sábado, 29 de outubro de 2011

Colocando a cadeira no táxi

Estou "a roda" desde o início do mês, já que vendi meu carro e o novo ainda não chegou - na verdade, chegou essa semana (dia 25), mas só vou conseguir pegá-lo na próxima sexta, pois será instalado o sensor de estacionamento na Automax e depois ele segue para a Hélio Adaptações, para instalar uma adaptação Elite, que mostrarei aqui depois, e então vai para o Inmetro para certificar. Portanto, meus deslocamentos tem sido feito de táxi.
Já mostrei como é o passeio no Dobló adaptado que roda aqui em BH e agora vou dar dicas de como colocar uma cadeira monobloco em táxis com porta malas pequenos ou com cilindro de gás. Em carros pequenos, como Gol ou Palio, tem um macete para caber uma monobloco no porta malas com roda e tudo - desde que não vá mais ninguém no carro, no banco traseiro. O jeito é dobrar a cadeira, tirando a almofada, tirar a tampa do porta malas e colocar as rodas dianteiras por cima do banco traseiro, como na foto abaixo. Se arredar ela um pouco para o lado, cabe uma pessoa no banco de trás.
Cadeira monobloco no porta malas de um Gol
Há ainda uma solução para o caso de precisar ir alguém no banco de trás, como mostrei neste post. Nesse caso tem que soltar o banco traseiro e empurrar um pouco para frente, para conseguir fechar o porta malas. Quem for atrás fica um pouco desconfortável, pois o banco traseiro fica um pouco pra frente. Há ainda outra forma interessante de colocar a cadeira no banco de trás, demonstrado pelo Christian Matsuy no blog Mão na Roda, cliquem aqui para conferir.
"De ladinho" cabe bem a cadeira, e as duas rodas
Um outro problema que encontramos ao andar de táxi é o cilindro de gás natural. Mesmo em carros com porta malas grande, como o Siena, o cilindro diminui bastante o espaço disponível e pode ser um transtorno para colocar uma cadeira monobloco. Mas há algumas formas de colocar que cabe com tranquilidade, até com as rodas, como nas fotos acima e abaixo. 
Outro jeito de colocar uma monobloco, mas uma roda vai na frente
Isso me lembrou um episódio que passamos em Buenos Aires. Tínhamos saído para jantar no restaurante Cabana Las Lilas (muito bom, por sinal) e na volta pedimos um táxi. Apareceu um Siena, entrei no carro tranquilo, pois o porta malas é grande, mas o cara tinha um cilindro de gás natural lá dentro. Ao tentar colocar a cadeira, junto com a Gi, o motorista cismou que ia caber, e eu já estava dentro do carro e ouvindo o cara enfiando a cadeira, batendo no porta malas, e a Gi gritando "No moço, no cabe, no cabe". Detalhe, ela estava "altinha" pelo vinho que tomamos antes e não parava de rir. No fim das contas, o cara tanto bateu que conseguiu colocar a cadeira, e fomos embora. Mais um detalhe: era um desses taxistas que dirige como louco, enfiando o carro onde mal cabe uma moto, e a Gi ficou tão nervosa que não parava de rir e gritar "calma moço, devagarito!" Eu, claro, só ria!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A novela da compra do carro... de novo - últimos capítulos


Quase com as mãos no carango novo....
Atualizando minha saga para compra do segundo carro com isenções: no último post sobre isso, comentei que a isenção da Receita Estadual estava pronta e bastava buscá-la. Eis que, na segunda semana de setembro, finalmente saiu minha isenção da Receita Federal. Busquei-a lá e, assim que tive oportunidade, aproveitando que meus pais estavam de visita, fui na Secretaria da Fazenda de MG buscar a isenção estadual para finalmente fazer o pedido do carro. 
Lá chegando, fiquei no carro e passei para meu pai o protocolo para que ele buscasse a isenção para mim. Depois de quase duas horas, ele voltou com a má notícia: para minha surpresa, a isenção tinha caducado. Passaram-se mais de três meses e ela foi para o limbo. Então, foi necessário entrar novamente com o pedido.
O engraçado é que, um mês depois que entrei com o pedido, em junho, liguei pra lá para saber e disseram que estava pronto, e que eu poderia buscar quando fosse necessário. E só. Ninguém falou que o documento vencia, que tinha prazo para buscar. Para piorar, eu liguei há um mês e meio e disseram a mesma coisa.
Como se não bastasse, meu pai veio me contar sobre o atendimento lá: abaixo da crítica. Primeiro, mandaram ele para um lugar. Depois, para outro. Enfim, pediram para subir para outro andar. Por isso demorou tanto.
Resumo da ópera: entrei novamente com o pedido de isenção na SEF no dia 29 de setembro, peguei a isenção no dia 10 de outubro (felizmente saiu rápido) e finalmente fui à Automax fazer o pedido do meu tão sonhado Bravo. O Geraldo Amaral, gerente de vendas especiais, junto com a Luciana, consultora de vendas, me atenderam com extrema presteza, como é de costume. Me ajudaram a configurar o carro do jeito que eu esperava, o que me deixou muito satisfeito. E ansioso para chegar logo. Me pediram sessenta dias para entregar o carro, pois pedi com muito opcionais, mas tenho certeza que chegará antes disso.
Fica a dica: cuidado com os prazos das isenções!
ATUALIZANDO: Hoje de manhã a Luciana, da Automax, me ligou dizendo que o carro já chegou na concessionária!! Fiquei muito feliz e já estou combinando com o Leonardo, da Hélio Adaptações, de pegar o carro lá para adaptar. Se tudo der certo, semana que vem vou lá pegar o carro. Não vejo a hora!!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

II Fórum de Acessibilidade de Garopaba

Ontem participei, por videoconferência, do II Fórum de Acessibilidade de Garopaba, em Santa Catarina, com a palestra "A pessoa com deficiência e a mobilidade urbana". Foi um convite da queridíssima Karla Garcia, que citei nesse post, que é a pessoa mais engajada que conheço com a causa da acessibilidade. Ela compra as brigas e corre atrás de melhorias no acesso em tudo quanto é lugar. Ou seja, é das minhas!
Participando do Fórum em SC, direto de MG. Ao fundo, quadro da igreja de Garopaba.
Foi muito interessante participar pela internet, eles projetaram minha imagem em um telão lá e eu via a platéia no meu computador. Para a palestra, preparei um roteiro e comecei falando da minha história, antes e depois do acidente, depois dei meu depoimento sobre a situação da acessibilidade nas cidades. Neste tópico, falei sobre as calçadas, que são despadronizadas e cheias de buracos e desníveis, mesmo nas cidades grandes. Falta cobrança dos órgãos governamentais para que os comércios mantenham as calçadas em bom estado e falta bom senso por parte dos moradores de casas e edifícios para manter a calçada acessível a todos, principalmente nas entradas de garagens, muita gente deixa ressaltos ou degraus, e o ideal é que façam uma suavização nas beiras para que seja possível passar com a cadeira sem correr perigo. Nos comércios, muitas vezes uma rampa móvel resolve, pois costumam deixar um ou dois degraus na entrada, e em um caso de necessidade basta colocar a rampa sobre os degraus para permitir o acesso.
Do outro lado da tela: participantes do Fórum em Garopaba/SC
Falei também sobre os transportes públicos, em que faltam mais ônibus adaptados nas linhas, e muitas vezes, mesmo havendo ônibus com elevador, as pessoas não sabem operar ou o equipamento está quebrado. O metrô de BH é outro exemplo ruim, não oferece acesso aos cadeirantes, que precisam de ajuda para entrar ou sair dos vagões.
Passando para o transporte particular, citei a dificuldade que é conseguir comprar um carro com isenções, pois a burocracia é muito grande e chega a ser desgastante correr atrás de toda a papelada. O processo poderia ser simplificado. Uma vez com o carro na mão, o que encontramos é muita falta de respeito com as vagas reservadas para deficientes, muita gente ainda tem coragem de parar o carro nessas vagas dizendo que é "só por um minutinho" e atrapalha demais a quem precisa.
Finalizando, falei sobre as soluções que julgo serem necessárias para melhorar este quadro, que começam pela reivindicação de quem precisa e se depara com problemas de acessibilidade e passa por políticas públicas sérias que devem ser aplicadas pelos órgãos governamentais responsáveis por garantir a todos plenas condições de ir e vir. Além disso, é importante o bom senso da população em geral, que precisa ficar mais consciente quanto à situação da acessibilidade e sempre lembrar disso em todos o lugares.
Parabenizo e agradeço à Karla pela iniciativa e aos garopabenses, que estão preocupados com a acessibilidade e buscando se informar sobre as melhores práticas e formas de atender a todos da melhor forma possível.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ônibus de turismo adaptado

Esse sim, pode usar e abusar do símbolo da acessibilidade
Finalmente alguém percebeu essa lacuna do mercado: um ônibus de turismo realmente adaptado para cadeirantes, com elevador e espaço para cadeira de rodas no interior. Falei neste post como acho um absurdo estes ônibus de turismo sem qualquer adaptação que ostentam vários adesivos com o símbolo da acessibilidade, como se fosse fácil um cadeirante entrar num destes. A Sunflower, uma empresa de turismo de São Paulo que atende à AACD, foi pioneira na área e procurou uma empresa que adaptasse um ônibus de turismo. A empresa que topou fazer a adaptação da carroceria foi a Irizar, a única que se dispôs a fazer esta.
Neste ônibus, eles podem acomodar até duas pessoas em suas respectivas cadeiras de rodas e mais 44 passageiros. Normalmente os passageiros que não têm dificuldade de transbordo, preferem viajar nas poltronas, reservando assim o espaço para quem realmente não pode sair de sua cadeira.
A adaptação do ônibus não interfere no layout interno, as poltronas podem ser removidas ou recolocadas no lugar em questão de minutos. Este equipamento, para ser instalado, só depende da boa vontade do empresariado, pois não atrapalha na capacidade total do veículo e não o torna de uso exclusivo.
Vejam no vídeo abaixo como ele funciona:
Agora eu torço para que algum empresário de Minas tome essa coragem e repita a iniciativa do pessoal da Sunflower. Ou melhor, minha torcida é para que essas grande companhias de ônibus percebam a fatia de mercado que deixam de atender e disponibilizem, pelo menos nas principais linhas, um ônibus adaptado. Afinal, cadeirante também gosta de viajar!
O Jairo Marques também publicou uma matéria com este ônibus, confiram.

sábado, 22 de outubro de 2011

Rodando no Táxi Adaptado

Visão do cadeirante, todo mundo fica baixinho
No domingo passado, assim que tive alta, pensei em como ir pra casa, já que estou a pé (ou melhor, a roda) porque vendi meu carro e o novo ainda não chegou. Tive então a ideia de chamar o Táxi Adaptado, um Dobló com elevador na traseira, em que o cadeirante vai na própria cadeira, como já mostrei aqui em outras ocasiões.
Liguei para o Sr. Ranulfo, que dirige e opera o veículo, e ele conseguiu um horário pra mim (tem que agendar com antecedência, pois ele é muito procurado). Às duas da tarde ele apareceu no hospital para me pegar.
A operação do elevador é tranquila, bem rápida e segura. Em menos de um minuto eu já estava dentro do carro. Aí vem as travas. São quatro pontos de travamento da cadeira, um em cada roda. Depois o Sr. Ranulfo passa o cinto de segurança por cima do cadeirante, deixando bem firme. Tudo pronto partimos para o destino.
É uma sensação muito diferente ver o trânsito lá de cima, a posição é muito acima do que qualquer uma que já havia experimentado. Balança um pouco, mais pela altura mesmo do que pela cadeira, que fica bem presa. Só acho que faltou um "segurador" (mais conhecido como pqp) posicionado mais alto para que o cadeirante possa se segurar e transmita mais segurança, pois nós geralmente temos pouco controle de tronco, e mesmo com cinto de segurança dá um certo medinho no início. Dá para se segurar na estrutura do cinto, mas podia ser melhor. Quem precisar do táxi adaptado é só ligar para o Sr. Ranulfo, no número (31) 9941-4470. Mas recomendo ligar com antecedência, pois a agenda dele é cheia.
Fiz até um vídeo com um pedaço do trajeto, para terem uma ideia. É como andar em um micro ônibus, mas sem um monte de gente te apertando. Confiram:

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

De volta pro hospital

Esse fio incomoda, prefiro ser "wireless"
É gente, estava indo tão bem... As cirurgias correram bem, a recuperação estava indo de vento em popa, mas quando a esmola é demais...
Na terça feira à tarde comecei a me sentir mal, as dores vieram com força e junto alguns calafrios. Quando a Gi chegou do serviço eu já estava suando frio, chamamos um táxi e voltamos para o hospital. Fomos para o pronto socorro, que de pronto não tem nada. A essa altura, eu já tinha começado a tremer de dor. Mais meia hora e fui atendido, e a médica já disse que provavelmente ia me internar. Fui mandado pra enfermaria e me impressionei com o descaso dos enfermeiros. Eu estava tremendo igual vara verde, gemendo, mas ninguém dava muita atenção. Para arrumar um leito foi uma eternidade. Até resolverem me atender passou mais de meia hora. Isso porque era emergência e com plano de saúde, imagine se não fosse.
Me deram tramal na veia e remédios para febre, mas a dor não cedeu. A médica passou no leito e sugeriu morfina na veia, como eu estava desesperado aceitei. Nunca tinha tomado morfina na veia, e por incrível que pareça não resolveu. Mandaram então mais uma dose, e aí começou a funcionar. E a dar onda...
Mais quase uma hora e subiram comigo para internação. Até aquele momento, a febre tinha abaixado, mas a dor ainda era forte.
Resumindo: constatou-se infecção urinária, que eu não tinha desde janeiro. E nunca tive uma tão forte. O soro na veia foi também sugestão médica, pois a pressão estava baixa. Hoje estou melhor, devo ter alta amanhã, mas nesse meio tempo ainda não consigo saber se o neuroestimulador está fazendo efeito, pois desliguei nos primeiros dias e liguei ontem de novo, mas os resquícios da infecção atrapalham os efeitos.
Agora espero dar um tempo de hospital, daqui a pouco vou ser incluído em um programa de fidelidade: a cada cinco internações, ganhe uma!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Neuroestimulador Medular na prática

Controle remoto do neuroestimulador
Hoje, três dias após o implante de um neuroestimulador na medula, já tenho uma ideia dos efeitos. Foram duas cirurgias, uma no dia 11/10, quando foi introduzido um eletrodo ligado a um controle externo para testes, e outra no dia 14/10, com a introdução de outro eletrodo, em um nível mais baixo, e foi embutido um gerador, que é a unidade que envia pulsos elétricos para os eletrodos. Este gerador é operado por controle remoto, este da foto aí de cima, cuja operação explico no vídeo abaixo.
Após a primeira cirurgia, senti uma melhora nas dores até o quadril. Porém, como comentei com os médicos, eu estava com poucas dores naqueles dias, portanto a avaliação foi limitada. Na sexta feira, quando fiz a segunda cirurgia, minhas dores estavam voltando, e no mesmo dia pedi ao Paulo para reprogramar o aparelho. No sábado e domingo, já comecei a achar que não tinha adiantado nada, pois tive crises fortes de dor, e mesmo aumento a frequência do aparelho não tinha resultado. Nos dois dias o Dr. Bruno Perocco, outro neurocirurgião que também atuou na minha artodese, esteve no quarto do hospital e ouviu bem minhas lamentações, sugerindo que eu fosse pra casa e repousasse durante essa semana, observando os efeitos ao longo dos dias.
Ontem cheguei em casa um pouco melhor, mas eu havia tomado remédios no hospital para conter a crise. À noite dormi bem, com menos dores, e hoje acordei ainda melhor. Acho que o fato de estar em casa, na minha cama, ajudou, mas o efeito se fez sentir, pois acontece muito de eu acordar com muitas dores ou crises. Hoje passei bem o dia, desliguei o aparelho por alguns minutos para ver se estava mesmo fazendo efeito, e senti diferença. Mas por outro lado, senti muitas dores da cirurgia, dos cortes e pontos (detalhe: ele implantou o gerador bem onde tenho mais sensibilidade nas costas). Ainda é cedo para afirmar que resolveu meu problema, mas até o fim da semana terei mais respostas.
Controle ligado buscando o gerador
Aproveito para mostrar como funciona a coisa: posiciono a parte redonda do controle remoto no local onde foi implantado o gerador, o controle localiza o aparelho e eu escolho uma programaçtão. São três pré-programas, um ativa o eletrodo de cima (pouco abaixo de T5), um ativa o de baixo (T10), e um ativa os dois ao mesmo tempo. Escolhido o programa, aumento a intensidade dos pulsos elétricos por dois botões na parte superior do controle, um de mais e um de menos. Fiz um vídeo para exemplificar o funcionamento, confiram abaixo.
Descobri uma vantagem do neuroestimulador: quando eu for a São Paulo e alguém disser "e aí mano, tá ligado?", eu vou poder responder com provas, mostrando o controle remoto - "tô ligadão mano!!"

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Segunda cirurgia do Neuroestimulador

Joinha joinha depois da segunda facada
Hoje finalmente acabaram-se as fases "cirúrgicas" do implante do neuroestimulador medular. Me acordaram às sete horas da manhã e me levaram direto pro bloco cirúrgico (e eu com aquela camisolinha "sexy" de hospital). Estava com um sono cavalar, pois tinham me acordado às cinco e meia para medicamentos e procedimentos, e como já estava na maca, fiquei dormindo na sala pré-cirurgia (nessa sala de espera ninguém liga de ficar esperando muito tempo).
Entrei então na sala de cirurgia e o melhor, digo, o Baroni ainda não havia chegado, portanto dei mais uma cochilada (devo ser o paciente mais tranquilo que já viram). Às quinze pras nove começaram os procedimentos. Assim como a primeira cirurgia, me pediram para ficar sentado na maca enquanto operavam lá atrás (no bom sentido, claro). E a máquina de raios X portátil entrou em cena para fazer as chapas e confirmarem a introdução do eletrodo (ainda no bom sentido). Ah, não comentei no último post, como o primeiro eletrodo fez efeito parcial, resolveram introduzir mais um eletrodo, um pouco abaixo do primeiro, para ver se estimulava o resto do corpo.
Após aplicação de anestesia local e um leve sedativo, começaram a fazer a punção (buraco, dos grandes) para introduzir o eletrodo. O anestesista-cirurgião da vez foi o Luquinha, e ele teve bastante dificuldade para introduzir o instrumento (no bom... ah, já entenderam). E nisso os raios X comiam solto. Tentaram introduzir o eletrodo neste buraco mas houve resistência. Resolveram então fazer outra punção. Nesta, começaram a cutucar uma área que tenho mais sensibilidade nas costas. Mas estava suportável, deixei quieto.
Mais uma vez houve resistência e o eletrodo virou. Tentaram mais e mais, mas a solução foi fazer outra punção. Nessa hora eu não aguentei e falei: "Desse jeito vocês vão deixar uma "punção" de buracos nas minhas costas." Esse é o problema de deixar o paciente mala acordado, eu fiquei perturbando os médicos o tempo todo. Acho que pacientes foram eles.... Nesta terceira punção, apesar de alguma resistência, insistiram mais e finalmente o eletrodo encontrou seu lugarzinho. Ficou tão bom que eu pedi para imprimir o raio X para levar de recordação. 
"Foto" do eletrodo dentro da coluna, em raio X tirado durante o processo
Aí veio a parte mais invasiva: introduzir o gerador dentro do corpo (no bom, claro). O médico faz uma bela sutura, uns quinze centímetros, e abre espaço lá dentro para enfiar o aparelho. Ficou tão bom (o Baroni é o melhor mesmo) que ele pediu pra uma das ajudantes tirar uma foto com o celular para me mostrar. Infelizmente ela não me mandou a foto para postar aqui, ficou lindo (imagine um aparelho eletrônico dentro do corpo visto por um rombo na pele).
Finalizaram a cirurgia depois de três horas e meia fechando o buraco e me limpando. Mas não sem mais uma piadinha minha: "já que estou aqui e cortaram minha cintura, que tal fazer uma lipo?" Que pena que não aceitaram...
Ah, depois o Paulo, técnico do aparelho, veio ao quarto para programar os eletrodos. Os de cima já haviam sido programados, e estavam dando resultado, passamos para o de baixo então. Ele vai testando um por um e eu falo a reação. Gostei do resultado, diminuiu uns 80% da dor. Pode ficar ainda melhor com o tempo. Ele me ensinou a programar, ligar e desligar, e a carregar. Nessa hora, também não resisti: "só não fala que tenho que ligar esse fio grosso na tomada e a outra ponta no..." Felizmente, não é assim!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Neuroestimulador - fase 2

Agora é só implantar esse bichinho
Pelo jeito minha estada no hospital vai se estender... A cirurgia de implante de neuroestimulador medular é realizada em duas etapas. Na primeira, é implantado o eletrodo na medula, e ele é ligado a um aparelho de testes, que fica externo ao corpo do paciente. Este aparelho é utilizado para testar as programações que trazem melhores reações ao paciente, e assim que uma programação é definida, ele é travado pelo técnico, mas o paciente pode aumentar ou diminuir a intensidade dos estímulos em caso de aumento de dor.
O paciente fica com este aparelho por uns dias para identificar se o bloqueio da dor está sendo eficiente, e então ele volta ao bloco cirúrgico para implantar outro aparelho estimulador, bem menor, que ficará dentro do corpo do paciente, e que conterá aquela programação definida na fase de testes. Estes aparelho é recarregável, e pode também ser controlado pelo paciente da mesma forma. 
Programador e gerador do neuroestimulador - até rimou
Resumindo o lero lero, meu período de testes acabou, e amanhã será implantado o gerador, este aparelho da imagem acima (este é um modelo que encontrei, não sei se o meu será igual). Eu receberei um "controle remoto" também parecido com o da imagem, para aumentar ou diminuir a intensidade. O problema vai ser me segurar para não ficar fuçando no controle e alterar a programação feita... Na verdade, já perguntei para o técnico se eu poderia mexer também na sintonia fina do programador, e ele disse que se o médico concordar, sim. Bem, se deixarem, e um belo dia vocês me virem na rua dando pulinhos na cadeira, é porque estou indo para a oficina reprogramar o bichinho...
Pior é se meu sobrinho pegar o controle, vai achar que sou carrinho de controle remoto e vai ficar apertando os botões... e eu pulando!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Primeiros resultados do neuroestimulador

Estou virando um cyborg: o fio vem da minha medula
Ontem fiz a cirurgia de implante de um eletro neuro estimulador medular. O procedimento correu bem, mas demorou três vezes o previsto, ou seja, três horas. Foi difícil chegar no lugar certo, pois a introdução do eletrodo é feita por punção, e chapas de raio X são tiradas para identificar o lugar correto. Devo ter tomado umas trinta chapas, o que não é nada perto das 500 mil que já tomei na vida.
Interessante que a cirurgia foi feita comigo sentado e acordado. O anestesia, dr. Marden, é muito figura e ficou enchendo o saco do dr. Baroni, o cirurgião. Ainda tenho dúvidas quanto à especialidade que tem mais malas. Me posicionei na maca e ficava alguém ajudando a me estabilizar enquanto os dois trabalhavam nas costas. Não foi muito agradável dois marmanjos mexendo atrás de mim, mas pelo menos eu estava sentado, protejendo o que interessa. Afinal, bunda de paraplégico tem pouca sensibilidade, com anestesia então...
Depois de introduzido o eletrodo, fizeram a tunelização para passar o fio, e esse processo demorou bastante e foi onde levei mais cortes.
Aí entrou em ação o Paulo, para programar o aparelho e identificar as respostas. Ele foi ligando um por um (são 8) e aumentando a amperagem, e a cada mudança perguntava como estava a dor. Nos testes já percebi nitidamente a diminuição da dor, principalmente nas costas e nádegas.
Feridas de guerra (contra a dor): furos e cortes
Funcionou bem, diminuiu em mais de dois terços a dor geral. Mas as pernas ainda queimam e formigam um pouco. Ficou mesmo bem feita a cirurgia e estou otimista. No fim das contas, aprendi um bordão do hospital: o Baroni é o melhor!
Aproveito para agradecer a todos que me deram força pelas redes sociais, fiquei muito feliz com o carinho de todos.
Sobrivi bem a mais uma facada!!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Fazendo a barba

John, Paul, Ringo e George agradecem
No início do mês completei mais uma primavera (esse deve ser o jeito mais fresco de falar aniversário), e o melhor presente que ganhei foi um barbeador elétrico sem fio. Não falo que foi o melhor só porque foi minha mãe que me deu e eu já estou de olho em outro presente bom pro natal, mas porque é um aparelho muito prático para um cadeirante. Principalmente o recarregável (sem fio) que você pode fazer a barba em qualquer lugar. Eu já levei até para o carro para acabar de fazer a barba no trânsito!
Eu já uso barbeador elétrico há muitos anos, tanto que, a bem da verdade, só nos últimos meses comecei a me barbear com lâmina (ou barbeador manual, sei lá). O problema é que, logo que John, Paul, Ringo e George (meus quatro primeiros fios de barba, que duraram anos) começaram a se multiplicar, descobri que meu rosto é sensível a lâmina de barbear. Na época (pouco antes dos 18), minha cara ficava toda irritada, vermelha e empelotada a cada barba. Aí descobri que meu pai tinha um barbeador elétrico da época de exército, então "peguei emprestado" por tempo indeterminado (até quebrar, claro). 
Depois disso, comprei outro com fio que durou muitos anos, e aí, pouco depois que virei cadeirante, peguei um sem fio, pois já percebi a dificuldade de ficar indo ao banheiro e tentando me ver no espelho. Inicialmente comprei um espelho daqueles que Cabral trocava com os índios no descobrimento do Brasil (de camelô mesmo, aquele com bordas alaranjadas), mas mesmo assim ficava limitado pelo fio. Com o barbeador sem fio esse problema acabou, faço a barba deitado, de bruços, dirigindo (não recomendo....) e em outras posições cabulosas. Mas há uns quatro meses ele caiu no chão e não teve concerto, foi aí que voltei (ou melhor, comecei) a fazer a barba com lâmina.
Tem gente que não curte barbeador elétrico porque acha que a barba fica mal feita, mas desmistifico esse tabu, porque o lance é questão de costume, depois que a gente pega a manha o rosto fica que nem bunda de bebê. Então taí a dica, você que fica se esticando para enxergar no espelho, vai nessa, as mulheres agradecem pelo fim das "lixas" no rosto...

domingo, 9 de outubro de 2011

Tecnomaníaco

Entro no carro e conecta, aperto um botão e falo sem tirar as mãos
Já falei sobre tecnologias assitivas aqui, mas o fato é que há outras tecnologias que não são específicas para deficientes mas ajudam muito no dia a dia de um cadeirante. A primeira que me vem à mente é o bluetooth de celular. A principal aplicação do bluetooth para cadeirante é a conexão com o som do carro para fazer e atender chamadas do telefone. Como temos sempre as duas mãos ocupadas (uma dirigindo e a outra acelerando/freiando), é fundamental para conseguir comunicar pelo celular, sem correr risco de bater o carro e nem levar multa. Claro que o carro também tem que ter essa função no som. Utilizo no meu carro desde 2008 e não tem coisa melhor. É só apertar um botão no painel, dizer o nome de alguém da agenda do telefone, e ele faz a ligação automaticamente. Muito prático.
Pelo celular controlo o notebook ligado à TV e ao Home Theater
Outra aplicação bacana, que uso há muitos anos, é o controle remoto do computador. É muito útil pois a gente não precisa ficar levantando toda hora quando estiver vendo um filme, ouvindo música ou até fazendo uma apresentação em escola ou trabalho. Falei disso em 2009 nesse post, com um celular bem mais modesto mas que já trazia essa opção. Hoje, com um smartphone rodando sistema Android (o robozinho verde me picou há um ano), esta função evoluiu muito e já permite o controle através da rede wi-fi com mais precisão e mais opções de controle. É possível movimentar o mouse através de movimentos pela tela sensível ao toque do celular, digitar no celular como se fosse o teclado, aumentar ou diminuir o som, passar apresentações do power point, e muitas outras aplicações. Vou aproveitar e elencar aqui meus aplicativos Android favoritos: Unified Remote (controle remoto), ZDbox (gerencia várias funções do celular), Astro (gerencia pastas), Gesture Search (abre qualquer coisa escrevendo direto na tela), Kayak (viagens) e Note Everything (anotações).
Como percebem, eu sou consumidor voraz de tecnologia. Sou curioso, fuço, leio muito, tanto que eu sempre fui consultor de tecnologia da minha família e amigos, e até mesmo gente ligada à área me pede conselhos.Costumo dizer que tenho quatro paixões: mulheres, carros, tecnologia e mulheres. Esta última foi dobrada propositalmente, pois é uma paixão dupla... 

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Cuidado com as bolas

Cuida de mim, heim?
Sim, caros leitores, é deles mesmo que estou falando: dos testículos. Como não temos muita sensibilidade, ou nenhuma, é preciso ficar atento, principalmente porque estamos sempre sentados. 
O primeiro cuidado a se tomar é com as roupas: usar cuecas ou calças muito apertadas podem machucar os testículos e causar até uma lesão ou deixar o cara estéril. E mesmo se a roupa não for tão apertada, mas justa, qualquer movimento mais brusco ou transferência pode apertar as coitadas das bolas. Mas não pense que usar calças largas demais resolve. Nesse caso, costuma acontecer de a calça girar no corpo, fazendo com que o apertão aconteça do mesmo jeito. O jeito é: depois de cada transferência dar uma conferida para ver se os testículos não foram prensados. Ao se acomodar na cadeira, é preciso dar aquela conferida rápida e discreta. Eu já estou treinado e faço a checagem em meio segundo, com total discrição. Mas se me virem com a mão lá por um instante, é precaução, e não safadeza.
Pelo menos os cadeirantes têm duas vantagens nesse quesito: é muito difícil a gente levar um chute no saco, e mesmo se levarmos, não vamos agonizar de dor por intermináveis minutos... E você, mulher que riu da situação, saiba que já existem estudos apontando que a dor de um chute no saco é maior do que a dor do parto.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Neuroestimulador medular

Esquema do implante: pulsos elétricos direto na medula
Leitores do blog, vocês sabiam que sou o cadeirante mais bem humorado do mundo? Falo isto com propriedade não porque conheço todos os cadeirantes do mundo, mas devido à minha sequela mais grave da lesão medular: a dor crônica. Corrigindo, então: sou o cadeirante com dor crônica mais bem humorado do mundo. Ou melhor, sou a pessoa com dor crônica mais bem humorada. Pois é muito, muito difícil o cara manter o bom humor sentindo dores intensas todos os dias. Haja bom humor.
Mas o objetivo deste texto não é demonstrar minha modéstia, que é meu único defeito, mas sim contar-lhes e pedir opiniões sobre minha nova frente de batalha contra a dor: uma cirurgia de implante de um neuroestimulador na medula. A ideia surgiu de um dos neurocirurgiões que me acompanha, o Baroni (o outro é o Dr. Gabriel, do Sarah). Ele disse que já fez uma cirurgia dessas em uma paraplégica com sucesso, mas nunca a conheci (nem ninguém que tenha passado por esta cirurgia). Pesquisando, encontrei vários bons artigos sobre o tema, mas nada específico de um lesado medular. Portanto, se alguém sabe de um caso destes, me conta, please.
Não sei se tem gente que duvida que sinto tanta dor, pois dor é uma coisa muito subjetiva, o indivíduo pode berrar como um louco ou sofrer em silêncio. Eu escolho usar o bom humor para driblar o sofrimento. Por isso, mesmo em um dia de crise, pouca gente percebe, pois converso numa boa, faço piada, trabalho o dia inteiro, dirijo, etc. Mas quando chego em casa, deito, geralmente de bruços, e tomo um tylex, ou outro remédio forte. Mas não fico puto, nem triste, nem irritado: continuo o mesmo, vejo uma novelinha, estudo, ou, como hoje, escrevo no blog. Sim, meus caros, enquanto escrevo este texto estou sentindo dores terríveis, minhas pernas queimam como o fogo, alguns lugares latejam, meu peito dói (essa dor é a única que me preocupa mesmo) e nas costas parece que há umas cinco facas. Se mexendo.
Bem, esta é mais uma tentativa de minimizar, ou quem sabe eliminar, a dor crônica no meu corpo. Eu sempre digo que já me acostumei, mas a verdade é que é impossível se acostumar com dor todo dia. Eu, pelo menos, consigo rir dela. Antes que ela ria de mim.
Links sobre o assunto:
Dr. Eduardo Barrreto
Blog Dores Crônicas
Matéria na Época

Cadeirantes palestrantes

Tem gente que acha palestra motivacional um porre, uma perda de tempo. Mas não é bem assim não. Acho que para o cara falar sobre motivação, tem que ter motivo. Ou seja, tem que ter uma história real, vivida por ele, que demonstre como buscou motivação para chegar lá. Como, por exemplo, uma pessoa que saiu de baixo, vivia em um lugar sem oportunidades e correu atrás para se dar bem na vida. Ou uma pessoa que tinha uma vida ativa, perdeu o movimento das pernas, virou cadeirante, e correu atrás (ou melhor, rodou atrás) para conseguir de novo uma vida ativa. 
Eu já dei meu depoimento algumas vezes, para pequenas plateias, mas não sei se daria certo nessa área. Mas esse post é para citar dois caras que fazem isso, o Toni Vaz e o Evandro Bonocchi. O Toni é mineiro e conheço só por e-mail, e o Evandro paulista, conheci-o na Reatech de 2009, muito gente boa, e ano passado ele me apresentou a handbike Handvikn, que é a que mostro muito aqui no blog. Confiram os sites deles, e conheçam as histórias de dois cadeirantes guerreiros:

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