sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Kart adaptado

Panda me passando as últimas instruções
Como todos sabem, sempre gostei muito de esportes radicais. E um desafio que me impus é voltar a praticar os esportes que pratiquei antes da lesão, agora adaptados, e incentivar (ou proporcionar) a outros deficientes praticá-los também. Um deles, que já estou tentando há algum tempo, é o Kart adaptado, conhecido como Parakart. Há campeonato em São Paulo, conheço alguns pilotos, mas aqui em Minas não havia nenhum competidor, muito menos opção de aluguel de kart adaptado em kartódromo. Até que conheci pelo Facebook o Panda, apelido do Ederson, único piloto mineiro de parakart.
Pista do Kartódromo Internacional de Betim
O Panda era piloto de motocross freestyle, daqueles que saltam, fazem manobras e levam o público ao delírio. E foi em um treino que ele se acidentou, quebrou a coluna no nível T9/T10, ficando paraplégico. Mas, assim como eu, não perdeu o gosto pela aventura e descolou logo um quadriciclo, para competir juntamente com o pessoal do Motocross, em Barbacena, onde morava. E o cara não brinca em serviço, foi campeão da categoria algumas vezes.
Panda ao lado do seu kart segurando o troféu
Em 2012 experimentou o kart adaptado, e com ajuda do pai, que é mecânico de moto, comprou e adaptou um kart. Buscou parceria com o Kartódromo de Betim para treinar e começou a se profissionalizar. Depois de muita luta e mais adaptações no seu kart, participou nos dias 11 e 12 de janeiro do Desafio Internacional das Estrelas, aquela corrida organizada pelo Felipe Massa em Penha, Santa Catarina. Há uma categoria de Kart Adaptado, e este ano contou com dez participantes, de todo o país. Foi a primeira competição oficial que o Panda participou, e ele já conquistou o segundo lugar! Foi uma grande vitória, e agora ele busca patrocínio para participar da Copa São Paulo de Kart Adaptado deste ano.
Entrada do Kartódromo
Curti muito a história do Panda, e fiquei doido para experimentar o kart adaptado. Combinei com ele no Kartódromo de Betim, seria também uma boa oportunidade para conhecer o kartódromo. Cheguei lá e já tive uma boa notícia, o kartódromo tem acesso para cadeirantes. A entrada é plana e tem estacionamento bem ao lado, porém não é demarcado para deficientes. Há vários boxes na área de briefing (orientações para a corrida) e em um deles há um amplo banheiro que eles estão adaptando!
Área de preparação para largada
A área dos pilotos, que conta com boxes e um depósito para cada um, também tem acesso. O único lugar ainda sem acesso é a recepção e a lanchonete, que ficam no segundo andar, e os proprietários disseram que há projeto para instalar um elevador. Para quem é piloto e tem o próprio kart, o kartódromo cobra um valor mensal pelo aluguel dos boxes e depósito, e a pista fica à disposição para treinos e corridas, dependendo da demanda do "indoor", as corridas com karts alugados. E aí que está meu interesse: adaptar um kart de aluguel para que um deficiente possa experimentar o parakart! E, se quiser, competir com os amigos. O fato é que um kart adaptado permite ao piloto correr praticamente de igual para igual com outros pilotos. Se todos forem inexperientes, a igualdade aumenta!
Comandos do kart adaptado, acelerador e freio à mão
Minha grande dúvida era: como transferir para o kart. O banco dele fica praticamente no chão, e há uma carenagem na lateral que deixa o banco ainda mais longe. O Panda me mostrou que não é tão complicado assim, mas que é impossível ir sozinho. Voltar então... Para ir, ele conta com o pai dele, que segura as pernas enquanto ele pula da cadeira para a carenagem, e depois para o banco. Aí o pai passa uma perna por cima do volante e acomoda no assoalho do kart. Ele passa um elástico por cima dos pés para garantir que não vão "pular" para fora em caso de colisão.  Uma vez acomodado, é só acelerar. A adaptação consiste em duas "aletas" atrás do volante, do lado direito fica o acelerador e do esquerdo o freio. Elas giram com o volante, o que garante que os comandos fiquem sempre à mão. Mais fácil que explicar é mostrar, e no vídeo abaixo, do "test drive" que fiz, dá para ver o kart adaptado em ação.
O Panda pretende agora participar da Copa São Paulo de Kart Adaptado, que é corresponde ao campeonato brasileiro. Só que para isto é preciso dinheiro. Gasta-se muito com transporte, pneus, gasolina, inscrição, hotel e alimentação. E o Panda não tem condições de arcar com tudo sozinho, então está em busca de patrocínio. Ele até elaborou um projeto bem bacana mostrando as vantagens que as empresas terão com a divulgação do nome, associação com o esporte adaptado e tudo mais. Vamos ajudar o Panda, clique aqui para baixar o projeto dele e divulgar para as empresas que puderem se interessar por esta oportunidade.
Agradeço ao Panda e à família dele pela recepção e oportunidade de experimentar e divulgar o esporte. E ao Kartódromo de Betim por apoiar a experiência e se interessar por difundir o kart adaptado.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Inhotim

Cadeirante pode curtir o Instituto numa boa!
No início de dezembro realizei uma vontade que já vem de anos: visitei o Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico Inhotim, em Brumadinho, a 55 km de Belo Horizonte. É um dos mais importantes museus de arte contemporânea do Brasil. Eu já sabia que o lugar tem uma certa acessibilidade, pois a Laura Martins, do blog Cadeira Voadora, fez dois ótimos posts sobre o lugar (vejam aqui), que li com antecedência para saber o que me esperava. Descobri nos posts da Laura que há uma jardineira elétrica lá que leva o cadeirante com cadeira e tudo para conhecer as obras, e ainda é gratuito.
Nossos companheiros de viagem, Leo e Iris
Aproveitamos a visita da Íris e do Leo, ambos de Brasília, para finalmente conhecer o instituto. Saímos num sábado nublado rumo a Brumadinho passando pelo posto Chefão e por Casa Branca (há pelo menos três caminhos para lá), em um caminho de quase 60 quilômetros. Escolhi este trajeto pela beleza, é uma estradinha sinuosa que passa pela beirada da cordilheira da Serra da Moeda, dá para ver algumas cidades lá de cima e tem alguns mirantes no caminho. Pouco mais de uma hora, chegamos ao Instituto.
A jardineira cabe o cadeirante com cadeira e tudo e até cinco passageiros
Chegando lá, há várias vagas para deficiente próximas à entrada, e basta solicitar a jardineira elétrica e te buscam rapidinho, te deixando na portaria, a poucos metros dali. Na portaria a gente paga a taxa para entrar no parque (R$ 28,00 em dez/13 - cadeirante não é isento, nem paga meia) e faz a solicitação da jardineira para um passeio de 50 minutos guiado. O ideal é reservar com antecedência, por telefone. A vantagem deste passeio é que você pode ditar a rota, passando pelas obras que mais te interessar. Recomendo traçar uma "volta olímpica" ao parque, pegando as atrações mais distantes da portaria. Há banheiro adaptado na recepção e nos restaurantes.
O visual do Instituto é um espetáculo
O Instituto é enorme, não tente ver tudo em um dia só - é impossível, ainda mais contando com o tempo de embarque e desembarque da jardineira. As obras são todas sensoriais - Inhotim, para mim, é uma experimentação para os sentidos. Desde o visual do lugar, com dezenas de tons de verde, às obras que mexem com a audição, e até como tato. Algumas obras não tem indicação para cadeirantes, como a Galeria Cosmococa, que tem vários ambientes com texturas diferentes no chão, de almofadas a uma piscina, tudo para sentir com os pés. Mas vale a visita para viajar nas pessoas se divertindo.
Cadeira Off Road que eles emprestam. Tem até amortecedor traseiro!
Como há muitos caminhos "tortuosos", muitos deles com grama e pedras, eles emprestam cadeiras "off road". São cadeiras com rodas traseiras de mountain bike, suspensão no eixo traseiro e rodas dianteiras grandes e infláveis. As dianteiras tem até um extensor, creio que para não virar para trás. Elas são pesadas, mas dão conta do recado. Rodei por bloquetes, pedras, grama e até terra, sem agarrar. Em alguns lugares só consegui subir com ajuda, mas no entorno da portaria é tranquilo. E foi por ali que iniciei o passeio, em direção à obra de Zhang Huan, um artista chinês. Demos uma volta ao lago que fica atrás da portaria, onde pudemos ver várias outras obras, de Edgard de Souza, Paul McCarthy, Hélio Oiticica e Yayoi Kusama, e a galeria Marcenaria.
Invenção da Cor, de Helio Oiticica (foto do Leo)
Voltamos para a portaria bem na hora do passeio de jardineira. Iniciamos o passeio em direção à galeria de Adriana Varejão. A cada obra, a jardineira para e aguarda o pessoal voltar. Esta galeria tem três andares e não tem elevador, portanto só dá para conhecer o primeiro andar, e o terceiro, se você animar dar a volta por trás. Não animei, mas acho que valeu pelo visual em frente à galeria. De lá fomos para a Cosmococa (já falei dela), e aí para a de Carlos Garaicoa (uma maquete feita de velas), passando no caminho por obras ao ar livre, como Giuseppe Penone e Chris Burden (muito legais).
Viewing Machine, de Olafur Oliasson
Depois disso pegamos um temporal em um trecho de mata fechada, que eu comentei dizendo que era a obra "Tempestade na Floresta", bem interativa! Hehehe. Chegamos sob chuva forte à Galeria Psicoativa Tunga, que hesitei em sair da jardineira, porque além da chuva, o caminho é de terra, e estava pura lama. Ah, não falei, mas eles emprestam um guarda chuvas grande nestes casos. Iris e Leo desceram e ficamos lá, mas não resisti, já estava meio molhado, e encarei a lama. Valeu a pena, esta galeria é incrível.
Há vários bancos de madeira espalhados pelo Instituto
De lá, voltamos até a obra "The Murder of Crows", com 98 alto falantes contando um pesadelo, imperdível. Essa dá para viajar. Resolvemos dispensar a jardineira e fazer o resto a pé e passamos pelo caleidoscópio de Olafur Eliasson, bem interessante, e pela galeria Praça, que também valeu a pena. Almoçamos (ou quase jantamos) no restaurante Oiticica, um self service de boa qualidade e acessível para cadeiras de rodas.



Algumas panorâmicas de Inhotim tiradas pelo Leo
A avaliação final é que vale a pena e é ótimo para cadeirantes, mas para uma experiência mais completa e divertida, recomendo ir com alguém que aguente empurrar a cadeira em pontos íngremes e esburacados. Pretendo voltar para conhecer o resto! Agradeço à Iris e ao Leo pela companhia e força. Ah, e principalmente ao Leo pelas panorâmicas!

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Pousada Monsieur Rocha

A varanda na entrada é muito gostosa
Sabendo que o arquipélago de Fernando de Noronha já é famoso por ser um lugar rústico e preservado, não esperava encontrar acessibilidade perfeita em lugar nenhum. Ao buscar hospedagem adaptada para deficientes, encontrei poucas opções em sites de hotéis como Booking e Hotel Urbano. Ai apelei para o Dr. Google, e em uma busca direta por pousada adaptada em Noronha encontrei o blog O Viajante Especial, da Adriana Braun, que foi uma das primeiras cadeirantes a visitar o arquipélago. Lá ela faz avaliação de algumas pousadas da ilha, e uma delas me chamou a atenção pela localização e charme, a Monsieur Rocha. Pela descrição da Adriana, a pousada estava em processo de adaptação, mas já tinha estrutura suficiente para receber um cadeirante com algum conforto.
Hall na entrada, com sala de leitura ao fundo
Busquei ainda outra fonte para encontrar a pousada ideal, a Econoronha. Me deram oito opções de pousadas adaptadas para deficientes: Beco de Noronha, Monsieur Rocha, Topazio, Mar Atlântico, Tia Zete, Triboju, Zé Maria e Dolphin. Procurei no Booking.com para maiores detalhes, e depois de descartar as carérrimas, fiquei entre a Monsieur e a Topazio. Acabei decidindo pela primeira pelo preço, negociei direto com o pessoal de lá e o valor caiu em um quarto. Todas elas tem incluso no preço o traslado do aeroporto.
Chegando ao aeroporto, o Sr. Rocha, proprietário da pousada, nos buscou. Ele tem um exótico e raro jipe 4x4 indiano da Mahindra. O carro é alto, um pouco difícil de subir, mas confortável, com ar condicionado e tudo. Chegando na pousada, me assustei um pouco com a rua, toda esburacada. Mas a localização é mesmo muito boa, próxima ao centro, com bares e restaurantes. E descobri que logo na esquina de baixo passa uma linha de ônibus.
As mesas são ótimas e o café da manhã uma delícia
A pousada é muito charmosa, com redes na varanda, mas uma enorme rampa na entrada. Muito difícil de subir sozinho, mas é possível cortar caminho pela garagem. Há sofás e uma mesinha no hall da entrada, e ainda uma sala de leitura, com muitos livros em uma estante. O café da manhã é simples, mas muito gostoso. Para chegar no refeitório, há um degrau, mas o Sr. Rocha fez uma rampa por fora, dando a volta. Se estiver chovendo, como estava em um dia pela manhã, molha um pouco. As mesas são excelentes, altas e com pés paralelos, entra facilmente a cadeira de rodas.
O banheiro é bom, mas faltam itens básicos, como cadeira de banho
O quarto é bem grande, há três camas, uma de casal e duas de solteiro, e a circulação é ótima. Tem frigobar e uma TV de meia polegada - tá bom, quatorze polegadas - mas a verdade é que ninguém vai a Noronha para ver novela. O banheiro é muito grande, o espaço lá dentro é bom, pia sem armários embaixo, e o box é muito grande. Falta cadeira de banho mas a porta do box é larga e passa a cadeira de rodas. Com uma cadeira de plástico lá dentro, dá para transferir e tomar banho. Foi o que fiz.
O Sr. Rocha foi muito simpático conosco e ouviu minhas queixas sobre acessibilidade da pousada, e prometeu melhorar na medida do possível. Entendo que é muito difícil chegarem itens no arquipélago, mas se chega avião, chega encomenda. Basta boa vontade.

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