sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Fernando de Noronha para cadeirantes - Parte 1

Em frente ao morro Dois Irmãos, um dos mais famosos pontos turisticos
Sim meus amigos, Fernando de Noronha é um destino que pode ser aproveitado por cadeirantes. E bem aproveitado. Hoje é possível curtir quase todas as atrações turísticas e gastronômicas como qualquer pessoa sem limitação. É verdade que muitos lugares demandam uma ajudinha para serem acessados, mas o pessoal da ilha é extremamente prestativo e solidário com cadeirantes. Até para rodar pela areia da praia o pessoal tem a manha!
O primeiro desafio é a acomodação. Procurei em sites de hotéis e encontrei poucas opções; busquei na internet e apareceram mais algumas. Mandei então um e-mail para a Econoronha (atendimento@econoronha.com.br), concessionária responsável por construir as trilhas adaptadas para deficiente que estavam sendo divulgadas na internet, e me responderam rapidamente, com uma relação das pousadas adaptadas disponíveis, além dos restaurantes com acessibilidade, e também as matérias divulgadas sobre a acessibilidade na ilha.
Pousada Monsieur Rocha, muito agradável
Procurei saber sobre os preços das pousadas e hotéis, e depois de descartar as carrérrimas, disparei e-mails buscando mais informações - e negociando os preços. Fiquei entre a Topázio, a Solar das Andorinhas e a Monsieur Rocha, e acabei decidindo por esta última, que fez um preço melhor e oferecia boas comodidades. Por boas comodidades, entenda que não é perfeitamente adaptada, eu já sabia que não tinha cadeira higiênica, mas eu já me acostumei a passar sem isso. Depois faço um post sobre a pousada.
A chegada no arquipélago é show
Depois de pagar a taxa de permanência na ilha (pouco menos de 50 reais por dia), embarcamos, eu, Gi e um casal de amigos. Tínhamos outro motivo para ir para lá, o casamento de um grande amigo. Saindo de BH, passando por Recife, a viagem durou pouco mais de quatro horas e meia. A chegada no arquipélago já é um espetáculo, a visão da ilha lá de cima impressiona pelas cores da água e desenho das ilhas. Chegando ao aerporto, não espere um finger ou Stair Tac (que ele insistem em chamar de Star Trek) para descer do avião, é na mão mesmo. Disseram que há um Stair Tac, mas está estragado. Então tem que ser no muque. As pousadas geralmente tem traslado e te pegam no aeroporto, no caso da Monsieur Rocha, o próprio Rocha foi nos buscar no aeroporto. Ele é muito simpático e está na ilha há muitos anos, portanto conhece tudo e todos, e sabe muita história.
Se locomover na ilha também é um desafio. Há alguns táxis, alguns ônibus, e dezenas e dezenas de Bugues, daqueles que a gente só vê em praia, a maioria disponível para alugar, com preços entre cem e duzentos reais. Nos primeiros dias resolvemos andar de ônibus, fui informado que há adaptados, que passam de meia em meia hora.  Descemos da pousada por uma rua muito esburacada e fomos para o ponto. O motorista (que também é o trocador) apanhou um pouco para descer o elevador, pois era a primeira vez que ele o utilizava. Fomos para a praia do Sueste, onde parou bem ao lado e depois utilizamos o ônibus adaptado para sair à noite para ir a um restaurante. Outra vez o motorista disse que eu era o primeiro cadeirante a utilizar o ônibus. Para nós, a passagem é gratuita. Funciona bem, é suficiente, mas percebi que acabaria sendo uma limitação, pois não é em todo lugar que tem ponto próximo.
Alugar um Bugue é fundamental para agilizar o transporte
A solução, então, seria alugar um Bugue. Os mais baratos são bem simples, não tem nem banco traseiro. Recomendo alugar o modelo Selvagem, é mais espaçoso e tem banco atrás. Desenvolvi uma técnica para entrar nele em segundos. Sair não é tão simples... mas nem tão complicado, é só fazer o processo inverso. Encontramos para alugar por 180 reais, mas negociamos por quatro dias e a diária baixou para 150. O banco atras ajuda, só que para quatro pessoas, falta espaço para a cadeira... a solução foi colocar a cadeira no banco de trás, e a Gi ir sentada em cima! Deu certo, ela ficou bem confortável. Vejam abaixo um video demonstrando como entro no Bugue e como a cadeira vai atrás.
No próximo post tem mais!

sábado, 23 de novembro de 2013

Voo experimental de parapente em Alfredo Chaves

Iniciando o voo, direto para os ares!
Em agosto publiquei aqui uma matéria com o Weverson, primeiro piloto de parapente cadeirante de Minas Gerais, quem sabe até do Brasil. Fiquei fascinado com a ideia, pois eu sempre gostei de voar; antes de ser cadeirante, há muitos anos (quase vinte) eu fiz um curso de paraquedismo em Juiz de Fora, saltei sozinho e tirei até brevê de paraquedista! Já cadeirante, em 2011 fiz um salto duplo de parapente em BH, foi muito bom sentir novamente o prazer de voar. E agora, com essa possibilidade de pilotar, minha vontade voltou com força! Ainda mais que meus pais moram em Guarapari, o que facilita a aventura.
Preparado para voar, curtindo o visual
Peguei o contato do Marcelo Ratis, instrutor do Weverson, e marquei um voo experimental em Alfredo Chaves, onde ele mora e dá o curso. A diferença deste voo para o voo duplo é que o instrutor dá uma noção geral dos controles do parapente e permite que o futuro aluno conduza por alguns instantes o parapente, para sentir o comportamento do velame (o tecido do qual ele é formado) em pleno voo, trazendo uma emoção a mais à experiência.
Momentos antes de decolar
O diferencial do Marcelo, além de já ter treinado com sucesso um cadeirante, é que ele morou nos EUA por um bom tempo, aperfeiçoando suas técnicas, e trabalhou em uma empresa de cadeiras de rodas, aprendendo assim a manusear como ninguém um cadeirante na preparação para o voo. Diferentemente do meu salto em BH, ele prefere iniciar a decolagem com o cadeirante fora da cadeira, sendo sustentado por dois ajudantes pelos tirantes que ligam o duplo ao condutor. Assim fica mais fácil, se necessário, correr um pouco para levantar voo. No voo que fiz, não foi necessário, pois o velame se inflou rápido e saímos do solo.

Visão do parapente em pleno voo
Pilotar o parapente foi emocionante, uma sensação ainda mais libertadora do que o voo em si. E a didática do Marcelo impressiona, ele é mesmo fera no que faz. O voo foi super tranquilo, e o pouso mais ainda, não senti impacto algum, ele "freiou" o parapente no momento certo e pousamos suavemente no chão. Gravei tudo com uma câmera no capacete, abaixo compartilho com vocês o vídeo. O Marcelo está vendo se pode vir a BH dar o curso para mais alunos, quem tiver interesse me contacte por e-mail ou facebook.
Após o pouso perfeito, com o Marcelo e o Dario
Para um cadeirante pilotar sozinho, porém, são necessárias muitas aulas, além de um acessório para a decolagem, chamado Flychair, este da foto acima. Encontrei no site Flychair.fi, fabricado na Finlândia, e custa mais de três mil euros. O Weverson não quis desembolsar essa grana toda e fabricou seu próprio Flychair, e se prontificou a fabricar para quem tiver interesse, sob encomenda. Vejam abaixo o vídeo do voo que fiz. Agradecimentos ao Marcelo, ao Dario e ao pessoal que auxiliou lá em Alfredo Chaves.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Pousada Pilar - Arraial do Cabo/RJ

Decoração rústica e ambiente agradável
Uma pousada, por definição, é um hotel modesto, rústico, ou próximo à natureza. Adaptar uma pousada para deficientes, portanto, demanda mais do que boa vontade, muitas vezes é preciso alterar a estrutura existente e perder um pouco do charme natural. Além disto, como são poucas acomodações, não vale a pena adaptar, certo? A Pousada Pilar, que fiquei em Arraial do Cabo, prova que não é bem assim. Com alguns equipamentos estrategicamente instalados e pequenas mudanças de layout, eles adaptaram dois dos oito quartos disponíveis para deficientes.
A recepção já remete ao fundo do mar
Instalaram um pequeno elevador externo que possibilita a um cadeirante e um acompanhante acessarem os quartos adaptados, no segundo e terceiro andares. Como a pousada tem decoração rústica, o elevador não podia ficar de fora, e tem aquelas grades treliçadas que fecham por segurança. É pequeno, mas suficiente para um cadeirante e um acompanhante utilizarem sem aperto.
Elevador panorâmico cabe um cadeirante e acompanhante
O quarto é bem amplo, tem uma cama gigante, tão grande que eu ficava com saudades da Gi pela manhã! E o banheiro também não fica atrás, dá para fazer uma festa do roupão lá dentro. A pia é enorme, tem vão livre embaixo para entrar com a cadeira e fácil alcance às torneiras. O chuveiro, porém... não tem chuveirinho. E eles só tem uma cadeira de banho. Como o Gustavo chegou primeiro, pegou a cadeira de banho, sobrou para mim somente uma cadeira de plástico, que não resolve, mas ajuda. A cadeira de banho deles, como me contou o Vagner, gerente/proprietário da pousada, não é adequada, pois não solta os braços. O ideal é uma cadeira com braços removíveis e rodas grandes, como a deste link.
Área externa, com piscina e restaurante gourmet
Nos quartos há varanda com vista para a piscina da pousada, que fica nos fundos em meio a muito verde. Há rampa para chegar lá, e além da piscina há uma churrasqueira e uma cozinha gourmet, com forno de pizza e tudo. Por todo lado há bandeiras, enfeites, um lustre feito de cabaças, e até um espelho feito de escotilha que reflete a água da piscina, dando a sensação de estar vendo o mar. Bem original! Na foto dá para perceber, ao centro. Tem também uma sauna, mas esta não é acessível para cadeira de rodas.
Hall/restaurante/bar/sala de descanso/etc/etc. No meu colo, a gata pirulita!
A parte mais charmosa da pousada, na minha opinião, é o hall principal, que é também o restaurante, o bar, a recepção, tem uma salinha de descanso e de TV, e tem até uma fonte de água e um pequeno altar. Muita coisa, né? Mas tudo em seu espaço, muito bem decorado e confortável. E há uma saída para uma varandinha que também dá para a piscina. As janelas da cozinha são escotilhas de um antigo navio japonês, e há vários itens como abajures e mesas com peças de navios antigos. Muito legal!
O chão do estacionamento é bem irregular
O ponto mais negativo, entretanto, fica por conta da garagem. Ela é muito apertada, é preciso parar os carros próximos para caberem todos, e o chão é de pedras irregulares cheias de ressaltos, bem difícil de passar com a cadeira. A única forma de minimizar o problema é parar próximo ao início da rampa que dá acesso à pousada. A rampa tem um início mais íngreme, mas é tranquila de ser vencida. Tem corrimão ao longo de toda a rampa. Além disso, se necessário o Vagner auxilia a subir ou descer, ele tem experiência com cadeirantes.
Vagner mostrando uma das inúmeras bandeiras da cozinha gourmet
O ponto mais positivo da pousada é o tratamento. Seu João e seu filho Vagner tratam os hóspedes com muito carinho e cuidado, procurando saber as necessidades e limitações de cada um. Estão totalmente abertos a sugestões e reclamações, inclusive ficaram de providenciar uma outra cadeira de banho mais adequada e pensar em uma forma de melhorar o estacionamento. Eles estão de parabéns por pensar nos deficientes, com poucas alterações a pousada ficará totalmente acessível. Recomendo muito a pousada, pelo charme e experiência diferenciada.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Check Out do curso de mergulho adaptado em Arraial do Cabo

Gustavo, Will e eu, ao final do check out. O sinal é de "OK" viu?
Sabe aquela expressão "aos 45 do segundo tempo?" Foi assim meu check out, ou batismo, do curso de mergulho adaptado que fiz no início de outubro. Este batismo é necessário para concluir o curso e receber a certificação da HSA, que regulamenta o mergulho adaptado. É necessário que seja em águas abertas, conhecido popularmente em Minas por "marzão". E foi aos "45 do segundo tempo" porque no dia seguinte ao check out estava marcada minha viagem para Fernando de Noronha. E eu precisava da certificação para aproveitar bem os mergulhos em Noronha. Dividimos a turma ao meio, pois só há duas pousadas em Arraial do Cabo que tem dois quartos adaptados cada uma. Gilberto e Múcio ficaram na maior, Varandas ao Mar, e eu e Gustavo fomos para a Pousada Pilar. É uma pousada pequena, apenas oito quartos (e ainda assim dois adaptados!), mas bem charmosa, com belíssima decoração, bem próxima do porto, de onde saem os barcos de mergulhadores. Falarei dela em outro post.
Na estrada, depois de trânsito e chuva, consegui andar bem.
Como eu trabalharia até o dia 1º de novembro, precisaria fazer o check out nos dias 2 e 3, para então viajar para Fernando de Noronha no dia 4. Tudo bem, dava tempo, mas o detalhe é que Arraial do Cabo, no estado do Rio, fica a 600 km de BH! E a única opção seria ir de carro, dirigindo sozinho o tempo todo (a Gi não "curte" estrada). Mas topei o desafio, trabalhei na parte da manhã, saí às 16hs, peguei a Gi, abasteci o carro, e saímos de BH às 16:30. Pela previsão do GPS, levaria 7 horas para chegar lá, só que o GPS não me contou que haveria chuva e trânsito no caminho... Mesmo assim, aproveitando os trechos "bons" da BR 040 e de algumas estradas no Rio, cheguei em Arraial do Cabo exatamente às 00:00hs, na frente da pousada, que na minha cabeça era "Varandas ao Mar". Tocamos na recepção, entrei com o carro na garagem, a Gi tirou a cadeira, pegou uma das malas, fomos para a recepção, e todo mundo olhava pra gente com cara de surpresa. Enquanto procuravam a reserva inexistente, a Gi preenchia a ficha e eu conferia o e-mail da Daniela da Mar a Mar, quando cai em mim e percebi a confusão. Quase apanhei da Gi, que teve que guardar mala, cadeira, e tocamos para a pousada certa. 
Cadeirante a bordo!!
Desfeita a confusão, chegamos, desembarcamos, tomamos um banho e fomos dormir por volta de uma e meia. Eu estava exausto, capotei na cama e acordei às sete e meia, tomamos café e fomos encontrar o Will na outra pousada, de onde saímos para o porto. O primeiro desafio foi entrar no barco, pois mesmo ancorado ele se mexe bastante devido às ondulações do mar, mas com jeitinho e três caras ajudando, fui "içado" para dentro do barco. Me posicionei de lado e travei a cadeira, e saímos para o primeiro ponto de mergulho. Assim que o barco parou o William nos deus as primeiras instruções e começou a "luta" para vestir a roupa de neoprene. Assim como na piscina, a melhor forma de vestir é deitado no chão do barco, com alguns ajudantes para agilizar. 
Murchando a barriga para colocar o cinto de lastro.
Depois vem o cinto de lastro, bem apertado na barriga para não descer, e o equipamento, colete com cilindro e regulador, tudo bem fixado e apertado. Coloca-se a máscara e snorkel e é só cair na água! Ou ser jogado, sei lá... A gente fica bem na beirada do barco, põe o regulador na boca e a mão na máscara, e cai na água já virando para ficar com o rosto para cima. Estando tudo ok, fazemos o sinal para o barco e para os colegas de mergulho. Mais algumas instruções do Will, e fazemos o sinal de "afundar", com o dedão para baixo. A primeira dificuldade que encontramos é estabilizar as pernas na descida. Como não controlamos, é necessário descer devagar, mantendo o tronco ereto, evitando que as pernas subam muito e causem uma "cambalhota". Ao atingir uma boa profundidade, o instrutor faz o comando para virar de peito para baixo, e iniciar o mergulho. Neste check out, fizemos vários exercícios e simulações, para ver se estamos aptos às possíveis situações que podemos encontrar em um mergulho. Outro desafio é manter a flutuabilidade, sem ficar afundando ou subindo demais. Uma vez dominada esta técnica, nosso trabalho é nadar utilizando somente as mãos, sem encostar na vida marinha.
Ao fim do curso ganhamos uma "chuva de champagne"!
Depois de "passar" nos exercícios, a gente pode curtir um pouco o visual. Dei muita sorte nas mergulhos que fiz, logo de cara nos deparamos com uma tartaruga, nadando tranquila, consegui seguir ela um pouco. Depois vi moréia, estrelas do mar, diversos peixes e outra tartaruga, que estava comendo alguma coisa no fundo. Fui em direção a ela e filmei um tempão ela se alimentando. A água é muito fria naquela região, na saída da água é importante nos aquecer bem. Saí da água e aguardei o tempo necessário para voltar a mergulhar - é importante dar um tempo entre um mergulho e outro, isso a gente também aprende no curso. Há até uma tabela que mostra o tempo mínimo entre um mergulho e outro.
Ao final de dois dias de mergulhos, tudo OK!
No domingo saímos cedo novamente, fizemos mais exercícios, vimos mais animais, corais, esponjas e peixes, e ainda deu para curtir um pouco o balanço das ondas e o sol na proa do barco. Depois dessa maratona, almoçamos, fechamos a pousada, preparamos o carro e caímos na estrada de novo. Mais 600 km até BH, sete horas e meia, e finalmente, caminha de casa! Para dormir um pouco antes de sair para o aeroporto de Confins, pegar quase cinco horas de vôo, troca de avião, e enfim, Fernando de Noronha! Foi muito legal voltar a ver de perto este mundo tão diferente do nosso! O Will realmente é um tremendo instrutor, mandou tão bem no mar quanto na piscina. Fiz muitos vídeos, mas não tive tempo para editar. Nos próximos posts vou contar sobre a experiência de mergulhar em Noronha!

UPDATE: Confundi os mergulhos, o tubarão lixa eu vi foi em Noronha! É que um foi dois dias depois do outro, dá um desconto... rsrs
Vejam abaixo o depoimento do Gilberto Porta, que fez o check out com o Múcio, nos dias 31 e 1.
http://www.bhlegal.net/blog/mergulho-adaptado-em-aguas-abertas/

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