quinta-feira, 26 de junho de 2014

Tatiana Rolim

O post de hoje é sobre a Tatiana Rolim, uma das autoras do livro Maria de Rodas, sobre a maternidade de cadeirantes, e autora do livro Meu Andar Sobre Rodas. Tatiana é um grande exemplo de mulher guerreira e atuante, tem muito para nos contar e se dispôs a falar sobre o universo feminino e tirar dúvidas das meninas aqui no blog. Bem vinda Tatiana!

Uma breve apresentação:
Tem horas que fico escolhendo palavras para sintetizar um extenso resumo do que tenho construído minha vida e quando me deparo vejo muitas linhas, muitos parágrafos para descrição de tudo que tenho me tornado nos últimos anos: psicóloga, escritora, consultora em inclusão, autora de livros, capítulos, parceira em blogs, palestrante, mãe e empresária. Mas nem por isto tudo deixo de ser quem realmente sou, uma mulher sonhada, batalhadora que acredita no valor do respeito ao próximo, que acredita na amizade e sobretudo no amor e na família, e tem fé.

Porque você é cadeirante e desde quando?
Às vezes me perguntam se eu não me canso de responder isto. Não, não me canso, porque para cada pergunta e cada forma como é questionada tenho uma resposta. Lembro-me que há 20 anos a mesma pergunta era sempre num tom ofensivo, invasivo, preconceituoso e eu nem bem terminava de responder a pergunta e a pessoa que já tinha uma cara de dó, de coitada, estas coisas da época, que hoje apesar de alguns anos parece que melhorou muito tanto da forma como perguntam como da forma de respondo. Não espaço para cara de dó, piedade e coitadismo. Há uma resposta do olhar da pessoa, de compreensão e respeito, ate porque praticamente quase todo mundo tem um deficiente na família e isto parece mais óbvio quando se pergunta, e já espera a resposta como sendo uma fatalidade, um acidente e não uma maldição como era no passado.
Assim, resumidamente, eu sou cadeirante há 20 anos quando fui atropelada por um caminhão na minha cidade, em Franco da Rocha, na época a empresa TRanscava não me ajudou com nenhum real e diante do processo todo quase inverte a situação. Mas nem por isto deixei de lutar e sobreviver apesar das sequelas. Tenho lesão medular, tive um traumatismo craniano leve, e uma dilaceração no braço direito que foi reconstruído com inúmeros enxertos, hoje sou totalmente independente, ando sobre rodas, como digo no meu primeiro livro: Meu Andar Sobre Rodas.

Que trabalhos você desenvolve atualmente?
Para chegar no atualmente não posso omitir meu passado, iniciei logo depois do meu acidente alguns trabalhos na fundação Casa e também atendia algumas empresas desde 1980 sobre como contratar pessoas com deficiência, com palestras de sensibilização ou apoio no recrutamento e seleção. De lá para cá retomei alguns trabalho com moda inclusiva que fazia antes do acidente com apoio da produtora Fátima Latarulla, isto foi abrindo alguns caminhos que me levaram a conduzir a tocha olímpica de Atenas no Brasil, disto criei uma bonequinha da inclusão e segui outros planos de estudos na área de reabilitação, onde atuei por 10 anos como psicóloga num centro de reabilitação. Fui me consolidando na área clínico com estudos, pos graduações ,especializações da área etc, E mantinha os trabalhos de consultoria e palestras ate que com o nascimento da minha filha optei pelo empreendorismo e assim nasceu a TRinclusao que é uma consultoria para palestras, treinamento, desenvolvimento e vagas para pessoas com deficiência. Matenho a rotina intensa do trabalho na TRinclusao, onde tenho uma sócia que não é pessoa com deficiência e ama oque faz e com isto mantenho meus trabalhos literários, já escrevi outro livro Maria de Rodas, falando da maternidade, gestação e a espera da minha filha. O livro nasceu quando engravidei e em paginas após paginas tinha um livro pronto e convidei mais meninas para a realização do projeto, que graças a elas tomou um rumo nacional. Atualmente escrevo mais 3 livros, e espero conclui-los brevemente e desde na conto com a presença dos colegas do blog, heim. O assunto?? É segredo, vão ter que me acompanhar por aqui...

Quais os principais desafios que você enfrenta?
Apesar de tanto trabalho, a minha vida é igual a de qualquer pessoa com deficiência, em especial que more na periferia de SP, morei alguns anos em sp, onde algumas barreiras eram minimizadas pelo fácil acesso ao metrô, a calçadas menos esburacadas da Av Paulista, mas nem por isto plenamente acessível. Estou de volta a minha terra, em Franco da Rocha depois de 13 anos fora da cidade. E enfrento as mesmas dificuldades da vida de uma pessoa com deficiência. Ônibus sem elevadores ou quando tem elevador não tem manutenção ou quando tem manutenção não tem treinamento para o funcionário, quando tem tudo isto o funcionário é mal educado e assim vai. Recentemente tive uma situação ao ir no supermercado da região: SAITO supermercado, o guichê especial para cliente especial simplesmente o carrinho de compras não passa no vão do caixa. Quem era especial mesmo??? Nem a compra né. Dai tem todo aquele transtorno, meu carrinho nem o carrinho de ninguém passa la, e o povo da gestão sem nenhum preparo, você explica , pede, expõe o problema e a pessoa acha que você esta pedindo um favor. Isto sem dúvidas é desgastante. Sou da era que brigávamos para ter um ônibus acessível, uma calçada rebaixada e agora que temos muito destas conquistas temos que brigar pelo direito ao uso, pelo respeito aos locais reservados e la vai um montão de historias assim ....
Por outro lado, enquanto consultora enfrento as dificuldades de mostrar ao cliente que todas as pessoas com deficiências tem os mesmos direitos a vagas de emprego, e isto tem sido um grande desafio, mas tenho certeza que vamos chegar num grau de sucesso, atingir uma proximidade com a oportunidade de igualdade reconhecida ...

Como você vê as questões da inclusão no Brasil?
É como disse anteriormente, péssimos tempos eram os 10,15, 20 anos que não existiam ônibus adaptados, calçadas acessíveis. Lembro de um vez que eu estava na Avenida Ibirapuera, isso tem uns 18 anos atrás e eu nunca tinha andado de ônibus com elevador. Então, quando eu vi, não perdi a oportunidade, dei sinal e o melhor, ele parou!! Foi incrível, o elevador funcionou, então eu não puder perder a viagem nem sabia para onde ele ia e segui viagem, fui parar no final do terminal Santo Amaro, e para voltar não tinha ônibus adaptado, claro. Hoje vejo a facilidade com que as pessoas podem se locomover sem perder tanto tempo de espera do carro/ônibus, fazer seu trajeto de quase três horas para passar no ponto e levar uma pessoa com deficiência ao seu trajeto. Isto sem dúvidas são ganhos que merecem esta oportunidade de serem citadas aqui no blog, especialmente porque ao meu ver temos outro regresso com isto. Tem pessoas que não querem enfrentar os desafios de hoje para ir em busca de trabalho. Eu gastava cerca de três horas para sair de casa (Franco da Rocha), pegar um ônibus, um trem, um metrô, outro ônibus para um trajeto de quilômetros de distância para trabalhar e estudar. Hoje, quando ligamos da TRinclusao para oferecer vagas para pessoas com deficiência, tem gente que aponta inúmeras dificuldades. Daí reflito: Dificuldade?? O que era então brigar com um motorista de ônibus que não aceitava conduzir cadeirante? E a pessoa diz, eu tenho uma deficiência (um braço a menos) e não aceita ir trabalhar longe de casa... Parece que estamos evoluindo por um caminho e retrocedendo por outro, do comportamento humano, não só pessoas sem deficiência que ocupam vagas reservadas mas também de uma determinada camada da categoria da pessoa com deficiência

Fale um pouco sobre o desafio de ser mãe cadeirante.
Inúmeros, enquanto mãe e mulher separada numa sociedade como a nossa;mas as delicias são tantas que as barreiras se tornam pequenas. Naturalmente que a falta de acessibilidade se torna uma barreira quando por exemplo tive que acompanhar consultas ao pediatra e não pude ir porque o consultório era no piso superior e o cidadão não descia por se julgar estudado demais ate ser denunciado e fazer seu papel profissional de igual pra igual, ou quando certo domingo num parque destes de cidade pequena, fui com minha filha num parquinho, num circo e cai com a cadeira de rodas porque tinha um fio exposto no chão que poderia ter derrubado qualquer um. Ahh, estas coisas são chatas. Mas eu sou atrapalhada mesmo, cairia mesmo que estivesse andando , sabe, mas não custa né, ajeitar o fio considerando a segurança das pessoas. Fora isto o desafio tem sido diário na educação, nos valores diante de uma sociedade da geração funkie sem coca cola.

Como você vislumbra o futuro para as pessoas com deficiência?
Certamente não com robocops como a ciência exibiu a pouco tempo na copa. Eles servirão para outras coisas, terá sua finalidade de alguma forma. Imagino uma sociedade aonde as pessoas poderão ser respeitadas pela sua classe, pela sua cor, pela sua deficiência, assim como quando o garotinho entrou segurando na mão de um dos jogadores usando suas muletinhas mas tinha o cadarço desamarrado e o jogador abaixou-se e arramou. Isto é respeito, é diversidade.

Deixe um recado para todas as pessoas com deficiência.
Bora em frente que tem muita coisa para ser conquistada, emprego, inclusão, amor, acessibilidade , mas não se luta sozinho, temos que ter pessoas que ergam a bandeira da missão e o valor da inclusão.
Tenho super orgulho de ter uma leitora que hoje é uma militante da causa, Claudinha Borge e assim vao nascendo e se criando novos militantes, na minha apesar do pouco recurso de mídia já tínhamos gente bem engajada na causa e hj sou fruto daquela geração e vou deixando caminhos para os próximos, embora eu ainda tenha mais uns 10,20 anos de trabalho por nós pessoas com deficiência 

Tatiana Rolim
www.trinclusao.com.br
Para envio de currículos e vagas de emprego em SP: currículo.trinclusao@gmail.com
"Trabalhamos com palestras, treinamentos e a Inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho valorizando suas competências!"

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