sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Boroni Palace Hotel em Ouro Preto - Acessibilidade razoável em cidade histórica

Fachada do Hotel Boroni Palace

Quando falamos em turismo por pessoas com deficiência, a primeira barreira que aparece é a arquitetônica - isso se a barreira financeira já tiver sido ultrapassada. Em cidades históricas então, quem usa cadeira de rodas até arrepia só de pensar em passar por ruas e ladeiras feitas de pedra fincada e calçadas irregulares e cheias de desníveis.

A cidade de Ouro Preto, na região central de Minas Gerais não é exceção. Muitos cadeirantes nem sequer cogitam viajar para esta cidade devido às imagens de ruas feitas de pedra fincada, calçadas de pedra São Tomé e principalmente, centenas de ladeiras íngremes para todo o lado. Mas se o cadeirante for teimoso? E se gostar de uma aventura? De encarar desafios?


Claro que não é só pegar o carro, chutar o balde e ver no que dá. É preciso algum planejamento. Afinal, há ruas de pedra fincada, calçadas de pedra irregulares e morros íngremes pra todo lado. Cidade histórica não tem como ser muito acessível, mas com carro, um acessório e uma forcinha dá para explorar bem a cidade. E os pontos turísticos geralmente tem uma estrutura de acessibilidade razoável.

Mas e a acomodação? Como esperar hotéis adaptados em cidades com acessibilidade "inadequada"? A dica que dou é buscar em sites como Booking.com que permitem filtrar por hotéis com "Comodidades para hóspedes com mobilidade reduzida". O resultado não garante que a acessibilidade seja plena, mas é o início para identificar um hotel que atenda. Infelizmente quartos adaptados para pessoas com mobilidade reduzida em hotéis no Brasil raramente permitem que todas as limitações sejam atendidas. Quem usa cadeira de rodas deve buscar informações direto com o hotel para explicar exatamente do que precisa. Entendo a boa intenção de disponibilizar quarto adaptado mas falta assessoria - principalmente de alguém que tenha limitações.

Entrada alternativa pelo estacionamento do Boroni Palace Hotel

Assim encontrei o Hotel Boroni Palace, e comecei a pesquisa para identificar se me atenderia. Liguei, perguntei pelas adaptações existentes e pedi fotos para ver se minhas necessidades seriam atendidas. Me mandaram fotos do quarto e do banheiro, basicamente o que precisamos para uma acomodação rápida - seria apenas de um dia para o outro. E pelas fotos, parecia estar tudo ok. Mas eu já sabia que encontraria dificuldade.

A primeira delas foi logo na chegada. A entrada da recepção é feita por escadas, e não tem como acessar diretamente da rua. Para sanar este problema fizeram uma entrada alternativa na lateral, mas é preciso passar pelo portão de acesso dos veículos ao estacionamento, o que já torna perigosa a entrada por cadeirantes. Por isso pedi minha esposa para descer e ir à recepção, para que abrissem o portão e eu entrasse de carro, evitando o risco.

Entrada do quarto adaptado fica entre duas vagas de estacionamento

Ao buscar a reserva, porém, o primeiro problema: o quarto adaptado já estava ocupado. Como assim, se reservamos especificamente este quarto? Disseram que houve uma confusão e providenciariam outro quarto, que poderia nos atender. Já desapontado com o atendimento, fui conhecer a "alternativa". Já fiz errado, não devia nem ter cogitado ficar em outra acomodação. Desci do carro e constatei o óbvio, não era adequado. Havia um armário em frente à entrada do banheiro, o que impedia a entrada da cadeira. Ciente do meu erro, voltei ao carro e exigi o quarto reservado. E que o hotel se virasse para explicar ao hóspede que o haviam instalado no quarto errado. Este tipo de erro cabe até uma ação na justiça, se não resolvessem, pode ter certeza que eu buscaria meu direito.

O espaço para circulação no quarto é bom

"Resolvido" o problema, me encaminharam ao quarto adaptado que fora reservado. A entrada fica entre duas vagas de estacionamento, sendo uma delas para o carro da pessoa com deficiência. A delimitação não é bem definida, não há faixa zebrada ao lado da vaga, o que pode gerar confusão por quem estaciona ao lado, usando o espaço indevidamente. Além disso há um pequeno degrau do asfalto para a calçada. Mas não é problema para entrar, o acesso é tranquilo. O espaço para circular dentro do quarto é bom, mas a cama, como a maioria dos hotéis, é muito alta, dificulta a transferência se a pessoa tiver menor estatura. Para mim, não foi tão difícil. Mas o ideal é que fosse mais baixa. 

Ressalto na entrada do box dificulta passar cadeira de banho

Banco retrátil, falta chuveirinho e o olha a altura do porta sabonete!

Problema mesmo encontrei no banheiro. Para começar, a pia é muito alta, e o espelho mais ainda alto, o que torna impossível um cadeirante se ver. O vaso fica muito perto da parede, o que dificulta passar com a cadeira de rodas. Mesmo se passasse, a porta do box é muito estreita e há um ressalto na entrada do box, o que dificulta a entrada com uma cadeira de banho. Sim, eu levei uma cadeira de banho pois imaginei que teria alguma dificuldade. 

Porém o que mais dificultou minha vida ao tomar banho foi a ausência de chuveirinho. O chuveiro é muita alto, mas o que mais me espantou foi o porta Shampoo, que é muito, muito alto, difícil até para quem fica de pé. O hotel não conta com de cadeira de banho, tem um banco retrátil, mas uma cadeira de rodas não chega até lá, devido ao vaso e à porta estreita. E convenhamos que esse banco não é o ideal, afinal, sentar nesse banco de madeira não é tarefa fácil para lesados medulares, que tem pouca "carne" nas nádegas. 


No café da manhã, outros problemas crônicos de acessibilidade. A mesa onde fica a comida e bebida tem armários em toda sua extensão, o que complica para um cadeirante se aproximar. A altura também não ajuda, é bem difícil se servir. Mas pior são as mesas do salão, para os hóspedes se sentarem. Elas tem pés centrais, daqueles que ficam no meio da mesa, e isso impossibilita uma cadeira de rodas se aproximar de frente, a gente tem que ficar de lado para tomar café. 

Enfim, essas foram as principais dificuldades que tive ao me hospedar neste hotel, que se "orgulha" de ser adaptado para cadeirante, já que tem um símbolo da acessibilidade na placa principal da fachada. Mas não sei se merece tanto assim esse status. Tem muito o que melhorar, principalmente por ser uma das poucas opções com um pouco de acessibilidade na cidade.. 

E você, conhece Ouro Preto? Tem alguma história legal por aqui?

As mesas do café da manhã também são inadequadas para cadeirantes, por ter pé central.

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