quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Cadeirante sente prazer?

Tá bom pra você?
Essa é umas das primeiras questões que vem à cabeça de uma pessoa quando ela vira cadeirante. Principalmente quando ela sofre uma lesão medular. A impressão que se tem é que a vida sexual acaba depois de uma lesão na coluna, afinal perde-se os movimentos e sensibilidade da lesão para baixo. Eu mesmo já pensei isso há muitos anos, vendo um cadeirante. "Perder os movimentos é complicado, mas deve ser triste ficar sem vida sexual". Felizmente, eu estava enganado. Vou falar nesse post do ponto de vista masculino, pois posso falar por experiência própria.
Em primeiro lugar, nem todos os movimentos são perdidos. A ereção ainda ocorre na grande maioria dos casos, de maneira involuntária e reativa, mas relativamente normal. A duração é que vai diminuindo. No início, pelo menos no meu caso, ocorreu o contrário. A ereção durava muito tempo. Enquanto houvesse "atividade", ele continuava lá, firme e forte. Com o tempo, a duração foi diminuindo, diminuindo, e ainda hoje é menor que o normal. Mas é só ter paciência, estimular novamente, que volta a ficar animadinho. Mas muitos cadeirantes tem dificuldade em manter e só conseguem a ereção com remédios. Isso não é vergonha para ninguém, é só uma condição, que felizmente tem "cura". Mas esse post não é sobre ereção, e sim sobre prazer. Só aproveitei para falar um pouco disso.
Acontece que o prazer não é dependente da ereção. Para os homens, é difícil entender isso, pois ligamos muito o prazer à ereção e à ejaculação. E temos a falsa impressão que só é possível dar prazer a uma mulher se a ereção ocorrer. A verdade é que prazer é muito mais do que isso. No homem o orgasmo está muito ligado à ejaculação, e os lesados medulares descobrem o que as mulheres já sabem: há outras formas de sentir prazer e chegar ao orgasmo. Um dos maiores responsáveis por ela é o cérebro, e isso não é afetado pela lesão. Então o prazer começa na imaginação. Por isso é importante que as coisas aconteçam da forma mais normal possível, com sexo oral, toque, amassos e tudo mais. Tem mulher que não vê sentido em fazer sexo oral no homem que tem lesão porque ele não está sentindo. Mas está vendo, e assim estimula o cérebro e busca o prazer.
Além disso, podemos buscar prazer na sensibilidade da pele, que no caso de um lesado medular, se limita, ou é mais nítida, na área acima da lesão, geralmente parte do tronco, braços e cabeça. E nessas áreas há muitas formas de sentir prazer, não só com os sentidos que citei. No quesito pele, podemos explorar áreas erógenas pouco exploradas pelos homens, como nuca, pescoço, braços, e principalmente, mamilos, que já tem uma sensibilidade maior. Me lembrei da "aula" sobre sexo no Hospital Sarah. Tinha um cara lá meio machista, mas engraçado. A médica explicou isso que falei acima, que seria importante explorar outras zonas erógenas, como cabeça, nuca, mamilos... e o cara solta: "quer dizer então que todos nós viramos moças?" Tive que rir! E completei: "é cara, agora que vai mamar no peitinho é a mulher!" kkkkk
Então, como todo mundo, cadeirante também sente prazer. Ouvi falar de casos de tetraplégicos que vão à loucura só com carinhos na nuca. Independente da limitação que seja imposta ao nosso corpo, é possível sim encontrar formas de sentir prazer. Cabe a nós explorá-las. Não falei sobre o caso das mulheres porque não tenho muito conhecimento mesmo, mas creio que seja até mais fácil do que os homens, pois elas já tem o hábito de explorar outras áreas. Então é isso, relaxa e goza!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

M3 X TiLite ZR

O que é melhor, cadeira top e bolso vazio ou cadeira semi top com troco?
Afinal de contas, vale a pena gastar o valor de um carro usado em uma cadeira de rodas só porque ela é mais leve? Depende. Do uso, em primeiro lugar. Se o cadeirante é uma pessoa ativa, que sai de casa todo dia, seja para trabalhar ou fazer esportes, e dirige, roda pra todo lado, enfrenta morros e descidas, a resposta é sim. É importante ter uma cadeira bem leve para minimizar o esforço na hora de guardar no carro sozinho (esse foi o principal motivo que me fez trocar) e na hora de tocar.
Mas se o cadeirante não for tão ativo assim, será que uma monobloco nacional, como a M3, não resolve? Sim, resolve. A M3 ainda é uma excelente cadeira, e os problemas que eu enfrentei com ela são facilmente resolvidos. As rodas dianteiras, que se "dissolveram", troquei por um par de Frog Legs e nunca mais tive problemas. Os encaixes dos para lamas, que quebraram com pouco tempo de uso, a própria fábrica me mandou novos feitos de alumínio, que não quebraram mais. O encosto, tive um pouco de culpa na quebra, pois eu tenho o costume de apoiar as costas quando me visto. Quebrou duas vezes e agora está durando.
Mas vamos aos números, nas medições das minhas cadeiras (tamanho 44 na M3 e 17" na TiLite):
- Peso da Tilite sem as rodas e almofada: 7,5 Kg
- Peso da M3 sem as rodas e almofada: 10 Kg
- Peso das rodas originais da TiLite com eixo, câmara e pneus: 1,6 Kg cada;
- Peso das rodas X-core 3 da M3 com eixo e pneus maciços Shox: 2,2 Kg cada;
- Almofada Roho: 1,4 Kg.
Em resumo: Ti Lite completa: 12,1 Kg X M3: 15,8 Kg. Ou seja, a primeira é 23% mais leve que a segunda. Considerando só o quadro, são dois quilos e meio a menos, um quarto do peso a menos. Isso faz diferença na hora de guardar no carro.
E a TiLite é mais bem feita. Parece um projeto mais "redondo", menos sujeito a folgas e empenos. Ela é mais estável e transmite mais segurança nas transferências. Nada exageradamente melhor, mas nota-se a maior qualidade.
Mas e o preço? Uma TiLite básica no Brasil saí por volta de R$ 10.000,00. Uma M3 básica parte dos R$ 3.415,00 (nunca entendi esses 15 reais). Portanto a M3 custa 34% do valor da TiLite.
Quem ganha o embate? Na minha opinião, a M3, pelo custo/benefício. É uma cadeira bonita, regulável, leve e prática. Não dá para comparar com uma dobrável, por exemplo. Além da praticidade, traz alta estima ao cadeirante. Ou seja, só acho que vale a pena gastar essa bolada na TiLite se você for um cadeirante muito ativo e exigente, que faz questão de leveza. Depois dela, o que vai ficar leve mesmo é o seu bolso...

Em tempo: vale a pena mesmo é ir aos EUA buscar uma TiLite. Abaixo discrimino os gastos que tive na viagem, contando os gastos da minha mulher e os ingressos em parques.
- Duas passagens aéreas ida e volta para Orlando: 25 mil milhas mais 950,00 reais cada, 1.900,00;
- Sete dias de hospedagem no hotel Radisson: 2.000,00;
- Aluguel de carro por uma semana: 1.100,00;
- Alimentação, ingressos e outros: 1.000,00
Total: R$ 6.000,00, sendo que a cadeira TiLite lá custa US$ 2.250,00 = R$ 4.837,50 (dólar a R$ 2,15).
Resumindo, pelo preço da cadeira no Brasil mais mil reais, eu e a Gi passamos o reveillon em Orlando, curtimos os parques, conhecemos vários lugares e nos divertimos bastante. Sem contar as compras que fizemos lá, roupas e eletrônicos custam metade do preço daqui. Isso sim, vale a pena!

sábado, 19 de janeiro de 2013

Avaliação da TiLite ZR

Titânio na veia!
Agora sim, a avaliação da minha cadeira nova! Afinal, foi pra isso que fui a Orlando, nos EUA. Só que rolou uma leve tensão antes da cadeira chegar... Pedi com a antecedência necessária, estava tudo certo, ela chegaria pouco antes de eu chegar ao hotel. Mandei até e-mail avisando ao pessoal de lá. Mas cheguei no sábado, e não tinha chegado ainda. Veio a segunda feira, dia 31/12, não imaginei que fosse chegar mesmo. No dia primeiro, muito menos, feriado. Mas dia 2 era pra ter chegado. No dia seguinte comecei a preocupar, afinal eu ia embora no dia 5, sábado, de manhã cedo. Comecei a despachar e-mails e mensagens para o Dado, do site Mão na Roda, que me ajudou na compra. Sexta feira, véspera de ir embora, desci para a recepção de manhã e... nada! Fui para a sala de computadores do hotel, e já estava escrevendo mais e-mails desesperados, quando de repente olhei para a portaria e lá estava a enorme caixa estrito TiLite do lado! Ufa!
A bichinha é muito bonita
Mas vamos à avaliação da cadeira. Os principais motivos para comprar a TiLite foram facilidade para guardar no carro e mais resistência, já que minha M3 andava com uns probleminhas chatos, como quebra de alguma peças e empeno da roda dianteira. E ela superou as expectativas. Bem mais leve que a M3 (2/3 do peso dela), na hora de pegar para guardar dá para sentir uma grande diferença. E de fato ela é mais bem construída que a M3, mais firme e mais estável. Também achei ela mais ágil, por ser um pouco mais curta, apesar do centro de gravidade da roda traseira ser um pouco mais para trás. O segredo é o apoio de pés virado para dentro.
Barra para descer o encosto
Gostei muito também da forma de dobrar o encosto, empurrando uma pequena barra em direção ao encosto. É difícil de acostumar no início, mas depois que peguei a manha achei mais fácil do que o cabo de aço da M3. É mais resistente, o da M3 vivia estourando as argolas que prendem aos encaixes. Mas a grande vantagem é que ele trava o encosto fechado, impedindo que fique abrindo quando alguém pega a cadeira por ali. Acontecia muito na M3, e era um transtorno, a pessoa tinha que colocar as rodas de novo para fechar o encosto.
Protetor de roupa, não curti
Mas teve uma coisa que eu não gostei. O protetor de roupa. Na M3, ele é como um para lamas mesmo, se abre para cima para facilitar a transferência e dobra para dentro para guardar. E aguenta o peso da pessoa, o que é útil para vestir roupa e fazer elevação. O da TiLite é de alumínio e só dobra para dentro, o que torna difícil a transferência. A ideia é aprender a transferir com ele levantado, chegando bem na beirada da cadeira para isso. Se o protetor fosse menor, dava para fazer, mas ele é muito grande, e está difícil acostumar. Eu acabo usando a maior parte do tempo eles dobrados, e a roda fica raspando na roupa. Vou acabar trocando.
Freio original à esquerda e Scissor instalado à direita
Outros pontos fracos dela, o freio e as rodinhas dianteiras. Os freios são de plástico e aparentam fragilidade, e as rodinhas vão pelo mesmo caminho. Felizmente o Dado havia me alertado destes poréns. Então já pedi junto com a cadeira um par de freios do tipo Scissor, daqueles que ficam embutidos embaixo da cadeira. São mais difíceis de acionar, mas é questão de costume. Além deles, comprei também um par de rodas dianteiras Frog Legs, que nem as que tenho na M3. São bem melhores, e lá fora o preço é ótimo, cinquenta dólares o par. No próximo post vou fazer um comparativo dela com a M3, com prós e contras.
Agora, como disse um amigo meu, troquei a Ferrari vermelha por uma McLaren prata!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Parques de Orlando para cadeirantes

Um palhaço embaixo do outro!
Continuando a saga do post anterior, vou contar hoje sobre os passeios nos parques de Orlando. Aquela cidade deve ser a capital mundial da diversão, pois tem tanto parque em volta que é difícil não esbarrar em algum. E eu adoro parque de diversão e brinquedos emocionantes, principalmente montanhas russas. Pensando nisso, escolhi o hotel em local bem central em relação aos parques, de forma que não seria muito complicado me deslocar até eles.
Essas baleias precisam de um regime
O primeiro que visitei foi o Sea World, lar da famosa Shamu, a baleia orca. Minha namorada ficou com receio de ir neste parque, pois falei que ia largar ela lá com as priminhas baleias! Mas resolvi trazer ela de volta. Chegamos ao parque e me direcionaram para a área de vagas preferenciais, apesar de eu não ter a credencial deles. Nesses casos basta explicar que é deficiente e que o carro é alugado. O estacionamento fica bem na entrada do parque, fácil de chegar. O primeiro local visitado foi um elevador muito alto que sobe girando e fica rodando lá em cima para apreciar a vista. Sobe e desce bem devagar, e é totalmente acessível. Tem um lugar próprio para cadeira de rodas, sem bancos, e com um vidro grande na frente. Vale pelo visual.
Vista do elevador do Sea World
Outro brinquedo que fui foi a montanha russa Manta, em que você fica pendurado. Para subir nela não foi muito difícil, ela para quase na altura da cadeira e com ajuda da Gi subi facilmente. A única dificuldade é o apoio que fica entre as pernas, mas basta sentar de lado nele e puxar o corpo. Foi bem divertida. Aqui um aviso: eles não encostam a mão em você para ajudar. De jeito nenhum. Se você precisar de ajuda, leve seus ajudantes, pois mesmo se você estiver estribuchando no chão eles não te ajudam. É orientação interna, não tem jeito.
Show dos golfinhos. Uns fofos!
Depois fomos para as atrações aquáticas, começando pelo show da Shamu. Há uma pequena subida, e o local para deficientes fica no meio da arquibancada, com boa visão do show. Muito impressionante ver aqueles bichos enormes saltando do tanque e espalhando um tanto de água pra todo lado. Quem fica nas primeiras fileiras se molha.
Depois fomos ver os golfinhos. Tem entrada separada para cadeiras de rodas, com uma longa subida, e o local para deficientes é na última fila. É meio longe, mas dá para ver bem o show. E tem um banco específico para o acompanhante. Gostei mais do que o da Shamu, há também muitas aves no show, muito bem treinadas, que dão um colorido para a atração.
Será que consigo correr dele?
No dia seguinte, fomos para o Universal Resort, que compreende dois parques, Adventure Island e Universal Studios. Este último foi o que mais gostei. Tem uma montanha russa muito animal, a mais radical que fui na minha vida. Começa a 90º e depois desce por uma pista incrível, com várias piruetas e força G para todo lado. No outro parque também tem uma montanha russa absurda, do Incrível Hulk, e a Dragon Challenge, além de dezenas de outros brinquedos bacanas. Passei arrego nas montanhas russas, mas não por causa da emoção, mas sim para entrar e sair delas. Numa delas, minha perna dobrou e fiquei por cima dela, felizmente não chegou a machucar muito, mas ficou doendo o resto do dia. E os caras não ajudam mesmo, de jeito nenhum, eu só tinha um amigo que foi junto para ajudar. A dica que dou é procurar brasileiros na fila (geralmente tem muito) e pedir para ajudar se for o caso. Ou então não andar em brinquedos em que a transferência seja difícil.
Uma foto com o maquinista do Harry Potter
Alguns brinquedos são adaptados para cadeirantes. Caso do Jurassic Park River Adventure, um passeio de barco entre os dinossauros que termina em uma descida radical na água. Eles colocam uma estrutura de plástico sobre o barco e elevam o assento, e dá para transferir até ele numa boa. Outro adaptado é a montanha russa Big Thunder Mountain Railroad, no Magic Kingdom, da Disney.
Finalmente eu fui conhecer o Mickey!
O Magic Kingdom eu fui porque não dá para ir a Orlando sem ir na Disney. Nem que seja só para ver de perto. Vale a pena, apesar de ser mais voltado para crianças. Porém, é nesse parque que tenho a dica mais importante: não vá na Space Mountain. É uma montanha russa dentro de uma estrutura branca enorme, e lá dentro é tudo escuro, só dá para ver falsas estrelinhas no céu. O problema dela é a forma de segurar o passageiro: uma estrutura em "T" que desce sobre as pernas. Portanto, além de segurar no negócio, a pessoa se segura também forçando as pernas por baixo do "T". E nós não temos força nas pernas. Portanto,  a não ser que você abrace o negócio, não recomendo. Eu quase saí para fora do carrinho na primeira curva, pois não estava segurando bem e minhas pernas estavam abertas. O resto da viagem, segurei fortemente no "T", mas fiquei bem cansado ao final. Tudo bem que é o brinquedo mais radical do Magic Kingdom, mas não compensa o risco. Devia ter um cinto de segurança para cadeirantes.
Carrinhos da Space Mountain: perigosos
Enfim, foram três dias de parques. Mas ainda foi pouco, não consegui ir no Epcot Center nem no Busch Gardens. Valeu a pena, mesmo precisando de ajuda em alguns brinquedos e passando arrego em outros. Depois que cheguei aqui descobri um site muito bacana com informações muito úteis sobre os parques: Viajando para Orlando. Convém a visita.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Reveillon em Orlando

Em grande estilo na Universal Studios
Hoje começo a contar sobre a viagem propriamente dita, as dicas para curtir mais e os desafios que um cadeirante enfrenta numa viagem dessas. Como a maioria dos cadeirantes que viaja para fora do Brasil, tive a mesma impressão: lá fora a coisa funciona. A acessibilidade é levada a sério. Mas houve um detalhe que me incomodou: não tem muito esse negócio de prioridade em fila não. Em muitos lugares, inclusive parques, cadeirante pega fila como todo mundo, não há fila especial. Mas eu até entendo um pouco, lá tem tanto cadeirante que a fila ficaria maior. Mas nos parques seria bom, porque as filas costumam ser enormes, ainda mais nessa época do ano.
Fila de cadeirantes no aeroporto de Orlando
Para terem ideia de quanto cadeirante tem por lá, essa foto aí de cima é da fila de cadeirantes no Aeroporto Internacional de Orlando. Lá há fila especial, mas é tão grande quanto a normal. Mas tem muita gente que só usa cadeira de rodas porque está velho ou gordo. Cheguei ao aeroporto e desembarquei como sempre, depois de todo mundo sair do avião, mas felizmente pelo finger. As malas quase não demoraram e logo segui para a área das locadoras de veículos. Alugar um carro por lá é fundamental, pois o esquema é tipo Brasília: tudo muito plano, mas tudo muito longe. O ideal é fazer a reserva antecipadamente pela Internet, usei as dicas desse link e fui direto na página das locadoras. O importante é verificar se a locadora tem base no aeroporto, senão pode ser necessário pegar um táxi só para buscar o carro. No meu caso, foi só atravessar uma rua.
Banheirão americano, motor forte e bastante espaço
Aluguei na Avis, foram superatenciosos comigo, me ligaram várias vezes confirmando como era o carro e ainda me deram upgrade. Pedi carro com adaptação do lado esquerdo e chegando lá estava tudo no jeito, um Impala LTZ com rodas 18", teto solar e porta malas enorme. A grande maioria dos carros tem câmbio automático, o que facilita para um deficiente. O importante é verificar se a adaptação vai ser do jeito que você está acostumado e se vai ter um porta malas bom o suficiente para malas, cadeira de rodas e o que mais você levar. Nota interessante: vi postos de combustível com bomba adaptada para deficiente, toda mais baixa.
Hotel Radisso, bem localizado e confortável
Outro ponto importante é o hotel. Para não gastar muito com gasolina, o ideal é pegar um hotel em local central, preferencialmente os que ficam na International Drive, uma avenida que passa por parques e Shopping Centers. Claro que depende do seu objetivo, se quer ir nos parques da Disney, pode ficar dentro de um hotel do complexo, há vários por lá. A vantagem de ficar fora do parque é poder ir em outros com liberdade. Eu escolhi o hotel Radisson, foi o melhor custo benefício que encontrei, bem central e de fácil acesso. Reservei pelo Booking, avisando que precisava ser quarto adaptado, mas recomendo mandar um e-mail para o hotel reafirmando esta necessidade, foi o que fiz.
Quarto enorme e equipado, e duas camas para escolher
O quarto é muito amplo, como geralmente são os hotéis nos EUA, e tem duas camas de casal, TV de LCD de 42", microondas, frigobar e cafeteira. Lá é comum o hotel não oferecer café da manhã, por isso o quarto é tão equipado. O negócio é ir ao supermercado mais próximo e fazer uma boa compra para garantir o café e o lanche no fim da tarde.
Tá se achando numa Ferrari!
Os supermercados lá são gigantes, e totalmente acessíveis. Todos que fui tem carrinhos elétricos para usar, e você pode deixar sua cadeira no local. Costumam ter até farmácia, mas aqui vai uma dica importante: leve todo o material de cateterismo para o tempo que for ficar, pois lá eles só vendem com prescrição médica coisas como sondas e xilocaína. Ou então leve a prescrição. Em inglês, claro.
Banheiro bem adaptado, mas o banco é de madeira
O banheiro do hotel é muito bem adaptado também, com um banco retrátil com muitas barras e chuveiro móvel. Uma coisa me incomodou um pouco, o banco é de madeira e tem quinas, portanto demanda cuidado na transferência. Acho que eles não pensam que bunda de cadeirante costuma ser mole e incomoda numa superfície muito dura. Poderia ser de plástico ou com almofada.
Rampa no hotel, enorme, mas com boa inclinação
Outra coisa importante: verificar se o hotel oferece estacionamento gratuito. Muitos deles cobram - e caro - para deixar o carro lá dentro. O que fiquei tem muito estacionamento, de todo lado, e rampa pra todo lado. Acho bobagem reservar hotel caro, a gente passa pouco tempo nele, pois todo dia tem coisa para fazer. Fiquei sete dias e achei pouco. No próximo post falo sobre os parques, tenho uma dica muito importante!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Cadeirante viajando para o exterior

Rindo só no começo da viagem...
Desde que resolvi ir aos States buscar minha cadeira de titânio (vou fazer um post sobre ela depois), entrei na maratona de preparar a viagem para fora do país. E preparei o bolso também, gasta-se muito mais do que eu imaginei. Só com o visto, tem uma taxa de mais de trezentos reais e ainda tem que ir ao Rio de Janeiro para entrevista, mais uma facada de passagem aérea. Mas a facada é só o começo do suplício para um cadeirante. Aí me perguntam: que tipo de cuidado um cadeirante tem que tomar numa viagem destas?
O primeiro desafio é a viagem de avião. Chegando ao aeroporto, já rola uma tensão sobre o embarque. Será que vou viajar mesmo na primeira fila? Será que vão saber me ajudar na transferência para a poltrona? Quanto à primeira pergunta, por incrível que pareça, pode ser um problema. Eu geralmente fico tranquilo, mas a Gi sempre fica tensa. Acontece que a primeira fila não tem como reservar na compra, pois ela é "bloqueada" para pessoas com deficiência ou outra dificuldade de locomoção. Bloqueada entre aspas, porque nem sempre é assim. Tanto que este foi um problema que tive. Chegando ao check-in, me disseram que as poltronas seriam na fila 15. Eu disse que tudo bem, só que teriam que me carregar até lá, pois eu não ando. É por isso que fico tranquilo, quando falo isso e eles olham para meu tamanho, correm atrás de mudar o assento logo. E foi o que fizeram, alteraram o assento para a primeira fila. Tudo bem, sentei ali, iniciamos a viagem, mas na escala, em Santo Domingo, na República Dominicana, tive que sair do avião, junto com todo mundo, para uma vistoria que é obrigatória naquele país. E na volta para o avião... apareceu outro dono do assento. A aeromoça explicou que eu era cadeirante e precisava viajar ali. Meio emburrado, o passageiro foi lá para a 15ª fila.
Aí vem o vôo. Enfrentar mais de dez horas de vôo não é fácil para ninguém, ainda mais para um cadeirante. Isso porque a gente não tem como dar aquela esticadinha no corpo, levantar um pouquinho, esticar as pernas, ou mesmo sentar de ladinho. O máximo que conseguimos é mudar um pouquinho a posição. Como viajamos na primeira fila, costuma ter um pouco mais de espaço, e a dica é colocar o pé na parede e esticar as pernas. Outra dica: fazer elevação na poltrona frequentemente. Para quem não sabe, elevação é apoiar nas laterais e levantar o corpo. Isso ajuda bastante a minimizar a pressão nas nádegas e as dores. Eu devo ter feito umas 20 elevações na viagem.
Mini cadeira para deficiente ir ao banheiro
Outro problema grave é o banheiro. Como ir a um banheiro de avião sem andar? Vou contar um pouco sobre isso. Na viagem de ida, fui ao banheiro na escala, em Santo Domingo. Foi bom porque estava bem na hora de fazer outro cateterismo (faço de seis em seis horas). Sem problema. Mas na volta... A parada na escala foi com duas horas e meia de vôo. E ainda tinha mais quase sete horas pela frente... Após reembarque, outro dono do assento apareceu. E a comissária novamente teve que convencer que eu precisava ficar ali porque não andava. Mas as poltronas não são bloqueada? Que nada, o cara mostrou as passagens (ele e mais um) exatamente na primeira fila. Sacanagem né?
Pelo menos funciona, mesmo para um gigante
Dali a três horas, precisei ir ao banheiro. Solicitei ao comissário de bordo e ele explicou que há uma cadeira própria, e ele me ajudaria na transferência para dentro do banheiro. Aceitei o desafio e ele trouxe a cadeira. Ou melhor, a mini-cadeira. Ela é muito pequeninha, mas funciona. Transferi para ela e fomos tentar entrar no banheiro. Foi um desafio. Dois comissários ajudando, mais uma comissária no apoio moral. Me apoiei na pia do banheiro, e o comissário segurou no meu braço e me empurrou para dentro. Senti falta de uma alça mais colocada na porta do banheiro, ajudaria muito na transferência. Enfim, o comissário meio sem jeito conseguiu me ajudar e sentei na beirada do vaso. Aí consegui acabar de sentar. Minha namorada entrou comigo e me auxiliou no cateterismo. Não pensem bobagem, afinal é um fetiche transar no banheiro do avião, mas pelo tamanho daquilo, nem contorcionista consegue. Ela coube em pé entre minhas pernas, mas ajudou pacas.
O espaço é beeeeem apertado!
A volta foi diferente. O comissário sugeriu que eu me "pendurasse" no pescoço dele e aí me puxaria para fora. Fiz isso, e deu certo, mas foi meio desconfortável, afinal eu quase abracei o cara. Enfim, é difícil o processo, mas possível. A ideia que tive foi levar um banquinho daqueles dobráveis, tipo de praia, de alumínio, pequenininho, e colocar em frente ao vaso. Aí o cadeirante transfere para ele, e depois para o vaso. Isso resolveria o problema, para não precisar de ajuda. Se houvesse um banquinho assim no avião, resolvido.
Detalhe interessante: no nosso vôo, na ida e na volta, o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, estava presente. Na ida, só descobri porque o comissário estava meio nervoso e nos contou. Já na volta... o avião precisou fazer uma escala para abastecimento em Brasília, que não estava programada, e chegando lá perto, ele se levantou e foi lá na frente dizer quem era, e que estava ali para ver como estava essa rota, e saber os problemas que os passageiros estavam enfrentando na viagem. Corajoso o cara. Logo que o avião pousou em Brasília, umas quinze pessoas "voaram" nele para reclamar. E ele com um iPad anotando as reclamações. Até o fim da viagem, em Guarulhos, o cara ouviu muuuuito. Até da Gi, que ficou esperando minha cadeira chegar e eles não a encontravam no porão. Ele perguntou e ela: "não encontram a cadeira dele, é novinha, de titânio!" Por sorte encontraram ela depois...Mas foi tenso!
No fim das contas, essa escala em Brasília atrasou a viagem, que durou mais de 13 horas no total! Cheguei extremamente cansado, com muita dor e com sono, afinal não consigo dormir naquelas poltronas minúsculas. Mas valeu a pena, me diverti muito e trouxe minha Ti Lite. Vou contar mais nos próximos posts!

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