terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Como medir um cadeirante

Haja fita métrica pra mim!
Essa semana recebi a seguinte dúvida de um leitor: como medir um cadeirante? Quem perguntou foi o Aldenir, professor de Educação Física que se deparou com este problema. Acredito que a maior dúvida dele é como fazer isto sem uma cama ou maca por perto, com a pessoa na cadeira mesmo. Depois que virei cadeirante, me medi umas duas ou três vezes, para ver se eu tinha encolhido. E encolhi mesmo! Perdi alguns milímetros por causa do acidente, afinal minha vértebra T2 explodiu, e além disso, a pessoa sentada o tempo todo, sem alongar, sem levantar, pode encolher um pouco com o passar dos anos. Eu já perdi dois centímetros, tinha 1,95m antes do acidente, e na última medição, que no meu caso faço de pé mesmo, deu 1,93m. Essa técnica é até engraçada, eu fico de pé com as talas nas pernas e a Gi pega uma cadeira (tem que ser cadeira mesmo) e fica na ponta dos pés para alcançar minha cabeça com uma trena.
Na impossibilidade de deixar o paciente de pé, qual a alternativa? Para responder a esta pergunta recorri à minha ex-super-fisioterapeuta Andrezza Rodrigues, que me deu a seguinte resposta:
"Você deita o paciente bem retinho na cama (o ideal seria uma maca) faça um risco no topo da cabeça marcando na maca e outro risco no calcanhar com as pernas bem esticadas e a ponta dos dedos voltadas para trás. Peça ao cadeirante para sair do local marcado e meça a distância de um traço ao outro.
A outra forma é: primeiro medir as pernas hiper estendidas; calcanhar à espinha iliaca antero superior (EIAS); depois a cabeça do úmero até a EIAS, e por ultimo a cabeça."
Ela prefere a primeira forma, acha mais fidedigno. Fiz o teste na cama e deu em cima, 1,93m. É muito metro de homem... Esse tamanho todo às vezes ajuda, às vezes atrapalha. Só minhas pernas tem 1,04m, e sem movimento, tem hora que é um parto "trazer" elas junto comigo. Passar elas por baixo do voltante ao entrar no carro é sempre complicado. Por outro lado, para pegar coisas no alto, meus dois metros de envergadura (braços abertos) ajudam muito.
Agradeço à Andrezza pela explicação e pela contribuição! Agora já sabem: qualquer dúvida, perguntamos para tia Andrezza!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Empresa aérea deve atender necessidades de deficientes físicos

Devemos exigir nossos direitos sempre
Ultimamente tenho lido muitos relatos de cadeirantes reclamando do tratamento recebido por companhias aéreas. Eu mesmo já passei muita raiva e alguns perrengues em viagens pelo Brasil. Em uma delas, perderam uma almofada Roho minha, e eu entrei na justiça, recuperando o valor da almofada e ainda um acréscimo por danos morais. Muita gente deixa de entrar na justiça por acreditar que o caso não se aplica ou que tem pouca chance de ganhar. Para estas pessoas, falta uma consultoria jurídica para orientação. Agora o Blog do Cadeirante conta com uma parceria jurídica. O advogado Lucas Brito fará postagens por aqui sempre que alguém tiver alguma dúvida relevante ou importante. Espero que gostem!
"O Código de Defesa do Consumidor estabelece que o fornecedor de serviços, ao se instalar no mercado de consumo, deve dispor de todo aparato tecnológico e humano, de modo a garantir atendimento adequado e eficaz ao consumidor, evitando constrangimentos indevidos, sob pena de responder pelos danos causados.
E quando o assunto é a prestação de serviços de transporte aéreo, notadamente quando o serviço é prestado para passageiros com necessidades especiais, as empresas do setor devem estar preparadas para garantir a esse passageiro um atendimento adequado e eficaz, devendo seguir à risca as regras estipuladas pela Agência Nacional de Aviação (Resolução nº 009 de 05 de junho de 2007).
Entretanto, a realidade passa longe daquele atendimento adequado e eficaz estabelecido pelo CDC e pela ANAC. O que se verifica na prática é o total desrespeito àquelas pessoas que necessitam de cuidados especiais para embarcar e desembarcar das aeronaves. E a insatisfação com o tratamento dado pelas Companhias aéreas a esses passageiros cresce a cada dia. Basta uma simples consulta às redes sociais para constatar essa indignação e entender as dificuldades enfrentadas.
Uma das falhas das Companhias aéreas é não bloquear pelo menos um assento destinado ao passageiro com necessidades especiais. Explico: Não é novidade que os passageiros com dificuldades de locomoção precisam de assentos junto aos corredores, dotados de braços removíveis, localizados nas primeiras fileiras. Ora, se o passageiro, ao comprar seu bilhete, informou que tinha esta necessidade, qual é a razão de não se bloquear pelo menos um assento para uso dele, de modo a evitar que terceiros, sem necessidade, ocupem o lugar? Essa simples medida evitaria o constrangimento do passageiro com restrições de locomoção ter que tomar um lugar inadequado, para posterior reacomodação.
Outra falha que causa indignação é o despreparo dos funcionários da Companhia aérea acerca das regras da ANAC, que tratam do acesso ao transporte aéreo de passageiros com necessidades especiais. Por favor, me corrijam se estiver errado, mas tenho convicção de que não é o passageiro que deve informar seus direitos aos funcionários da empresa. Pelo contrário, o correto é o passageiro receber todas as informações acerca dos seus direitos naquele voo.
Ademais, é sabido e notório que a empresa aérea deve disponibilizar veículo equipado com elevador para efetuar, com segurança, o embarque do passageiro com restrição de locomoção, principalmente se a aeronave estiver estacionada em posição remota. Qualquer tentativa dos funcionários da empresa aérea em erguer o passageiro não comparece procedimento seguro, o que deve ser rechaçado de plano por aquele passageiro com necessidades especiais que pretende viajar de avião.
E veja, um passageiro com necessidades especiais enfrentou todas essas falhas que acabei de comentar, ao viajar por um trecho Brasília – São Paulo. Indignado, ajuizou ação contra a Companhia aérea, o que acarretou na condenação da empresa em R$4.000,00 por danos morais. E olha o que disse a Juíza do Juizado Especial do Consumidor ao julgar o caso:
"o autor foi exposto a todo constrangimento diante dos demais passageiros ao fim de ver atendidos os seus direitos de portador de necessidades especiais, tendo de se submeter às ordens do comandante e ficar na poltrona 1-B, além de ser exposto a vexame, como se o outro passageiro reacomodado estivesse fazendo uma gentileza, e não simplesmente cumprindo o determinado pelo art. 30 da Resolução nº 009 da ANAC". (TJDFT. Processo: 2013.01.1.058045-0)
A 1ª Turma Recursal do TJDFT confirmou a decisão. 

Um abraço e até a próxima.
Lucas Brito


* Obs. : o termo "portador de necessidades especiais"  é utilizado pela ANAC por entender tratar-se de deficientes, idosos e outros. 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Can Am Spyder adaptada para cadeirantes

Can Am Spyder com a cadeira de rodas, e o Anderson ao lado
Já mostrei aqui o triciclo elétrico Tribike que utilizo no dia a dia e se parece com uma moto, tem a cara e o porte de uma Biz. Ela é preparada para rodar no trânsito, é ágil e silenciosa, e para quem curte tem um gostinho de moto, aquele ventinho na cara e sensação de liberdade. O problema é que não dava para levar a cadeira de rodas junto, mas acabei resolvendo a parada com dois mosquetões. Funciona, mas a cadeira sofre absorvendo as irregularidades do asfalto. Não é tão ruim, pois o Tribke não corre muito, anda em média a 25 km/h. É um veículo legal, dá para sentir um pouco a sensação de moto, mas fica devendo...
Can Am Spyder 990 Rotax
E eis que descobri um outro veículo muuuuito mais legal que o Tribike, um triciclo de grande porte com duas rodas na frente e com alta cilindrada e muita tecnologia:  a Can Am Spyder! Eu já havia visto nas ruas, imaginei que seria possível um cadeirante guiar, mas não imaginava que poderia ser um veículo autônomo! Considero um veículo autônomo aquele que permite a um cadeirante sair sozinho, chegar a algum lugar e passar para a cadeira sem ajuda de ninguém. Enfim, independência para sair e ir para qualquer lugar.
A adaptação que permite levar a cadeira de rodas
Até que vi uma foto de um amigo de BH, o Anderson Cobra, com uma Spyder adaptada para deficiente! A adaptação é uma caixa de metal fixada na lateral da Spyder onde ele encaixa a cadeira de rodas. O câmbio dela é semi automático, é necessário passar as marchas na mão, em uma alavanca abaixo do punho esquerdo, semelhante ao câmbio das bicicletas: com o dedão a gente sobe as marchas e com o indicador reduz, mas a redução, se não for feita, é automática. Muito fácil de guiar e extremamente estável, a Spyder transmite muita segurança. A adaptação é parafusada ao quadro da Spyder e a cadeira de rodas dobrada é fixada por esticadores. O freio passou do pé para o punho direito, e além disso há uma plataforma para apoiar o pé, evitando que se solte. E para completar, um cinto de segurança ajuda na estabilidade do corpo.
Detalhe da cadeira presa por esticadores
A condição é mesmo muito segura, como o encaixe do corpo é bem justo e ainda tem o cinto, não dá a impressão de insegurança nas curvas. Basta inclinar levemente o corpo para o lado para fazer as curvas com segurança. E ela anda muito bem: o motor de quase mil cilindradas desenvolve 106 cv, suficiente para levar os 317 kg dela com desenvoltura. A adaptação da cadeira acrescenta uns 50 kg, e a cadeira mais uns 15. Mesmo assim há potência de sobra para levar o cadeirante e uma carona - esta é mais uma vantagem da Spyder, permite levar a cadeira e a carona com segurança e conforto. A sensação é de guiar uma moto mesmo, com o vento batendo no rosto e aquela sensação de liberdade que só um veículo aberto pode proporcionar. E mais uma vantagem sobre as motos: a Spyder tem marcha a ré! É possível fazer baliza e manobrar facilmente utilizando a ré.
A condução é como em uma moto
A Can Am Spyder adaptada tem apenas dois pequenos defeitos: o preço, bem puxado, em torno de 50 mil reais uma usada, e só carrega cadeira de rodas dobrável. O preço é alto porque ela é importada do Canadá e é um veículo de nicho, específico para diversão e lazer. O problema de carregar somente cadeira dobrável é um problema para fãs de carteirinha de cadeiras monoboloco, como eu. Acho cadeiras dobráveis muito desengonçadas, mais pesadas e visualmente carregadas, apesar que hoje em dia há cadeiras dobráveis mais bonitas e leves, como as da TiLite. Fiz um vídeo mostrando a Spyder e tentando passar um pouco da sensação ao pilotar, confiram abaixo (não reparem no estado da minha cadeira dobrável, está bem detonada). Obrigado por nos mostrar o veículo, Anderson!

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