sexta-feira, 30 de abril de 2010

Arrego

Toda vez que eu me meto a sair tocando cadeira pelas ruas de BH passo arrego. Hoje fui em um banco do outro lado da rua do meu trampo, era só atravessar a avenida, mas no meio do caminho tem um canteiro central. E esse canteiro era do tipo "duas entradas", em que você tem que entrar, andar nele um pedaço e sair mais na frente. E esse trecho é todo irregular, feito de pedras e cimento, e bem no meio minha cadeira agarrou, me desequilibrando pro lado. Se eu não conseguisse segurar o corpo, ia com tudo pro asfalto - e com o sinal aberto, carro passando sem parar. No mínimo ia virar paçoca. Aliás, paçoca não, seria mais algo tipo torta de maça, aquela coisa vermelha e mole com umas tranças mais duras por cima. Vixe, consegui transformar uma coisa gostosa em uma imagem mental horrível. Ecatch!
Mas foi bom pra aprender, em terreno irregular, andar mais devagar na cadeira. Parece que sofrer acidente a mil por hora não serviu pra acabar com minha sede de velocidade. Ô vício...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Fantasma da Infecção

Quando achei que estava tudo sob controle, que havia encontrado uma forma de evitá-la, eis que surge novamente o fantasma da infecção urinária. Ou melhor, o monstro da infecção urinária. Achei que tinha controlado tomando Macrodantina e fazendo cat estéril, pois assim já estava sem infecção há mais de um ano.
Mas desta vez o caso levantou uma polêmica. Desde domingo de madrugada eu comecei a sentir dores fortes no corpo e minha urina ficou turva. Comecei a tomar muita água, o que pode até evitar que a infecção se instale, fazemos os rins trabalhar mais e produzir muita urina, "limpando" a bexiga. Mas na segunda, mesmo com muito volume urinário, a urina continuava turva e com cheiro, e no final já estava densa. E as dores no corpo pioraram. Terça de manhã fui trabalhar de teimoso, já não estava me aguentando sentado (quase pus de pé, mas lembrei de adaptar a expressão) e à tarde parei de teimosia e fui ao hospital. Lá consultei com o urologista que solicitou ultrassom abdominal e exame de urina rotina e cultura. 
Como não podia deixar de ser, mesmo com atendimento preferencial, passei a tarde inteira lá, a maior parte esperando. Felizmente o ultrassom indicou que meus rins estão bem, mas minha bexiga está com parede espessa. Não é um problema, bexiga neurogência geralmente fica com parede espessa, devido à alta espasticidade. Mas mesmo sem o exame de cultura não tendo ficado pronto (demora três dias) o médico já deu o diagnóstico de infecção e receitou ciprofloxacino. Até o momento eu não tinha tido febre, portanto ainda voltei ao trabalho. Mas foi só chegar lá que ela veio, e à noite intensificou, chegando a 40º. Tomei o antibiótico e tylenol pra ver se abaixava a febre, mas como ela persistiu entramos com compressa (minha namorada colocando em mim). Eu todo tremendo, tive que tirar a roupa e aguentar toalhas molhadas pelo corpo. É uma coisa que eu detesto, me incomoda profundamente. Mas é o jeito pra abaixar a febre. No final da noite conseguimos controlar e fui dormir com 37,5. Na quarta acordei com 36,7, mas às nove já estava em 37. E com o dobro de dor no corpo, além de forte dor de cabeça. Tome tylenol em cima, e cama, pra ver se até o fim do dia consigo me recuperar.
E a polêmica? O que acho estranho é que até eu ir pro hospital, eu estava bem, só com dores no corpo. Mas aí tive que fazer o cat no hospital, e desde então meu quadro piorou. Meia hora depois de sair do hospital começou a febre. A dúvida que fico é se foi só coincidência ou tem mesmo relação. O que reforça a possibilidade é que enquanto estive no hospital, depois do acidente e da operação, demorei pra sair porque a infecção não deixava. E em outras oportunidades, foi só passar pelo mesmo procedimento em hospital que a infecção urinária veio. Enfim, da próxima vez prefiro ir em casa colher urina e voltar depois, mesmo que seja um pouco complicado e doloroso.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Esse Mundo Também é Meu

Desde segunda feira, o Bom Dia Brasil, na Globo, está mostrando uma série especial intitulada "Esse Mundo Também é Meu", sobre as dificuldades que os deficientes encontram no Brasil e o que tem aparecido de novidades em adaptações para trazer mais qualidade à vida do deficiente. Estou acompanhando e gostei muito do que vi, e pra quem não viu, abaixo vão os links dos três episódios. Lá tem uma aba com mais vídeos "extras".
Eu sempre brinco que uma das coisas que me fez adaptar mais facilmente às dificuldades na cadeira de rodas foi o fato que o mundo já não era feito pra mim, por causa da minha altura. Em todo hotel que eu ia, em todo ônibus que eu viajava, e até nos aviões, eu tinha alguma dificuldade e me sentia fora do padrão. As camas, até pouco tempo, tinham a medida padrão de 1,90m de comprimento. Nenhuma me servia, afinal, eu tenho 1,95m. Em casa minha cama sempre teve 2,10m, eu mandava fazer as barras laterais e complementava o colchão com uma espuma. Nos ônibus, até que em alguns de linha eu cabia, mas eu batia a cabeça nas barras de apoio. Mas nos ônibus de viagem eu só entrava abaixando a cabeça, senão era galo na testa. E como sou cruzeirense, não admito essa hipótese. Outro problema era a poltrona, muito estreita, e com espaço mínimo pra pernas, eu sempre sentava nas cadeiras de corredor, aí colocava uma perna pra dentro, apertada, e outra pra fora. E aquele encosto de cabeça ficava nas minhas costas, me deixando torto pra frente. Dá pra imaginar a cena, né?
Episódio 1
Episódio 2
Episódio 3

sábado, 24 de abril de 2010

Comparativo entre carros automatizados

Um dos maiores problemas na hora de um cadeirante comprar um carro zero quilômetro sempre foi o preço. Por mais que haja isenção, os carros automáticos que existiam no mercado nacional eram sempre os mais caros, geralmente modelos médios pra cima. Quando fiz o comparativo para comprar meu carro, em 2007, o mais barato era o peugeot 207, com motor 1.6, e na época era em torno de quarenta e cinco mil reais. Pouco depois de começar o blog, publiquei meu comparativo aqui no blog, e fez muito sucesso.
Na minha decisão, venceu a novidade da Fiat, o câmbio automatizado Dualogic, que é mais barato, economiza combustível (ao contrário dos automáticos) e tem manutenção também mais barata. E não me arrependi, realmente o automatizado não deixa a desejar em relação ao automático, cumpre seu papel. Mas na época o único modelo equipado com o câmbio era o Stilo, e o valor do carro esbarrou no limite da época, sessenta mil.
De lá pra cá muita coisa mudou, as montadoras investiram no automatizado e passaram a equipar modelos compactos com este câmbio, tornando mais "acessíveis" as opções para quem é cadeirante. Acessíveis entre aspas, porque dizer que um carro de quase quarenta mil reais é acessível é até sacanagem. Mas mesmo assim a coisa melhorou muito, com as isenções dá pra comprar um zero quilômetro por menos de trinta mil.
Minha idéia era atualizar o comparativo que fiz em 2009, mas como cadeirante raramente "nada" em dinheiro, resolvi priorizar os carros mais baratos, equipados com o câmbio automatizado abaixo de 50 mil reais. A lista desta vez vai contar com um comentário meu ao final, opinião própria, sobre o que acho do veículo para um cadeirante. Vamos à lista, em ordem de preço, do menor pro maior, e incluindo ao final do nome o volume do porta-malas:


Novo Gol I-motion 1.6 Flex 104cv - 285L (R$ 36.690,00)
Banco/encosto traseiro rebatível; Bolsa porta-objetos no verso do encosto dianteiro, lado do passageiro; Câmbio manual automatizado (ASG/DS) (5 marchas); Display multifuncional/computador de bordo; Espelho retrovisor externo regulável do lado de dentro; Instrumento combinado com conta-giros, hodômetro parcial, indicação do velocímetro em km/h; Pneus 175/70 R14 84T; Pára-choque na cor do veículo; Rodas de aço 14", Tomada(s) de 12 volts.
- Vem muito pelado, mas pelo menos tem computador de bordo; o porta-malas é muito pequeno, mas pra quem não anda com carro cheio dá pra rebater o banco traseiro e aumentar o espaço.


Fox I-motion 1.6 Flex 104cv - 260L (R$ 38.030,00)
Apoios de cabeça atrás; Banco/encosto traseiros inteiriços, rebatíveis e enroláveis, 2 assentos; Banco traseiro com porta-objetos; Bolsas/redes para bagagem nos encosto; Câmbio manual automatizado (ASG/DS) (5 marchas); Cobertura do porta-malas; Direção servo-assistida; Display multifuncional/computador de bordo; Espelho retrovisor externo regulável do lado de dentro; Imobilizador eletrônico; Lavador e limpador do vidro traseiro; Pneus 195/55 R15 85H; Pára-choque na cor do veículo; Porta-copos no console central; Revestimento do porta-malas conforto; Rodas de aço 15", Tomada(s) de 12 volts; Vidro traseiro aquecível.
- Pra quem pode pagar um pouco mais por estilo, conforto e segurança, vale a pena, porém o porta-malas é ainda menor, tem que testar pra ver se cabe bem uma cadeira de rodas.


Voyage I-motion 1.6 Flex 104cv - 480L (R$ 39.330,00):
Apoios de cabeça atrás, Banco/encosto traseiro rebatível; Bolsa porta-objetos no verso do encosto dianteiro, lado do passageiro; Câmbio manual automatizado (ASG/DS) (5 marchas); Destravamento elétrico do porta-malas (exceto com alarme); Display multifuncional/computador de bordo; Espelho retrovisor externo regulável do lado de dentro; Instrumento combinado com conta-giros, hodômetro parcial, indicação do velocímetro em km/h; Pneus 175/70 R14 84T; Pára-choque na cor do veículo; Rodas de aço 14", Tomada(s) de 12 volts; Vidro traseiro aquecível.
- Uma das melhores opções pra cadeirante, tem bom porta malas e alguns itens de conforto, como destravamento elétrico do porta malas, útil pra abrir pra alguém pegar a cadeira.

Fiat Palio ELX 1.8 Flex Dualogic 114cv - 275L (R$ 39.570,00)
Alertas de limite de velocidade e manutenção programada; Apoios de cabeça traseiros, Banco traseiro rebatível; Barra de proteção nas portas, Barras de proteção nas portas, Bolsa porta-revistas no encosto dos bancos dianteiros; Comando interno de abertura do porta-malas e da tampa do tanque de combustível; Computador de Bordo; Console central com porta-objetos e porta-copos; Direção hidráulica; FPS (Fire Prevention System); Faróis de neblina; Limpador e lavador dos vidros dianteiro e traseiro com intermitência; Previsão para som; Porta-luvas superior e inferior; Pneus 185/60 R15; Rodas aro 15"; Volante com regulagem de altura.
- Bom motor e equipamentos de conforto e segurança; destaque para direção hidráulica; o porta malas deixa a desejar, mas o banco traseiro rebatível resolve.


Polo I-motion 1.6 Flex 104cv - 250L (R$ 44.750,00)
Apoios de cabeça atrás, Ar-condicionado; Banco e encosto traseiros rebatíveis; CD-player com Bluetooth, MP3 e entradas USB e SD-Card; Câmbio manual automatizado (ASG/DS) (5 marchas); Cobertura do porta-malas; Computador de bordo; Destravamento da tampa traseira por dentro (elétrico); Direção hidráulica; Espelhos retrovisores externos com ajust e manual; Imobilizador eletrônico; Lavador e limpador do vidro traseiro; Painel de intrumentos com conta-giros; Pneus 195/55 R15; Pára-choque na cor do veículo; Porta-objetos no verso do encosto do banco dianteiro; Rodas de aço 15".
- Vem mais completo de fábrica, com som e ar-condicionado, é o ideal pra quem preza conforto, mas o problema é ainda maior no porta malas, que é o menor do comparativo.

Fiat Siena ELX 1.8 Flex Dualogic 114cv - 500L (R$ 49.010,00):
Alertas de limite de velocidade e manutenção programada; Apoios de cabeça traseiros; Banco traseiro rebatível; Ar-condicionado; Barra de proteção nas portas, Barras de proteção nas portas, Bolsa porta-revistas no encosto dos bancos dianteiros; Comando interno de abertura do porta-malas e da tampa do tanque de combustível; Computador de Bordo; Console central com porta-objetos e porta-copos; Direção hidráulica; FPS (Fire Prevention System); Faróis de neblina; Limpador e lavador dos vidros dianteiro e traseiro com intermitência; Previsão para som; Porta-luvas superior e inferior; Pneus 185/60 R15; Rodas aro 15"; Travas elétricas + Trava automática das portas a 20 km/h; Vidros elétricos dianteiros com one touch e antiesmagamento; Volante com regulagem de altura.
- É um carro bem completo, com travas e vidros elétricos, ar condicionado e direção hidráulica; o porta malas é enorme, cabe cadeira de rodas, cadeira de banho e ainda tem espaço pra malas.

Chevrolet Meriva 1.8 Flex Easytronic 114cv - 390L (R$ 49.853,00)
Ar Condicionado; Alarme anti-furto com ultra-som; Aviso sonoro de faróis ligados; Bancos reclináveis e rebatíveis; Direção Hidráulica; Espelho na sombreira em ambos os lados; Limpador e desembaçador traseiro; Luzes de cortesia no porta-malas e porta-luvas; Preparação para som e antena de teto; Protetor de cárter; Regulagem de altura do banco do motorista; Tampa do combustível com acionamento elétrico; Trava para crianças; Travas e vidros elétricos; Transmissão Easytronic.
- O Meriva tem algumas vantagens sobre os outros automatizados, muitos equipamentos de conforto e segurança, tem mais espaço interno, e o porta malas, apesar de não ser tão grande, é mais alto, o que ajuda nas cadeiras de rodas "X".

Com isenção de IPI e ICMS, o preço destes carros cai de acordo com o estado, mas pode-se considerar em média 25%. Meu conselho pra quem é cadeirante e vai comprar um carro zero: vá até a concessionária ver o carro, fazer o teste de entrar e sair, e se possível peça alguém para colocar a cadeira de rodas no porta malas. São os principais problemas, acesso e capacidade de carga. E pense muito bem antes de decidir, vai ser um parceiro pro dia a dia, tem que satisfazer o dono.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Boas lembranças

Dia desses estava eu no trabalho, na cadeira da empresa, quando um colega de trabalho pegou minha cadeira de rodas pelos punhos e começou a contar sobre a época em que a mãe dele, já falecida, esteve em uma cadeira de rodas. Ela teve um derrame na medula, coisa que eu nunca havia ouvido falar, e passou a usar a cadeira.
Ele contou que naquela época, era o único filho que tirava ela de casa, ligava avisando que ia passar pra sair e rebatia todos os argumentos dela pra não sair. Ia pra roça, levava na casa dos parentes, fez até uma viagem passando por várias cidades que ela nunca esqueceu. Até pra dentro de um estábulo ele a levou, deixou-a no meio das vacas, e ela adorou.
Não tinha tempo ruim, escada, chão batido, nenhum obstáculo pra cadeira ele aceitava. Lembrou o quanto se divertia com a mãe passando com a cadeira por estradas esburacadas, subindo morros e levando-a pra tudo quanto é lugar, mesmo quando nem ela concordava. Deu até gosto o olhar de nostalgia pra cadeira e as histórias engraçadas que viveu com a mãe.
Taí uma grande lição pra quem está numa cadeira e deixa de sair porque fica com medo de incomodar alguém ou de causar transtorno. Se a pessoa tem alguém que se dispõe a dar aquela mãozinha pra ter o prazer da sua companhia, independente dos obstáculos, tem mais é que sair, viajar, curtir. Com esta atitude, vai gerar boas lembranças nas pessoas que estão à volta - e principalmente nela mesma! E ainda contribuirá pra desmistificar a imagem de inválido que uma cadeira de rodas possa passar.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Boteco acessível

Estamos na época do ano em que morar em BH faz mais inveja no resto do Brasil. É a época do Comida di Buteco, evento que junta os melhores botecos de BH em uma competição pelo melhor tira-gosto e melhor boteco da cidade. Sei que acontece em várias cidades, mas os botecos de BH são os melhores do país, todo mundo sabe disso. E esse ano o tema dos pratos é o jiló, que fica uma delícia frito.
Ontem minha ideia era ir em um participante do evento, mas saimos de casa tarde e todos que passamos estavam lotados. Acabamos indo em outro boteco que eu já queria conhecer faz tempo, o Sutaque Mineiro (Rua Paraguai, 109, Sion). Fomos com meus pais, que vieram visitar o filhote e fazer algumas consultas, e com minha cunhada, Luana. Me impressionou a acessibilidade do lugar, tem rampa na porta e em todos os desníveis internos. Tem também um amplo corredor para ir até os fundos e espaço entre as mesas para passar com a cadeira. Enfim, um boteco totalmente adaptado. Só falta arrumar o banheiro. Mas quando precisei, o garçom se mobilizou e fechou o banheiro feminino pra mim, lá tem espaço e a porta de uma das "baias" é larga e deu pra entrar com a cadeira. Mas não há barras para transferência.
Além de adaptado, o boteco tem atendimento de primeira, cerveja geladíssima e tira gosto de alto nível. Pedimos carne de panela ao molho de vinho e pastéis de angu. A carne é uma delícia, desmancha no garfo, e o molho é um espetáculo. A decoração também é outro ponto alto, muito bem feita e de bom gosto. Enfim, vale a visita. E olha que de boteco eu entendo.
PS: olha que legal esse texto sobre o sotaque das mineiras.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Quando a gente não quer ser reconhecido

Todo mundo já passou por uma situação em que não queria ser reconhecido, ou ser visto por algum conhecido. Pode ser em uma situação boba, como chegar atrasado na aula, ou em uma complicada, saindo de um motel com uma amante.
Mas e para o cadeirante, como passar desapercebido? Eu não tenho (mais) feito coisa errada, mas já passei algumas situações em que pensei nisso. Numa delas fui ao tribunal de pequenas causas entrar contra um cara que bateu na traseira do meu carro e não queria pagar. Eu bem lá esperando e aparece um cara do meu trabalho, que logo me pergunta o que eu estava fazendo ali. Foi um pouco de indiscrição, afinal poderia ser uma ação alimentar (Deus me livre) ou alguma coisa mais séria, mas não me importei e contei o caso pro cara, e nem perguntei o problema dele.
Outra vez eu estava na universidade em horário de trabalho pra resolver uns pepinos com meu orientador, minha chefe sabia, mas eu não queria encontrar ninguém do trabalho, e não é que saindo do restaurante dei de cara com um colega? E o cara ainda perguntou se eu ia ficar mais ou já ia voltar pra empresa...
Mas então, qual a solução? A forma mais simples que encontrei até hoje de me "esconder" foi procurar uma rodinha, ou uma fila de pessoas, e entrar atrás. Qualquer muvuca de pessoas de pé pode servir de barreira, mas se a cadeira for vermelha como a minha, ainda assim podem te encontrar por lá. O negócio é fingir que não viu, olhar pra baixo e sair de fininho. Mas esse é outro problema, como sair de fininho em um cadeira de rodas?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Nóis de novo!!

Contribui em mais uma matéria, desta vez pro UOL, também sobre sexualidade. Pelo jeito o negócio tá em alta mesmo, literalmente. Felizmente.
Dei a entrevista por telefone ontem à noite e já saiu hoje, estrategicamente depois da cena em que a Luciana da novela transou pela primeira vez depois de tetraplégica. Ficou muito boa a matéria, abordou o lado da mulher e do homem, com informações importantes sobre a realidade sexual e a fertilidade de cadeirantes.
A foto acima tiramos no hotel Ouro Minas, passamos um fim de semana lá mês passado pra comemorar três anos de namoro!
Vamos aproveitar essa onda e mostrar pro mundo que estamos aí, vivendo bem e amando muito!!!

Lançamento do livro da Juliana

Ontem fui prestigiar o lançamento do livro da Juliana Carvalho, "Na Minha Cadeira ou na Tua?" na biblioteca municipal de BH. O lançamento foi regado a uma das especialidades de Minas, uma cachacinha básica.
Lá tive a oportunidade de conhecer a Kenia, que acompanha o blog e a Tabata, primeiras cadeirantes que tenho contato direto aqui em BH. Adorei conhecer a as meninas, a Juliana é muito bacana, divertida, e não tem papas na língua, adora trocar ideia sobre a sexualidade, experiências e vacilos vividos por nós.
As meninas de BH também são muito gente boa, adorei conhecê-las e espero estreitar essa amizade.
Infelizmente não rolou um boteco depois, meus pais estão de visita aqui e fui pra casa mais cedo. Não é do meu feitio, mas essa semana foi pesada... Na próxima prometo um tour pelos melhores botecos!
Parabéns pelo livro, Juliana, muito sucesso pra você!!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Reportagem no R7

Há algum tempo dei uma entrevista por telefone para uma repórter do portal R7, e agora a reportagem saiu!! Ficou bem bacana, falei sobre a vida a dois, como é o namoro sobre rodas e planos para o futuro. Enfim, cliquem aqui pra ler a reportagem. A foto foi feita na Praça da Liberdade, aqui em BH. Ficamos lindos, né?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Pau pra toda obra

Mulher de cadeirante tem mesmo que ser valorizada. Não é só porque tem que ajudar o cadeirante, nem porque passa raiva junto com ele pela falta de lugares acessíveis, muito menos porque tem que lidar com suas limitações todos os dias. Se tem uma área que mulher de cadeirante se desdobra é nas tarefas de macho em casa. Coisinhas simples como montar uma estante, colocar uma tv no suporte de parede ou trocar o chuveirinho do banheiro. Não são tarefas tão difíceis, mas convenhamos que são geralmente tarefas masculinas, que a grande maioria das mulheres não tem habilidade natural pra resolver. Colocar uma TV pode ser mais complicado, dependendo do modelo, se for uma de "tubo", de mais de 20", haja braço pra segurá-la no ar até conseguir encaixar direitinho no suporte. 
Então dedico este post a estas guerreiras, que além de encarar as dificuldades, o preconceito e as diferenças do dia a dia, ainda tem que fazer o papel de faz tudo em casa. Claro que dá pra chamar um parente ou amigo pra resolver estes probleminhas, mas em alguns momentos tem que por a mão na massa mesmo.
Mas tem seus benefícios. Além da nossa força, reconhecimento e amor, tem também a admiração por batalhar pra resolver os pepininhos e deixar nossa casa funcionando em pleno vapor!

domingo, 11 de abril de 2010

Trocando de remédio (e de médico)

Terça passada fui ao neurocirurgião pra pedir um novo remédio pra dor, já que o topiramato não estava mais fazendo efeito. Como troquei de plano de saúde, busquei entre os médicos do novo convênio e felizmente descobri que todos os que me acompanham também atendem pelo plano novo, inclusive o que me operou, mas preferi ir a outro que atende em seu consultório, mais perto do meu trabalho, e eu poderia voltar logo pro trampo, já que a consulta seria rápida. Peguei o telefone dele pela lista do convênio e marquei para depois do almoço.
Cheguei no horário, como sempre faço, e esperei vinte minutos, como todos nós sempre fazemos em consultas médicas. Alguém já foi atendido pontualmente no horário marcado? Até hoje não consegui essa façanha... O médico em questão é muito gente boa, um cara novo e bem experiente na área, com muito conhecimento. E de muito bom papo, procura saber sobre o dia a dia do paciente, entender a situação, muito bacana.
A recepcionista mandou eu entrar no primeiro consultório à direita, mas quando cheguei lá só tinha um senhor bem mais velho. Sem entender, falei que achei que fosse outro médico, e perguntei se ele conhecia outro neurocirugião com o mesmo nome. É claro que conhecia, o filho dele, e mostrou fotos do cara na mesa do lado. Só eu pra fazer isso, marcar com o pai achando que era o filho. Isso que dá a falta de criatividade, colocar o mesmo nome no filho, só pra confundir o povo.
Mas já que estava ali, me atendeu com presteza, procurou saber do meu caso e me receitou justamente o medicamento que eu queria testar, devido a dicas dos leitores do blog: o Lyrica. Nem precisei falar, ele já veio com a sugestão. Deve ser o melhor mesmo, mas se resolver a dor no corpo causa uma outra pior, no bolso. O bichinho é caro pra caramba, quase cem prata a caixa. Pobre não pode ficar doente no Brasil não.
Mas é isso aí, comecei a tomar na sexta feira e hoje já estou sentindo efeito, meu corpo está bem melhor e até voltei a ficar de pé, não ficava há umas duas semanas. Vamos ver quanto tempo dura, geralmente nas três primeiras semanas faz efeito, depois...

Projeto "A Toda Velocidade"


Olha que bacana esse vídeo que a Giselle, fisioterapeuta do blog Fisioativa fez sobre o projeto que ela vai tocar em prol dos cadeirantes.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Morar perto do trabalho: não tem preço

Pouco depois de formado morei em Coimbra, cidade a 16 quilômetros de Viçosa, com pouco mais de 7 mil habitantes. Lá trabalhei na Prefeitura, e mesmo se eu não quisesse, teria morado perto do trabalho, afinal, a cidade é um ovo. Eu acordava às oito e quinze da manhã, me arrumava e saía de casa a pé dez pras nove, pra chegar às nove horas no trabalho. Isso porque eu ia devagarinho, conversava com o povo no caminho e costumava tomar um café na padaria. Maravilha, né?
E ainda tem outra vantagem, dá pra almoçar em casa e dar uma cochilada depois do almoço. Se tiver uma mulher ou empregada que cozinhe e faça boa comida, mais um estímulo. Mas a cochilada... é bom demais. Quinze ou vinte minutos de sono e a gente volta novo em folha pro trabalho. A ciência já provou que faz bem, os mexicanos já sabem disso há anos e cultuam a 'sesta' religiosamente.
Além da cochilada, deitar tem outras vantagens. Faz bem pra circulação e permite fazer alongamento. E isso pra quem é cadeirante faz uma diferença ainda maior. Como ficamos sentados o tempo todo, não levantamos e nem "esticamos as pernas", a mudança de posição e o alongamento fazem falta. Se a empresa não tem um lugar disponível pra dar uma alongada, poder ir em casa pra isso é fundamental.
No interior isso é fácil, mas em cidade grande, quem mora perto do trabalho tirou a sorte grande. Ou tem muita grana, pois apartamento em área mais comercial geralmente tem aluguéis muito altos. No meu caso dei sorte mesmo, quando fui chamado pra trabalhar já morava a menos de um quilômetro do trabalho. E eu já tinha uma empregada (não aguento quem fala "secretária") que vem duas vezes por semana e faz comida, boa comida, diga-se de passagem. Então, junto a fome com a vontade de comer, venho almoçar, dar uma esticadinha nas pernas, dou uma cochilada e volto pro serviço "novinho". Mas um pouco amassado...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Recebendo amigos em casa

Diz o horóscopo que libriano é bom anfitrião, que gosta de receber os outros em casa. Não leio nem acredito muito em horóscopo mas nisso ele acertou. Sempre gostei de uma festinha caseira, juntar os amigos pra   fazer um rango, ver um filme, jogar um poker ou só tomar uma cervejinha mesmo. E agora nessa "fase" cadeirante este programa se revelou especialmente importante.
Não que eu defenda que cadeirante tem que ficar em casa - totalmente pelo contrário. E pratico mesmo o contrário, não passo um final de semana sequer sem sair de casa. Mas que a festa em casa faz bem, isso faz. E taí uma ótima dica pra quem é cadeirante - transformar o cafofo no pólo de encontros da turma. Não precisa ter uma mansão pra isso, mas uma sala razoável é necessária. E alguma criatividade.
Eu sempre gostei de um carteado. Minha preferência é o poker, mas o mais democrático é o buraco ou canastra. Quase todo mundo sabe jogar e não precisa de fichas ou outro acessório. E gente de todas as idades gosta (mas as mais velhas, principalmente solteiras, são viciadinhas). Então é só procurar saber quem curte e marcar a jogatina. Eu já tenho alguns parceiros.
Outra coisa que sempre reune amigos é gastronomia. Aqui em casa fazemos noite de comida japonesa, comida mexicana, e em breve sairá uma comida árabe. Não precisa ter uma chef em casa, é só combinar de cada um trazer um prato, ou descobrir quem tem jeito pra coisa e fazer na hora mesmo. O preparo também é parte da diversão, o povo na cozinha enquanto prepara o rango é motivo pra muita gargalhada. Enfim, juntar amigos é sempre bom, sendo cadeirante ou não. Quem sabe ser cadeirante seja apenas mais uma desculpa pra juntar a galera? Boa desculpa!!

sábado, 3 de abril de 2010

Como chegar em um cadeirante?

Das diversas "consultorias" que já dei desde que comecei com o blog, desde dicas para comprar um carro adaptado até questionários para projetos de TCC, os que mais me surpreendem (e me deixam feliz) são os relatos de pessoas que se apaixonaram por um cadeirante e não sabem como chegar. Não sabem porque ficam com medo de o cadeirante achar que não gosta dele de verdade, que é por pena, ou que é "pegadinha", a menina não pode estar gostando de verdade do cara, afinal ele "é só meio homem". E eu já vi relato real de um cadeirante que deixou de ficar com uma garota que estava afim dele e acabou ficando com uma outra cadeirante, talvez por achar que ela sim, tá na mesma que ele e pode aceitá-lo daquele jeito.
Essa é a pior forma de preconceito, o autopreconceito. É o que a Luciana, da novela, andou fazendo antes de "aceitar" a relação com o Miguel. Não acreditar que dá conta do recado, ou que possa stisfazer uma pessoa "nomal", é o pior erro de um cadeirante nesse momento. O que afirmo é que sim, independente da cadeira de rodas, somos capazes de satisfazer a parceira em todos os sentidos. E que as limitações físicas podem ter até seu lado bom, abrem espaço pra criatividade, pra busca de alternativas que podem se mostrar melhores do que as vias normais. Acontece que nem todo mundo sabe disso (ou procura saber).
Mas se há essa barreira do autopreconceito, o que fazer para chegar no cadeirante, mostrar a ele que não se importa com a deficiência e que quer investir no cara, vencer as barreiras e ser feliz? A receita do sucesso não é segredo, é o que sempre sugiro a quem me pergunta: diálogo. Tem que conversar e se abrir, ter coragem para expor os sentimentos e dizer na cara dura que o lance da deficiência é só um detalhe, assim como há outras tantas imperfeições em outras pessoas. Não digo um detalhe como sendo uma coisa simples, mas como uma coisa pequena em relação a um sentimento. Se a pessoa gosta de verdade da outra, não haverá barreira que impeça de ficar junto, nem desaprovação de amigos e família (acontece muito), nem dificuldade de acesso a algum lugar
Mas é necessário um certo tato. Um cara numa cadeira pode estar mais sensível, ou pode ficar mais desconfiado. A mulher pode, então, mostrar que o interesse é real através de dedicação, se informar bem sobre o assunto, saber como pode ser uma parceira nos desafios típicos de um cadeirante. Mostrar programas acessíveis, equipamentos que melhorem a vida dele, e casos de casais que deram certo. Podem me usar como exemplo!!

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...