sexta-feira, 25 de março de 2016

Regulagens na cadeira de rodas

Com um jogo de chaves Allen é possível regular grande parte das peças de uma cadeira de rodas.
Deixar a cadeira na medida certa e plenamente confortável é um desafio e pode levar anos. Um dos principais motivos é a dificuldade de encontrar profissionais que saibam fazer todas as regulagens necessárias. A alternativa que temos é aprender por conta própria a mexer e regular nossas cadeiras. Porém, muita gente tem dificuldade em segurar a cadeira e apertar determinados parafusos, se este for seu caso, será preciso a ajuda de alguém. Mas de qualquer forma, temos que aprender!
Antes de mostrar as possíveis regulagens, a dica que dou é regular a cadeira toda na hora da compra, junto ao vendedor. O problema é a dificuldade de encontrar lojas dedicadas a cadeiras de rodas, ainda mais que tenham profissionais capacitados para fazer as regulagens corretas. Minha sugestão é viajar até uma cidade que disponha disto, como São Paulo ou Rio, para fazer um test drive na cadeira que deseja adquirir e regular ela corretamente para maior conforto. A Reatech é uma boa oportunidade para fazer o test drive, só que já fiquei sabendo que este ano não terá!
Se não conseguir fazer nada disto, a sugestão é adquirir uma cadeira que tenha muitas opções de regulagens e levá-la a um fisioterapeuta que entenda de cadeiras de rodas ou ao Sarah, que na minha opinião é o melhor lugar para isto. O importante é deixar a cadeira bem ajustada para sua deficiência e tamanho. Uma cadeira mal ajustada pode trazer sérios problemas futuros – e a gente sabe que problemas nós cadeirantes já temos o suficiente.
Fiz três vídeos mostrando alguns ajustes que fui aprendendo a fazer ao longo tempo – frisando que só consigo fazer isto por ter quase dez anos de lesão e ter estudado bastante o funcionamento destas nossas parceiras!

sábado, 12 de março de 2016

Transferências

Utilizando a técnica certa é possível ganhar muita autonomia fazendo transferências
As transferências fazem parte do dia a dia da maioria dos cadeirantes. Quanto melhor o cadeirante fizer as transferências, mais independente ele será, e terá mais qualidade de vida. Porém é uma atividade que envolve riscos, pois uma queda durante uma transferência pode trazer sérios problemas. Por isto é preciso utilizar algumas técnicas para fazer as transferências com segurança.
O primeiro lugar que nos ensina a fazer transferências com rapidez e segurança é o Sarah. Lá aprendi as primeiras técnicas, e no dia a dia desenvolvi mais formas de transferir. No Sarah aprendemos o básico, transferir da cama para a cadeira, da cadeira para o carro, da cadeira para o vaso sanitário e vice versa. No dia a dia aparecem mais desafios, como transferir para a poltrona de um avião, para uma cadeira de banho com braços fixos, para cadeiras de escritório com rodas, para um banquinho para tirar radiografia e por aí vai. Já fiz cada transferência que muita gente duvida.
A tábua de transferências ajuda quem tem dificuldades
Com a técnica certa, é possível transferir para quase qualquer lugar. Só que não há uma técnica que sirva para todos, pois cada cadeirante tem suas limitações e características. Por isso desenvolvi uma teoria das transferências, que pode te ajudar a encontrar a técnica certa para você. Há pessoas, porém, que não conseguem fazer transferências por falta de força nos membros superiores. Nestes casos, podem ser utilizadas as tábuas de transferência, para escorregar o corpo até o local desejado.
Eu divido as transferências em três etapas: aproximação, preparação e transferência. Na aproximação, o cadeirante estuda as características do lugar a transferir e chega o mais próximo possível dele. Nesta etapa a cadeira de rodas deve ser posicionada em um ângulo em que a quina do assento dela fique o mais próximo possível da borda para onde se está transferindo. O que atrapalha nesse caso é a roda dianteira da cadeira, pois ela limita esta aproximação. Deve-se procurar entrar com a roda dianteira embaixo do assento para a aproximação ser mais eficiente.
Transferência para cadeira de banho é um exemplo de necessidade diária
Na etapa de preparação, o cadeirante faz o posicionamento do corpo para fazer a transferência com segurança. Nesta fase eu jogo o corpo para a frente, perto da beira do assento da cadeira de rodas e coloco um pé no chão. Então, apoio uma mão próxima ao centro da outra cadeira e a outra mão próxima também ao centro da cadeira de rodas. A ideia é centralizar os pontos de apoio para que não haja desequilíbrio no meio do caminho, por isso fica um pé na cadeira e outro no chão, e as mãos próximas ao centro das duas. 
Na transferência propriamente dita, jogo o corpo direto no alvo, e aí pego as pernas e faço o ajuste. Este movimento deve ser feito somente se o cadeirante sentir segurança no equilíbrio, pois é aí que está o maior perigo de queda. Dependendo do equilíbrio, é possível fazer a transferência lentamente, garantindo que o corpo chegue com segurança no destino. Mas muitas vezes é preciso fazer mais rapidamente para evitar que um espasmo ou desequilíbrio comprometa a transferência. Quem define a velocidade e forma de realizar a transferência é o próprio cadeirante. E para atingir a técnica correta, somente com a prática. O que não pode é ficar com medo de transferir, pois esta prática ajuda muito a ter mais independência.

terça-feira, 8 de março de 2016

Pai Quarentão Cadeirante de Gêmeos

Virar pai foi mais um sonho que realizei!
Ser pai é uma decisão complexa. Colocar um filho no mundo hoje em dia, com tantos problemas sociais, tanta violência, tantas possibilidades de desvio de caráter, desanima muita gente. Se há alguma limitação no casal então, como idade avançada ou alguma deficiência, desanima mais ainda. 
Pois é, muitos homens tem receio de se tornarem pais depois dos quarenta. Acham que não vão dar conta de acompanhar uma criança com toda sua vitalidade, não vão conseguir correr atrás deles e nem brincar o tanto que deveriam. Eu já não consigo correr atrás de ninguém mesmo, então nesse ponto eu nem preocupo! Muitos homens tem mais receio ainda de se tornarem pais sobre uma cadeira de rodas, já que há algumas dificuldades a mais da vida de cadeirante, não dá para carregar o filho enquanto toca a cadeira, é possível complicações de saúde como infecções e internações e todas as limitações que todos nós já conhecemos.
E todo homem têm pânico de ter gêmeos! O trabalho é dobrado, o gasto é dobrado, e não dá para fugir do "trabalho". Se os dois chorarem ao mesmo tempo, o homem tem que cuidar de um enquanto a mãe cuida do outro. Mas vocês acham que eu tive algum receio para entrar nessa jornada? Negativo operante. Eu sempre quis ser pai, sempre gostei de crianças, me dou muito bem com elas – afinal, ainda não deixei de ser uma!
Não tem preço curtir estes projetos de gente!
Depois que consegui convencer minha mulher a ter filhos – não que ela estivesse preocupada se eu ia dar conta ou não, ela que não queria mesmo – mas agora está super feliz com a decisão! Eu sabia que haveriam desafios. Quanto a ser quarentão, isso não me preocupava, afinal sempre tive muita vitalidade e empolgação. O que me preocupa quanto a “aguentar o tranco” é minha dor crônica. Sim, além de ser cadeirante e quarentão, sofro de dor crônica. Fiz uma cirurgia há pouco tempo mas ainda não senti nenhuma melhora. E ainda sinto dores todos os dias, 24 horas por dia. Tento esquecer a dor, e não deixo de ajudar a Gi nem de curtir os meninos por causa dela.
Quanto a ser cadeirante, já enfrentei tantos desafios sobre uma cadeira de rodas, já me adaptei a tanta coisa, que não haverá problema em me adaptar a mais isto. Além disso, me inspirei em vários amigos cadeirantes que já são pais, todos eles me deram dicas e exemplos do quanto é tranquilo lidar com a cadeira e a paternidade. No fim das contas, como tudo na vida de um cadeirante, é possível adaptar-se para levar a paternidade sobre rodas. Adaptei o quarto deles e estou usando alguns macetes para lidar com eles. No vídeo acima eu mostro um pouco disso!

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...