quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Surf adaptado na pororoca

André arrepiando nas ondas - Foto: arquivo pessoal
O título ficou com dupla interpretação, mas pororoca não é o que você está pensando, é só o fenômeno natural caracterizado por grandes e violentas ondas que são formadas a partir do encontro das águas do mar com as águas do rio. A mais famosa é do Rio Amazonas, muitos surfistas vão para lá se aventurar. E não é que um cadeirante do Rio, o André, conhecido como Andrezinho Carioca, cismou de surfar estas ondas? Corajoso o cara!
Ele conheceu o surf adaptado no Rio de Janeiro, onde mora, e se apaixonou pelo esporte. E logo já se impôs um desafio: surfar na pororoca! Muita coragem dele, a pororoca é uma onda interminável, dura vários minutos, e pode ser bem traiçoeira.
Me identifiquei muito com o André em algumas coisas, como o bom humor, o otimismo e a superação da condição física. Logo após o acidente ele já comentou com a mãe que a sequela que ele iria carregar seria "virar atleta paralímpico". Mais fácil do que contar em detalhes a história do André é ver os vídeos dele, vejam abaixo.

domingo, 20 de outubro de 2013

Tiro com Arco Paralímpico

7º Campeonato Brasileiro de Tiro com Arco Paralímpico
Mês passado, estava eu na sala de espera de um médico e chegou uma cadeirante, muito bonita e simpática. Comecei a conversar com ela sobre modelos de cadeiras de rodas, e ela disse que foi em uma feira na Alemanha parecida com a Reatech, chamada RehaCare, que geralmente acontece no fim do mês de setembro. É uma ótima oportunidade para conhecer o que há de melhor no mundo em tecnologia assistiva. Boa dica para quem pretende ir à Europa. Trocamos contatos e nos adicionamos no Facebook.
Anne atirando no Capeonato Brasileiro
Há alguns dias vi fotos dela praticando tiro com arco, uma modalidade paralímpica que tem poucos adeptos no Brasil. Nas fotos ela estava participando do 7º Campeonato Brasileiro de Tiro com Arco Paralímpico, que aconteceu aqui em Belo Horizonte nos dias 9 a 13 de outubro. Tiro com Arco é o nome correto do esporte, que a maioria das pessoas conhece como Arco e Flecha. É um esporte que demanda concentração, disciplina e postura, além de uma técnica bem apurada, e é um dos mais antigos esportes olímpicos.
Área para treinos e competições da Federação Mineira
A iniciativa de buscar o esporte foi da Anne, ela presenciou atletas praticando em Londres e aqui em Belo Horizonte entrou em contato com a Federação Mineira de Arco e Flecha, e o Evandro Azevedo, um dos instrutores credenciados, topou o desafio de treiná-la e hoje ela é a única mulher cadeirante credenciada em todo o Brasil! Em apenas três meses ela já participou do campeonato brasileiro e fez uma excelente pontuação. Mesmo sendo a única mulher, e obviamente ficando em primeiro lugar, ela seria segunda colocada se competisse com os homens. Parabéns Anne!
Testei minha mira no tiro com arco, achei bem divertido.
Os treinos acontecem ao lado do Mineirinho, na Pampulha, onde eles tem duas grandes áreas com a estrutura necessária para a prática do esporte. Há rampas para circular de cadeira, mas há um pequeno trecho de grama para chegar à área de treinos. Nada muito complicado para rodar, a grama é bem cortada. Eu também dei alguns "tiros" com o arco, e descobri que é bem mais difícil do que parece. À primeira vista, parece fácil esticar o arco, mirar e soltar a flecha, mas não é simples não. Para quem tem uma lesão medular então, é ainda mais complicado. E é aí que está uma das vantagens do esporte para nós, a necessidade de manter o corpo estável e equilibrado na preparação da flecha e na mira. Isto exige que a gente utilize toda musculatura existente de abdômen e quadril. Na ausência desta musculatura, é preciso compensar como puder. A Anne me mostrou uma técnica para "armar" o arco levantando-o para o alto antes de puxar a corda. Desta forma é possível conseguir um equilíbrio. Quem me instruiu foi o Denis, ele explicou os fundamentos básicos do esporte e o que um cadeirante precisa fazer para praticar. Ele tem muita didática e paciência, explica muito bem.
Momento em que a flecha saiu do arco... em direção ao céu!
Senti dificuldade em manter o corpo estável ao mesmo tempo em que segurava o arco e ainda precisava mirar. E deve ser bem por aí o treinamento, segurar o corpo, manter a respiração e focar no alvo. Gostei bastante da experiência, achei divertido, apesar de não ter acertado nenhuma flecha no alvo. Já tive uma pistola de chumbinho e treinava com alvo há muitos anos. Quem tiver interesse, pode procurar o pessoal lá no Mineirinho, os treinamentos são às terças e quintas pela manhã e à tarde, e nos finais de semana. Para mais informações, entrem no site da Federação Mineira (www.arcoeflecha.org.br) ou liguem para (31) 9362-7473, com Viviane. Tem ainda a página da Federação no Facebook. Obrigado à Anne e ao Denis pela introdução ao esporte!

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Curso de Mergulho Adaptado

Primeira turma de mergulho adaptado de Minas Gerais
No final dos anos 90, pouco depois que me formei em Viçosa, vim para BH, e, ao fazer um curso em uma faculdade daqui, fui convidado para fazer um trabalho de organização administrativa na Mar a Mar, uma empresa de cursos e material de mergulho, onde fui muito bem acolhido e fiz bons amigos. Desde então tive a oportunidade de conhecer de perto o mundo do mergulho autônomo, aquele com uso de cilindro de ar. Fiz algumas aulas nos momentos de folga mas não concluí o curso e não tirei a certificação, pois fui chamado para trabalhar no interior de Minas poucos meses depois. 
Quando sofri o acidente de moto que me deixou paraplégico, estava morando em Florianópolis. Uma das vantagens de morar naquele paraíso, cheio de belas praias e ilhas, era poder praticar o mergulho livre, com uso de máscara e respirador (ou snorkel), com mais frequência. Na época, conheci a cidade de Bombinhas, um balneário famoso pelos belos pontos de mergulho, um ponto de encontro de mergulhadores de todo o Brasil, o que voltou a despertar meu interesse pela atividade. Mas como o mestrado me tomava muito tempo, fui adiando o mergulho autônomo.
Aprendendo sobre o equipamento
Já cadeirante, após aquele período inicial de adaptação, voltei a fazer as atividades que sempre curti, voltei a pedalar com uma handbike, saltei de parapente, sempre buscando novas aventuras, e eis que no ano passado, em uma rede social (odeio quando alguém fala assim, foi no Facebook mesmo), a Adriana Buzelin, uma tetraplégica mineira, comentou que queria fazer um curso de mergulho adaptado e deu a ideia de montarmos um aqui em BH, pois só havia em SP. Muita gente opinou, eu disse que animava, que ajudaria a montar a turma, mas como a coisa não andou ela desistiu e partiu para São Paulo para fazer o curso lá, se tornando assim a primeira mineira credenciada pela HSA - Handicapped Scuba Association, a entidade que regula os cursos de mergulho para deficientes. 
Vestir a roupa de neoprene é bem difícil, só com ajuda
Pensei em fazer o mesmo, ainda mais que meus irmãos moram em São Paulo, mas como ainda tinha esperança de trazer esse curso para BH, fui até a Mar a Mar conversar com a Paula, proprietária, sobre essa possibilidade, e ela, depois de refeita do susto de me ver em uma cadeira de rodas, topou imediatamente o desafio, apesar da estrutura da empresa não prever acesso para cadeirantes. Demos uma rodada por lá e descobrimos que o banheiro da loja poderia ser adequado, invertendo a porta, e que as aulas poderiam ser dadas em uma salinha usada como oficina. O acesso à piscina seria feito pela lateral, onde há uma boa rampa. Paula mandou arrumar tudo, e fiquei por conta de conseguir os alunos.
Não foi fácil juntar a turma, tentei marcar uma vez, chamando algumas pessoas que tinham interesse, mas ninguém deu certeza, e em um encontro com um amigo, me lembrei que ele era mergulhador antes de ser cadeirante, e o chamei para o curso. Depois de trocar muita ideia com mais dois amigos pela internet, conseguimos fechar a turma! Na verdade a turma ficou maior do que eu imaginava, só tinha três confirmados e apareceram mais dois! Fechamos com cinco, eu, Gustavo, Gil Porta, Múcio e Brisa, esta última é repórter da Rede Minas e fez uma grande matéria para o quadro Ação Ilimitada, dentro do programa Mais Ação.
No curso a gente aprende os detalhes do mergulho autônomo voltado para deficientes, além de toda teoria da certificação básica da PADI. Aprendemos a manusear o equipamento, a manter o corpo flutuando, a nos comunicar embaixo d'água, e ainda como compensar a falta das pernas e como agir em alguma emergência. Foram quatro dias de teoria, no nosso caso foi na parte da manhã, e quatro dias de mergulho na piscina. Como o mergulho deve ser feito individualmente, dividimos o horário para que todos pudessem ficar pelo menus uma hora e meia na água. Foi muito bom voltar a sentir o corpo todo submerso, sem pontos de pressão, e sem limitações. Isto é o principal, já que um cadeirante está acostumado a encontrar obstáculos todos os dias, desde que levanta, e debaixo da água tudo isso some, a locomoção é fácil e não tem degrau ou buraco que nos impeça de "andar". O William Spinetti, instrutor da HSA que veio nos dar o curso, é um excelente profissional, com muita paciência ensinou a todos com as melhores técnicas e deu um show nas aulas, tanto teóricas quanto práticas. Agradeço aqui publicamente por ter vindo e nos ensinado com tanta dedicação. E também aos demais instrutores da Mar a Mar, que nos ajudaram bastante no aprendizado. E especialmente à Paula, que viabilizou o curso e tratou a todos com muito carinho.
Debaixo d'água que nem um peixe... sem nadadeiras traseiras!
Mas para mim, pessoalmente, a maior vantagem do mergulho adaptado é a possibilidade de fazer uma atividade recreativa, divertida e interessante sem ficar acabado ao final. Muito pelo contrário, o mergulho só me faz bem! Eu já vinha fazendo hidroterapia para controle da dor, pois a água relaxa o corpo e, sem a constante pressão da cadeira, a tendência é a dor sumir. E foi o que aconteceu! Eu saia das aulas de piscina totalmente relaxado e sem dores.
O mergulho é muito prazeroso, e apesar de não podermos contar com as pernas para ajudar a nadar, não cansa muito, pois o correto é nadar vagarosamente, admirando a vida marinha. É uma atividade de contemplação, quanto mais a pessoa "viajar" no ambiente, na experiência, melhor. Agora o próximo passo é fazer o "Check Out", ou batismo, no mar. Já estou de viagem marcada para Fernando de Noronha em novembro. Vou contar tudo aqui!
Sempre defendi aqui no blog que os cadeirantes podem fazer tudo que tem vontade, devem buscar realizar seus sonhos e desejos, independente do que seja, pois com adaptações, é possível fazer de tudo. E sempre defendi também que cadeirantes devem fazer esportes, atividades físicas e de lazer. E o mergulho é tudo isso junto!

Vejam o vídeo que o instrutor William Spinetti fez sobre o curso:

Abaixo link para matéria veiculada no MG TV da Rede Globo.
http://globotv.globo.com/rede-globo/mgtv-2a-edicao/t/edicoes/v/grupo-de-cadeirantes-aprende-tecnicas-de-mergulho-em-belo-horizonte/2870481/
Não deixem de ler a excelente matéria do Gil Porta, um dos alunos do curso:
http://www.bhlegal.net/blog/mergulho-adaptado/

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Desafio Intermodal

Melhor modal para cadeirante!
Todo ano acontece nas principais capitais do país o Desafio Intermodal, que apesar do nome complicado, nada mais é do que avaliar qual a maneira mais rápida, econômica e prática para se deslocar em um grande centro urbano. O deslocamento é realizado por voluntários em diferentes modais de transporte, individuais ou coletivos, motorizados ou não, que saem de um ponto de encontro combinado e vão até um determinado ponto na cidade, cada um com as facilidades e dificuldades de seu meio de transporte.
E esse ano fui convidado para participar. Pela primeira vez em BH chamaram um cadeirante, a ideia era perceber a diferença que a cadeira de rodas traria para o deslocamento, e qual alternativa um cadeirante tem para se locomover na cidade. Como a escolha era livre, optei pelo triciclo elétrico, que é um pouco mais largo que uma moto, tem boa autonomia da bateria, roda bem pelo asfalto e por ciclovias, e ainda pode pegar atalhos. O trajeto também era livre, e as pessoas podiam fazer uso de GPS.
Alguns participantes do Desafio Intermodal
O ponto de encontro escolhido foi a Praça Diogo de Vasconcelos, mais conhecida como Praça da Savassi, e os voluntários chegaram por volta das 18 hs, já que o horário de partida definido foi 18:15. A Poliana foi a responsável por checar se todos estavam presentes e monitorou a largada oficial. Tudo foi coberto pela Rede Minas de televisão, que filmou o pessoal saindo e foi até a chegada entrevistar o pessoal. Saímos pontualmente na hora programada e nos primeiros quilômetros acompanhei as bicicletas, depois uma delas sumiu na minha frente, e as outras ficaram para trás.
O trânsito estava tranquilo no início, mas quando chegou próximo à Via Expressa, o bicho pegou. Mas como o triciclo é tão estreito quanto uma moto com baú, consegui me enfiar nos corredores entre os carros e deixei todo o trânsito para trás. E ainda pude atravessar as avenidas com segurança e utilizar as ciclovias quando valia a pena.
Resultado final do Desafio Intermodal 2013
Trinta e um minutos depois de sair, cheguei ao ponto final combinado. Ainda perdi uns dois minutos na chegada, pois não lembrava onde era a portaria principal da PUC e fiquei parado na secundária, aí me toquei e continuei até o final. Fiquei quatro minutos atrás da moto. Mas o que surpreendeu mesmo foi o primeiro lugar, um atleta de ciclismo. Mais impressionante foi ele ter ficado longos sete minutos na frente do motociclista! Bicicleta é um excelente alternativa de locomoção, é um ótimo exercício e é prazeroso!
Só que, para cadeirante, handike não é uma alternativa legal no meio do trânsito. Primeiro, porque é baixinha, mesmo sinalizada, corre-se o risco de passarem por cima...  Segundo, porque é osso subir morro com uma handbike, e morro é o que não falta em BH. Andar de cadeira motorizada na cidade também é arriscado, já que não dá para andar em todas as calçadas, que tem árvores, degraus, buracos, muito menos nas ruas, pois corre-se o risco de também ser atropelado. A solução então é o triciclo elétrico! Como provado no desafio, é seguro, rápido e prático! Além de ecológico!!

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