobiográfico extrai humor e esperança de situações difíceis e expõe a mistura de tragédia e comédia que caracterizam a sua – e a nossa – complexa condição humana.
Na minha cadeira ou na tua? percorre questões fundamentais do cotidiano dos cadeirantes, com informações sobre inclusão, acessibilidade e lutas por enfrentar, e intercala narrativas sobre a vida da autora antes e depois da lesão medular. Antes dela, Juliana relembra pensamentos, brincadeiras e a relação ingênua com a família durante a infância e fala sobre a descoberta do amor e do sexo, as festas, a rebeldia e as bebedeiras durante a adolescência. Já adulta, após a grande virada, a readaptação, a convivência com os novos limites, a superação e a percepção de que uma cadeira não modifica o fundamental: o que o ser humano é além do próprio corpo."


A autora

Juliana Carvalho nasceu em 1981, em Porto Alegre, e é publicitária. Cadeirante desde os 19 anos, quando teve uma inflamação na medula, é atuante no movimento das pessoas com deficiência. Apresenta o programa “Faça a Diferença”, que promove os direitos humanos e o respeito à diversidade, exibido na TV Assembleia do Rio Grande do Sul. Mantém os blogs “Comédias da Vida Aleijada” (comediasdavidaaleijada.blogspot.com) e “Sem Barreiras” (www.zerohora.com.br/sembarreiras), este do Grupo RBS, que aborda questões sobre acessibilidade e inclusão. Dirigiu o curta-metragem “O que os olhos não veem, as pernas não sentem”, premiado pelo Júri Popular do Festival Claro Curtas de Cinema. Na minha cadeira ou na tua? é seu primeiro livro.

Datas dos Lançamentos:

RJ - 08/04
Livraria da Travessa - Shopping Leblon
Afrânio de Melo Franco, 290 - loja 205 A

SP - 12/04
LIVRARIA CULTURA - CONJUNTO NACIONAL
Av. Paulista, 2073

BH - 15/04
Biblioteca pública estadual Luiz de Bessa
Praça da Liberdade, 21 – Funcionários

POA - 22/04
LIVRARIA CULTURA - BOURBON SHOPPING COUNTRY
Av. Túlio de Rose, 80 - Loja 302

Brasilía - 27/04
LIVRARIA CULTURA - CASAPARK SHOPPING CENTER
SGCV - Sul, Lote 22 - Loja 4-A



Vamos prestigiar esta grande conquista desta grande mulher! Eu vou comparecer no lançamento aqui em BH!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Cadeirante macho X cadeirante fêmea

Cadeirante - assim como andante - é mais um daqueles substantivos comuns de dois gêneros que faz pouca diferença semântica - mas faz uma grande diferença romântica. Vendo novela - ah, fala sério, todo mundo vê, ainda mais quem é do "ramo" - estive pensando na diferença entre o relacionamento de um cadeirante e uma andante e uma cadeirante e um andante. Não tenho nada a reclamar sobre a vida que levo com minha andante, a não ser o fato de que ela detesta dirigir e sou eu que sempre dirijo, mas convenhamos que a vida é bem mais fácil e "acessível" para um casal de cadeirante "fêmea" e andante "macho".
A principal vantagem é que é bem mais fácil o andante carregar a cadeirante do que o inverso acontecer. Dessa forma, para entrar em tudo quanto é lugar e chegar a lugares difíceis é bem mais fácil. Qualquer coisa é só carregar a cadeirante no colo. Claro que o cara não pode ser fracote e a cadeirante não pode engordar demais, mas na maior parte das vezes a regra vale. Nesse esquema, fica fácil o casalzinho ir até a areia da praia namorar, visitar aquele amigo que mora no terceiro andar sem elevador e nem muda a noite de núpcias, o cara entra no quarto carregando a noiva como deve ser.
Mas a mulher não carrega o cadeirante. No máximo ajuda a vencer um degrauzinho. A não ser que seja uma descendente de alemã, daquelas de 1,80m com braços mais grossos que a perna do cadeirante. Mas dessas aí dá até medo...
Diferenças de relacionamento à parte, muitas são as diferenças entre a vida de um cadeirante e de uma cadeirante. Uma das que acho favoráveis ao cadeirante é a "coleta" de urina. Aliás, é uma curiosidade que tenho. Homem usa o coletor de perna, amarrado na canela, quase imperceptível, e se urina durante o dia não faz diferença nenhuma, é só esvaziar depois. E a mulher? Existe um coletor feminino?
Outra vantagem masculina é a força física: mais acostumados a usar braços e peitorais, homens tem maior facilidade em acostumar com as transferências. Mas mulheres levam vantagem na cama, quando o assunto é sexo, pois não precisam de "esforço" para fazer a coisa funcionar. E ainda tem mais costume de explorar outras zonas érogenas além da genitália, tem mais sensibilidade acima da cintura e consequentemente tem mais facilidade para sentir prazer.
Enfim, são muitas as diferenças, mas fica a questão: quem leva mais vantagem quando vive numa cadeira de rodas?

sábado, 13 de março de 2010

Cadeirante na fábrica da M3 faz melhorias na cadeira

A Sandra, minha amiga de Petrolina, realizou um sonho de muito cadeirante e de muito consumidor: foi à fábrica da Ortobrás no município de Barão, no Rio Grande do Sul, só pra fazer os ajustes necessários à sua M3, que estava causando irritação e muita dor de cabeça, já que não veio de acordo com a encomenda. Como a cadeira não vem com manual, e é quase impossível encontrar um técnico que entenda bem do assunto, ela resolveu bancar do próprio bolso essa cansativa viagem para por um ponto final nos seus problemas. E ainda levou a fisioterapeuta a tiracolo!
A empresa providenciou hospedagem para ela e se dispôs a acompanhá-la no processo de ajustes e fazer todas as adaptações que ela sugerisse. E ela tinha mesmo uma ideia muito boa: um novo tipo de braço, já que o que vem na M3 não é prático, nem funcional. Quando comprei a minha, vi um braço na loja, e como já não era mais recomendável para mim, pedi sem. Mas confesso que achei bem estranho. O braço dela ficou ótimo, vou reproduzir aqui o relato e as fotos dela para que entendam tudo que foi feito. Ela traz também novidades e boas notícias em relação aos planos da empresa para o futuro. Acompanhem:
"- O apoio para braços disponível como acessório original, pareceu-me impraticável visto que além de ser rígido, redondo, não tinha firmeza, nem praticidade para colocar e retirar. Em poucos dias apresentou folga e desisti dele. Diante dessas observações, o pessoal da Ortobrás trabalhou o "protetor de roupas", elevando-o e apoiando sobre ele um braço convencional. O design não ficou dos melhores, prometi pra eles que faria um adesivo que resolveria isso, ainda não fiz, mas a funcionalidade do braço valeu a pena, ficou muito bom. Para que ficasse mais resistente a base de suporte, foi refeita em alumínio (fig 2 e 3).
- Embora as rodas soft roll sejam muito charmosas, não absorvem metade do impacto que a inflável de 6". Essa substituição foi fundamental para andar com segurança em solos irregulares, visto que a soft, além dos problemas que vem apresentando no Brasil, de romper a borracha, nos lança para frente, tombando em pequenas elevações.
- Como tenho pernas curtas, o apoio para pés foi elevado em 7 cm, eu achava que 2 cm eram suficientes e aí valeu a equipe técnica, que detectou e trabalhou essa medida cortando o alumínio da estrutura da cadeira, pois a possibilidade de ajuste não era suficiente.
- Outra alteração foi o encosto que foi elevado, aí ja foi uma observação de Suzy, (fisioterapia) e Ileane, (acupuntura), elas acharam que eu teria maior apoio, tirando a sobrecarga da cervical. Bem que eu achava charmosinho aquele encosto baixo, mas tb ficou muito mais confortável. E como era unânime o pedido dos amigos que elevasse a altura do punho de conduzir a cadeira, isso teve uma pequena elevação para que não interfirisse nos movimentos laterais, todos gostaram. Sobre o punho, Anderson, gerente de vendas da Ortobrás, adiantou que em breve estarão utilizando um novo punho dobrável, que faciltará nos porta-malas da vida.
- O demais foram ajustes no que não funcionava bem, como o quick para retirar as rodas traseiras, agora ficou muito bom e o aço que puxamos para dobrar o encosto, esse veio bem, mas já rompeu de novo, nada difícil de resolver.
- Uma avaliação da viagem é que foi muito legal, a cadeira ficou muito boa sem perder suas principais características de leveza, e conforto. Segundo Anderson, a partir de 2011 as cadeiras de rodas estarão submetidas à ANVISA e terão MANUAL dentro das normas internacionais, o que certamente facilitará nossas vidas."

Parabéns à Sandra e obrigado pelo depoimento, este tipo de atitude pode ajudar muita gente, a empresa pode tirar várias lições desta interação e aperfeiçoar o produto, ouvir o cliente é fundamental para que todos fiquem satisfeitos.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Jangadinha

Logo que comprei a M3, meu primeiro impulso em relação à minha antiga cadeira X foi doá-la. Mas na primeira tentativa descobri um empecilho: precisava encontrar alguém com tamanho compatível, pois colocar uma pessoa em uma cadeira que não seja do tamanho adequado pode acabar de entortar o infeliz.
A coisa é séria, uma cadeira de rodas deve se encaixar perfeitamente nas medidas da pessoa, é como uma roupa, ou melhor, é mais do que uma roupa, pois a pessoa usa todo dia, o tempo todo a mesma cadeira. Quando fui encomendar a minha, os especialistas do Sarah mediram pernas, tronco, quadril e até braços (??). Deve ter a altura ideal de encosto de acordo com a lesão, deve fazer um ângulo correto nos joelhos e deve encaixar bem o quadril pra não ficar "dançando" ou escorregando.
Mas hoje percebo o quanto é importante ter uma outra cadeira de "back up". O título do post, é o apelido carinhoso que a Gi deu pra minha antiga cadeira, de tão grande e desengonçada, ela acha que parece uma jangada (vai entender), mas até que achei bonitinho. E realmente a bichinha é um desengonço, não sei como aguentei tanto tempo com ela. As monobloco são outra coisa pra tocar, pra manobrar, dão outra qualidade de vida, nem compara com essas X trombolhas. Mas ainda são caras comparativamente.
O fato é que está sendo uma mão na roda ter duas cadeiras, deixo a jangadinha na garagem de casa e vou trabalhar, na hora do almoço deixo a M3 na garagem do prédio da empresa, uso a jangadinha em casa, e pego a M3 na empresa de novo. Menos trabalho pra mim e pra quem me ajuda. Na garagem do prédio da empresa o pessoal já acostumou, tem um quartinho onde eles guardam minha cadeira enquanto estou almoçando.
E tem a maior vantagem de ter uma cadeira extra: se por acaso uma estraga (Deus me livre), a outra taí pra me manter rodando enquanto ela vai pra oficina!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Fazendo compras

Ontem fiz o papel que se espera de um bom marido (no caso, namorido): fazer compras com a namorada. E descobri uma coisa interessante: é possível empurrar um carrinho de supermercado tocando a cadeira de rodas. É só tocar com uma mão e compensar com a outra. Não é fácil, nem rápido, mas possível. Dá pra fazer compras com uma certa dose de paciência. Mas divertido mesmo foi a namorada me empurrar e eu empurrar o carrinho, que nem trenzinho.
O problema é alcançar as prateleiras mais altas. Se estivesse sozinho teria que pedir ajuda a cada produto do alto que quisesse comprar. Taí a vantagem das empresas que conseguem se posicionar nas prateleiras mais abaixo: pelo menos dos baixinhos e dos cadeirantes já ganham a preferência!
Mas o fato é que fazer compras é mais um desafio pra cadeirantes. Empurrar carrinho tem jeito, se forem poucas compras tudo bem, põe uma cestinha no colo, mas e na hora de levar as compras pra casa? Se puder levar o carrinho até o carro, tudo bem, passa as sacolas pro porta-malas. Mas e se for embora de ônibus? Como o cara sai carregando sacolas em uma cadeira de rodas? Se colocar no colo, cai tudo. Comigo já aconteceu muito. Nenhuma sacola para no colo quando as mãos estão ocupadas tocando as rodas. Se pendurar nos "empurradores" (por onde nos empurram, sei lá o nome daquilo) corre o risco de neguinho catar metade das compras. A saída, acredito, é mochila. Ou mala mesmo. Mas não dá pra sempre ter uma à mão, então pode saber que sacolas e cadeira de rodas, é mico certo, compras pelo chão.
A propósito, não reparem na quantidade de bebida no carrinho, é que passei na seção preferida primeiro, e aquilo não é papel higiênico, é papel toalha. E eu acho o maior barato papel toalha!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Cadeirante passando raiva com ônibus

Quem tem carro não faz ideia da raiva que passa quem anda de ônibus. Quem é cadeirante então, não faz a menor ideia do que passa um cadeirante andando de ônibus. Mas ontem tive uma amostra do que é ser cadeirante, depender de ônibus, e ainda passar raiva por causa disso. Vou reproduzir aqui na íntegra o e-mail que o Thiago Helton, cadeirante daqui de BH, mandou pro blog Sem Barreiras, da minha amiga Tânia e depois ele me autorizou publicar aqui:

“A luta do meu dia a dia com o transporte público… Como sabem sou tetra C6 ha 1 ano e 3 meses. Desde o ano passado comecei a me preparar para concursos públicos, uma vez que esse era meu hobby antes de ficar “quebrado”. Na luta pra voltar a vida ao normal, consegui uma bolsa no preparatório do TJMG no cursinho do PROLABORE (menciono sem propaganda, pois é o que há no quesito acessibilidade em BH). Até ai tudo bem, matriculado num curso de qualidade comecei as aulas, no entanto dependo do transporte público adaptado pra frequentar o cursinho.
Sem fugir da história, porque é necessário contar isso, moro no 1 º andar num apartamento que esta em obras, aquelas mudanças até hoje… Aqui na minha rua só passavam microônibus e sem espaço reservado até janeiro, quando de tanto pedir e mandar milhões de e-mails colocaram 3 veículos com elevador que passam na porta da minha casa, (show de bola ônibus adaptado na porta de casa, muitos problemas resolvidos, ou não?) Na primeira semana o elevador de um dos carros já deu seu primeiro estrago, não baixava por completo, depois fomos percebendo que nenhum motorista recebeu treinamento para manusear os elevadores já teve dias que pelo fato de o motorista não saber mexer, já fui carregado em ônibus “novo”. Mais e-mails, reclamações… Sem falar na demora porque são só 3 com o elevador, o fator sorte também conta nessa linha, pois eles não seguem horário padrão para veículos adaptados…
Mas retomando a história vamos pro cursinho de ônibus eu e meu pai (na hora do desespero só ele aguenta carregar).
Hoje de manhã foi o cúmulo, manha chuvosa, vamos pra aula, o concurso esta chegando, fico no hall do prédio coberto e meu pai no portão esperando pra sinalizar, incrivel que hoje, em 5 minutos veio bonitinho de elevador, (ja esta suspeito), saí na chuva rápido pra entrar no onibus, o elevador baixou entrei e meu pai ainda colocava o cinto de segurança na cadeira enquanto o motorista penava pra recolher o elevador. Mais uma vez deu problema travou no meio da escada, mais de 30 minutos tentando recolher pra fechar a porta do onibus. Então surge outro atrás, microõnibus sem elevador, simplesmente todos sairam pulando pelo elevador enguiçado ficando só eu no ônibus, sai carregado de novo, me molhei todo, voltei pra casa.
Olha que legal, o ônibus ficou quase 1 hora parado na porta da minha casa!!! Lutei e consegui o ônibus, mas não era pra ficar estacionado na minha casa né? Parecia até particular…
A bendita linha é a 1950 do DER-MG.”
O Thiago tirou também fotos do elevador travado:
Que dureza, heim Thiagão? Mas não perde as esperanças não, pelo menos tem buzão adaptado né? Agora, imagina no interior, onde o jeito é carregar na charrete? Vamos ver se a BHTrans dá uma melhoradas nesses carros aí. Força garoto!

domingo, 7 de março de 2010

Cuidando dos pés

Ontem fui ao shopping e aproveitei para satisfazer um dos maiores prazeres da minha namorada: me dar presentes. Eu estava precisando de sapatos novos - não que os meus estejam gastos, pois essa é uma vantagem de ser cadeirante, não gastar sapatos - mas é que estou com poucas opções mesmo. Aí sugeri discretamente (na lata) que ela me comprasse um par e entramos na loja pra escolher.
Nesse momento eu satisfiz um dos meus maiores prazeres: assustar vendedores de sapatos:
- Boa noite, o senhor gostaria de ver sapatos?
(eu pensando em responder: "não, vim aqui comprar sorvete de baunilha")
- Sim, queria ver um modelo destes, destes e daquele ali.
- Qual número o senhor calça?
Pausa dramática....
- 45. Bico largo.
A cara dos vendedores é impagável. E a explicação a seguir, melhor ainda.
- Bem, hehe, acho que não tem daquele modelo não, hehe, mas vou ver, e do outro também só vai até 44, mas tenho outro modelo....
E o cara vai se enrolando até eu quebrar o galho:
- Cara, busca o que você tiver de 45, só não traz bico fino nem sapatênis.
Quinze minutos depois o cara trouxe quatro pares (uau!). Um deles, marrom, descartado de imediato. Outro, horroroso, também. Sobraram dois, experimentei um deles, e tive que ouvir:
- Não tá apertando não, né?
Ai ai. Claro que se estivesse eu não sentiria, mas apertei com os dedos na ponta e senti meu dedão no limite, não parecia estar apertado. Experimentei o outro, entrou com certa dificuldade, mas ficou bom também, não apertou na ponta. Os dois modelos bonitos, bem parecidos, a diferença é que um era mais acolchoado por dentro, e este era mais caro cinquenta reais. Qual deles levar?
A resposta óbvia, de pobre, é levar o mais barato, pois não sinto muito os pés e não piso, portanto não irá incomodar meu pé. Por outro lado, achei que devia cuidar bem dos meus pés, pois se um dia voltarem a funcionar devem estar em bom estado de conservação (parece até carro usado). Mas no fim das contas levou a lógica e a economia: o modelo mais barato tinha ficado também mais certo no pé, e de fato eu não piso, não fico de pé em horário comercial, em casa uso tênis ou papete para ficar de pé. Foi uma boa compra, estou satisfeito e acho que meu pé também. Pelo menos na hora ele não reclamou.

sábado, 6 de março de 2010

Mudanças de clima

Semana passada houve queda de temperatura de 10º em Minas e até 14º em São Paulo de um dia pro outro. É praticamente Verão num dia e Inverno no outro. E pra alguns "artrodesados" (pessoa sofreu uma cirurgia de artrodese na coluna) como eu e tem doze parafusos de titânio e ainda uma estrutura de ligação, estas mudanças bruscas de temperatura são uma facada. Parece mesmo uma facada nas costas, o metal esfria e a musculatura enrijece de tal forma que parece rasgar. Mas a gente acostuma, ou veste uma camiseta por baixo pra dar uma esquentada extra, ou os mais barangos aderem a um coletinho de lã que a vovó fez quando ele era adolescente.
Se fosse só isso, tudo bem, o problema é que a lesão medular costuma ter também outro "efeito colateral", a dor crônica (que por acaso eu tenho) e estende este reflexo para o resto do corpo. O resultado é que a musculatura do corpo todo sente a mudança e fica dolorida, latejando. Sabe quando você dá uma martelada no dedo? É aquela sensação, só que do peito pra baixo no corpo todo. E não vai diminuindo, fica o tempo todo daquele jeito. Muitas vezes fico tremendo de dor, e tenho que tomar remédios pesados para segurar a onda. Mas são os ossos do ofício. Ou melhor, são os músculos.
Por falar em onda, essa semana deu uma chuva torrencial aqui em BH, e quando saí do serviço (coisa de peão) passei por uma esquina que achei que meu carro fosse boiar. Estava alagando que é uma beleza, a água já estava batendo na porta do carro. Mais tarde vi no jornal que teve um ponto da cidade em que um carro ficou totalmente coberto pela água, dava pra ver só um pedaço do teto do carro. Aí eu te pergunto: e se fosse eu? Como é que um cadeirante sai do carro numa dessas? Tudo bem que aprendi a nadar sozinho, sempre me virei bem na água, mas na hora do aperto, com cinto, vai que a porta do carro não abre... Será que alguém vai mesmo tirar o infeliz de lá? Por via das dúvidas, já coloquei meu snorkel no porta-luvas do carro. Aqui em BH não tem utilidade mesmo...

terça-feira, 2 de março de 2010

Morrinho nosso de cada dia

Como passei a almoçar na rua com mais frequencia ultimamente, passei também a tocar mais a cadeira e (infelizmente) conviver mais com as calçadas esburacadas e as subidas e descidas tão presentes nas ruas mineiras.
Busco sempre o restaurante mais acessível possível (bonito isso) e mesmo assim enfrento um leve morro pelo menos duas vezes por semana (já que quarta e sexta minha empregada vai e faz comida e acabo indo na segunda comer sobras de domingo - pobre é foda). E desde então percebi o quanto estou despreparado fisicamente e o quanto estava mesmo precisando de um exercício físico. Dirigir é muito importante pra cadeirante, mas te deixa preguiçoso. Quem é normal já sente isso quando compra carro, eu não passei por isso antes porque sempre fui esportista, mas a cadeira me trouxe pra essa realidade.
Na maioria das vezes aparece alguém pra dar um empurrãozinho, o que por um lado também é ruim, pois fico sem fazer o tal do exercício. Mas muitas vezes tenho que tocar na ida e na volta e depois fico todo dolorido pelo esforço. É, me arrependi de ter burlado os treinos de tocar cadeira no Sarah. Lá, vai todo mundo pro estacionamento, fazem um trajeto de ida e volta e mandam os cadeirantes dar várias voltas para treinar força e controle da cadeira. Como não dá pra controlar todo mundo, eles olham por alto e os "espertinho" fingem algumas voltas, como eu. E depois compram carro e não treinam nunca mais, como eu. E depois ficam chorando no blog, como eu. Quem manda ser espertinho...

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