terça-feira, 30 de junho de 2009

Atividade fisica só faz bem


Sempre fui esportista, praticava mountain bike toda semana, procurava parceiros pra fazer trekking e quando tinha a oportunidade entrava num jogo de vôlei ou peteca. Só não gostava mesmo de futebol, e, contra a vontade de todos, basquete. Mas nesse último acabava entrando, mesmo jogando mal, a altura me privilegiava. E eu bem gostava de dar "toco", o cara vinha atacando, chegava perto da cesta, desviava da minha marcação, dava um salto mais alto que podia e eu só levantava a mão e barrava a bola, geralmente já acertando a cabeça do cara. Ah, isso era muito legal.
Quando virei cadeirante estava no auge da minha forma física, praticando muitos esportes. Senti muita falta no início, mas assim que internei no Sarah descobri o quanto ainda é possível praticar esportes em uma cadeira de rodas, apesar de eu ainda ter mais uma limitação, no ombro esquerdo, ainda assim há formas de curtir uma atividade física. Porém, para praticar esporte adaptado, na maioria das vezes é necessário encontrar um local e um grupo de pessoas que queiram também, ou pelo menos uma pessoa, já que a maioria dos esportes é coletivo.

Entre os esportes individuais, destaque para a natação, pra mim é o esporte adaptado que tem maior visibilidade no Brasil, através das conquistas dos atletas paraolímpicos, como o Daniel Dias, e é também o mais fácil de praticar, basta ter uma piscina disponível, que autorize um cadeirante a utilizá-la. Alguns lugares não permitem aos lesados medulares nadarem, devido à incidência de infecção urinária e à incontinência. Mas negociando e se comprometendo a passar sonda antes de entrar na água, muita gente consegue. Eu ainda não criei coragem porque meu ombro não deixa. Mas com o avanço que estou tendo na fisioterapia, em breve pretendo cair na água. Sem contar o tanto que água relaxa a gente.
É mais um motivo para praticar esportes. A atividade física não é boa só para manter o corpo saudável, traz dezenas de benefícios, relaxa a mente, proporciona interação com outras pessoas, novas amizades, satisfação pessoal e superação de limites. A primeira vez que eu disse que havia nadado no Sarah, me perguntaram "nadou sozinho??" Ainda hoje tenho que explicar que é possível e muito recomendável. E não tem sensação melhor para quem não movimenta as pernas sentí-las leves e ficar na vertical sem auxílio.

domingo, 28 de junho de 2009

Post da Gi


O Sam sempre me pergunta porque não escrevo no blog dele, aí resolvi escrever hoje , apesar de não gostar muito, mas ele merece minha dedicação.
Conheci o Sam qdo ele ainda era um big dog, não faz mto tempo que ele deixou de ser, mas faz um tempão que nos conhecemos, num buteco em Viçosa, também estudei lá. Não foi paixão a primeira vista, como as pessoas gostam de dizer, tanto é que um dia encontrei com ele e nem o reconheci (isso faz muiiito tempo), mas a partir daí começou minha historia de amor (apenas a minha, porque ele demorou um pouquinho para descobbri que eu era a mulher da vida dele, rsrs). Algum tempo depois, namoramos, terminamos, mudamos de cidade, nos reencontramos algumas vezes, até que ficamos juntos definitivamente. Foi um longo caminho que não vem ao caso agora, pois o que tenho a dizer é sobre ele e o quanto me faz feliz. O Sam é simplesmente uma pessoa extraordinaria, de bem com a vida, não tem tempo ruim não. As vezes fico triste por algum motivo do dia a dia e rapidinho ele me faz enxergar que tenho varios outros motivos para ficar feliz. Há dois anos e alguns meses estamos juntos e só aconteceram coisas maravilhovas nas nossas vidas, nosso amor e dedicação um ao outro só aumenta. 
Quanto a paraplegia nunca tive "medo" de como seria conviver com uma pessoa com limitações, na verdade nunca parei para pensar sobre isso, pois meu amor por ele é maior que qualquer limitação.
Meu Amor, a cada dia amo mais a nossa vida, adoro estar com você em todos os momentos, estaremos sempre juntos para comemoramos nossas vitorias e conquistas e também para lamentarmos nossos erros e nossas dores. Te admiro muito e tenho muito orgulho de você. Não posso esquecer de nossa Bebé (Belinha, nossa gatinha), que torna nossos dias mais divertidos. Te AMO MUITO para toda a Vida!

sábado, 27 de junho de 2009

Intoxicação por remédios


Com a recente morte do ídolo pop Michael Jackson (eu também já gostei, tinha até o LP - pra quem não sabe são os antigos discos de vinil) iniciaram-se as suposições para explicar sua morte, uma delas é a de intoxicação por excesso de remédios. Lembrei-me de uma matéria que li na semana passada sobre uma pesquisa realizada pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que concluiu que os medicamentos são responsáveis por 30% das intoxicações ocorridas no País em 2007. Os números do Sinitox apontam mais de 100 mil casos de intoxicação, com 479 mortes.
Este assunto tem especial interesse para os lesados medulares, que, pelo quadro clínico específico, são consumidores frequentes de remédios, sejam profiláticos ou para conter alguma das diversas complicações a que somos acometidos. Pessoalmente, sempre fui avesso a remédios, dificilmente eu conseguia manter um tratamento até o fim pois me esquecia (às vezes propositalmente) de tomar no horário certo. Sem contar que eu acreditava que o nosso corpo tem as armas necessárias para combater as doenças. Não é um comportamento ideal, pois os tratamentos são comprovadamente eficazes quando seguidos fielmente.
Após a lesão fui obrigado a me disciplinar em relação a isso, pois uma vez que minha saúde corria sérios riscos, não era racional continuar rebelde. No início, logo após o acidente, eu tomava os remédios mesmo sem querer, pois as enfermeiras faziam um acompanhamento rigoroso, algumas vezes aplicando medicações via injeção. Após o período de internação, me acostumei a tomar pelo menos dois comprimidos de oito em oito horas, um para diminuir os espasmos e outro para controlar a bexiga. E ainda tomava um remédio para dor à noite, pois apesar de sentir dores durante o dia todo, eu preferia tomar só à noite para conseguir dormir.
Quando tenho infecções urinárias, entro com um antibiótico, às vezes acompanhado de um anti-térmico para diminuir a febre. No início do ano, após uma infecção mais forte, meu urologista recomendou que eu iniciasse administração de Macrodantina uma vez por dia, um profilático para prevenir reincidência de infecção urinária. E há dois meses atrás, após voltar ao neurocirurgião que me acompanha para tentar mais um tratamento para diminuir minha dor crônica, acrescentei ao meu "coquetel" um comprimido de amitriptilina de oito em oito horas. No fim das contas, tomo três de manhã, três à tarde e cinco à noite. Para um anti-hipocondríaco, dá pra imaginar o quanto isso incomoda.
Ainda mais depois que li a matéria sobre os vilões da intoxicação. Ainda estou com vontade de diminuir o coquetel "molotov" que tomo, tirando um dos remédios pra dor ou o profilático. Mas em conversa com minha cunhada, que é médica, já desisti da "auto-desmedicação". Querendo ou não, nós lesados medulares necessitamos de determinados medicamentos, e os casos de intoxicação são geralmente ocasionados por falta de conhecimento sobre as contra-indicações, auto-medicação e sobredosagem, ingestão de doses maiores do que as recomendadas. Além dos caso de ingestão por crianças de 1 a 4 anos, graças ao descuido dos pais.
Portanto, se seus médicos prescrevem medicamentos realmente necessários para problemas reais, se você seguir a dosagem recomendada, tampe o nariz e engula sem dó os comprimidinhos multicoloridos (à noite tomo um branco, um vrmelho, um azul, um amarelo e um marron), pois a probabilidade é que te façam mais bem do que mal. Mais uma recomendação: procure saber exatamente as contra-indicações de cada medicamento. E leia a bula!!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sobre o banheiro acessível

Como apontado pelo autor deste blog, grande parte dos problemas dos cadeirantes ocorrem no uso do banheiro, que dificilmente possuem uma largura de porta de 80cm e cuja disposição de pia e bacia sanitária impede o acesso e uso. Ao construir ou reformar uma edificação, o primeiro passo é contratar um arquiteto, que é o profissional mais habilitado para o projeto e planejamento da obra. Pelo Decreto Federal nº 5.296, todas as instituições públicas e de uso coletivo, como restaurantes, hotéis e hospitais, devem ser acessíveis desde 2004, o que reforça a importância da presença do profissional no projeto. O arquiteto deverá consultar a Norma Brasileira ABNT NBR 9050, que trata da acessibilidade em edificações.

No capítulo 7, sobre sanitários e vestiários, está descrito e ilustrado tudo que é necessário saber para o projeto, começando com a localização e sinalização: “Os sanitários e vestiários acessíveis devem localizar-se em rotas acessíveis, próximos à circulação principal, preferencialmente próximo ou integrados às demais instalações sanitárias, e ser devidamente sinalizados conforme 5.4.4.2. Em sanitários acessíveis isolados é necessária a instalação de dispositivo de sinalização de emergência ao lado da bacia e do boxe do chuveiro, a uma altura de 400 mm do piso acabado, para acionamento em caso de queda”.

Com relação ao espaço mínimo recomendado, ele deverá ser de 1,50X1,70m, sendo aceito até 1,50X1,50m em reformas onde o anterior é inviável. Segue abaixo duas imagens em planta que mostram os espaços necessários e as posições da pia e bacia com barras de apoio. O dimensionamento, posição e instalação de todas as peças do sanitário são previstos na norma e devem ser obedecidos, como nas figuras abaixo. Para maiores informações a norma deve ser consultada. É possível fazer o download da NBR 9050 gratuitamente na Internet.

São Paulo, 22 de junho de 2009.

Bruno Ribeiro Fernandes

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Cadeira motorizada: vale a pena?


Muita gente me fala para comprar cadeira motorizada, que vai me dar mais liberdade e diminuir meu esforço, que é muito importante comprar uma. Já os fisioterapeutas que encontro dizem que não devo comprar, pois vou deixar de usar os braços e ficarei fraco para fazer transferências e outras coisas, e que a cadeira manual te deixa mais em forma e evita que engorde muito. Então, até que ponto é realmente necessário? Para que exatamente me serviria uma cadeira motorizada?
Vamos ver as vantagens e desvantagens de cada modelo.
A cadeira manual é mais prática, mais fácil de guardar e muito mais leve. Porém é mais instável, não dá segurança em terrenos íngrimes nem em rampas, e demanda muito esforço para vencer pequenos obstáculos, como raízes de árvores e subidas pequenas. Demanda também muito esforço do cadeirante para se locomover em trechos mais longos, cansando em pouco tempo. Mas esse esforço, por outro lado, é importante para manter os braços e ombros fortes, facilitando transferências e ainda é uma atividade física de fundamental importância.
A cadeira motorizada auxilia demais em trechos longos, não demanda esforço nenhum de locomoção. Porém é muito pesada, difícil de transportar e demanda uma segunda pessoa para colocá-la em um carro. De preferência uma pessoa "fortinha".
Afinal, qual é a mais indicada e quando?
Depende do tipo de cadeirante. Se a pessoa estiver em cadeira de rodas por motivo de doença ou enfraquecimento muscular, é indicada a motorizada, pois é melhor economizar forças para outras tarefas. Se é lesado medular com paraplegia ou tetraplegia, acredito que a manual é mais indicada, para manter a forma ou treinar pegada, no caso dos tetraplégicos.
Depende também do dia a dia. Se possui carro adaptado, trabalha em local fechado sem necessidade de grandes locomoções e tem sempre alguém que possa empurrá-lo em trechos longos, como uma namorada, esposa ou parente próximo, o ideal é a manual.
Mas se é comum percorer grandes distâncias e tem carro adaptado e com elevador, é mais indicada a motorizada. Ou se a pessoa já tem uma atividade física constante, é uma comodidade utilizar a cadeira motorizada.
Minha opinião é que o cadeirante deve ter as duas, quando for a um Shopping ou na padaria da esquina, pode ir com a motorizada, mas dentro de casa e no trabalho, utiliza a manual. A manual também é a ideal em viagens, ocupa menos espaço e é mais ágil para ir em vários lugares, onde deverá ser montada e desmontada várias vezes.
Para quem acha que só quem tem muita grana pode comprar as duas, há algumas cadeiras motorizadas que também viram manual, como a Hummel, basta trocar as rodas traseiras. Há também a opção de comprar uma usada, mas além de difícil de encontrar, pode não se ajustar bem ao corpo. Mas mesmo assim é um equipamento caro, então, até juntar dinheiro, o cadeirante vai ficando forte com a manual mesmo (meu caso)!

sábado, 20 de junho de 2009

Fisioterapia neurológica


A mobilização passiva é muito importante, mas não substitui a fisioterapia. Principalmente porque determinados movimentos são impossíveis de realizar sozinho por um lesado medular. E também porque os equipamentos de uma clínica fisioterápica são insubstituíveis e caros. E, obviamente, ninguém substitui um profissional de fisioterapia.
Porém, para nós lesados medulares, é muito difícil conseguir profissionais e clínicas especializados em fisioterapia neurológica, que é nosso caso. Os melhores fisioterapeutas dessa área estão no Sarah, destino obrigatório de quem sofre lesão medular, porém não há vagas pra todo mundo nem a possibilidade de acompanhar todos os pacientes por toda a vida.
Por isso é importante que o lesado medular procure uma forma de conseguir o acompanhamento de um fisioterapeuta, se não na rede pública, através do seu plano de saúde ou, se possível, particular. Ideal mesmo é ter plano de saúde, mas - por experiência própria - mesmo assim é difícil encontrar profissionais especializados em fisioterapia neurológica. Por ter atingido o limite de sessões do plano de saúde - ainda vou pesquisar sobre isso - e por descuido meu também, eu estava desde agosto do ano passado sem fisioterapia acompanhada, fazendo só em casa. Alguns exercícios que aprendi com os vários fisioterapeutas por que passei até hoje eu fazia com o auxílio da minha namorada. Mas, como citei acima, isto não substitui o acompanhamento de um profissional.
Voltei ao neurocirurgião que me operou, Dr. Antônio Baroni, que ficou satisfeito com a recuperação motora que apresentei, e recomendou fortemente a volta à fisioterapia, cuja falta pode até ser uma das causas das fortes dores que sinto. Fui então à busca de uma clínica, pois a última em que me tratei não possui alguns equipamentos importantes e sua localização pra mim é um pouco complicada. Liguei para o plano de saúde e peguei o telefone de algumas clínicas e comecei a marcar as avaliações. Fui na primeira, e ao ver o pedido a responsável já descartou, pois não oferecia aquele tipo de tratamento. Fui na segunda, mesma coisa. Liguei novamente no plano de saúde explicando o tipo de fisioterapia que eu precisava. Me indicaram mais três clínicas. Fui na primeira e, apesar de oferecerem a fisioterapia, me disseram que havia incompatibilidade com meu plano. Não fiquei satisfeito com a situação, mas antes de ligar no plano de saúde chorando as pitangas, marquei a avaliação na última clínica da minha lista.
No horário combinado fui com um amigo fazer a avaliação. A primeira coisa que observo é a existência de vagas exclusivas para deficientes físicos nas proximidades, e neste caso há várias vagas na região, que é onde se concentram vários hospitais e clínicas. Mesmo havendo as vagas, procuro uma que seja em uma rua com menos movimento, pois tenho que abrir completamente a porta do carro e mantê-la assim até montar completamente a cadeira e passar pra ela. Esta é mais uma dificuldade por ser cadeirante, se houver muito movimento ou for uma rua apertada, o risco é enorme.
Felizmente a clínica tem todos os equipamentos que preciso e a fisioterapeuta responsável me passou muita segurança e demonstrou grande conhecimento da área e interesse no meu caso. Semana que vem, finalmente, volto a fazer fisioterapia em clínica, e a partir de agora vou ficar mais atento, pois é minha saúde e minha recuperação em jogo.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Mobilização passiva: atividade obrigatória

Geralmente quando digo que faço fisioterapia todo dia sozinho, por minha conta, sem auxílio de ninguém, as pessoas não entendem. Esta é mais uma lição aprendida no Sarah: a mobilização passiva. Ela consiste de movimentação dos membros inferiores dentro da amplitude de movimento livre, produzida inteiramente por uma força externa, sem contração muscular voluntária. Ou seja, é a movimentação das pernas, pés e dedos em todos os sentidos possíveis feita pelas mãos.
Quem já esteve no Sarah sabe que esta atividade deve se tornar rotina para os cadeirantes, dada a importância para a manutenção da integridade e elasticidade das articulações e músculos. É importante também para ativar e manter a circulação sanguínea, além de auxiliar na redução dos espasmos. E ainda previne o surgimento de trombose.
As consequências da falta de movimentação dos membros inferiores podem ser terríveis, no Sarah presenciei pacientes cujas pernas não se esticam mais, sendo necessária fisioterapia intensa e gente puxando as pernas ao máximo. A cena é estranha, o paciente sendo segurado por duas pessoas enquanto outras duas puxam suas pernas tentando esticar, e a pessoa urrando de dor.
Mais uma vez fica a lição de não ficar parado. Nem deixar o que está "inativo" sem movimento. Às vezes dá uma preguiça de fazer os exercícios e se mexer no dia a dia, mas para se tornar um hábito é necessário um esforço inicial, pois quando vira rotina a gente faz até sm perceber. Vamos nos mexer!!! Ou como diziam Fucker e Sucker, do casseta e planeta, mexa esse traseiro gordo!!!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Elevação: precaução necessária


Uma das piores consequências de ser cadeirante é a úlcera de pressão, conhecida como escara. São feridas causadas por pressão não aliviada que resulta em danos aos tecidos. São categorizadas em vários estágios, sendo o primeiro identificado por manchas avermelhadas na pele e o último por perda total de pele, músculos e em alguns casos até do osso.
O grande problema é a falta de sensibilidade, uma pessoa normal que fique sentada várias horas muda de posição várias vezes e em determinado momento não aguenta e se levanta. Como os cadeirantes, principalmente as vítimas de lesão medular, tem pouca ou nenhuma sensibilidade, ficam horas na mesma posição e até dias, o que favorece o aparecimento das escaras. Para os lesados medulares não é só a cadeira que causa escaras, se não houver mudança de decúbito quando deitado os perigos de aparecimento das escaras permanece.
São duas as principais formas de prevenção de escaras: observação e movimentação. Através da observação, de preferência com o auxílio de outra pessoa, o cadeirante identifica locais no corpo que estejam apresentando vermelhidão ou alteração de consistência, prestando maior atenção nas juntas e proeminências ósseas.
A movimentação inclui mudança de decúbito (posição na cama) e mudança de posição na cadeira, incluindo a elevação. Não pretendo me estender na teoria, a maioria dos cadeirante sabe o que é preciso, e quem não souber clique aqui que tem um apanhado completo sobre o assunto.
Meu objetivo aqui, como na maior parte dos posts, é dar dicas sobre o dia a dia e a aplicação das teorias na prática. A mudança na cama deve se tornar um hábito, a pessoa pode começar colocando alarmes, seja em celular, relógio ou rádio-relógio, de três em três horas para fazer a mudança de posição. Esta recomendação é mais utilizada em hospitais e centros de reabilitação, mas com a prática acredito que não há necessidade de ser em tão poucos períodos de tempo. o que sugiro mesmo é a pessoa se acostumar a inciar o sono em várias posições e variar. Não é tão fácil, pois a gente acostuma a dormir em determinada posição que é mais confortável. Aí entra o início do processo, colocando alarmes, a gente acostuma a dormir em outras posições, pois de madrugada, no auge do sono, mesmo que a pessoa fique em uma posição diferente da habitual acaba dormindo novamente pelo cansaço. Outra coisa que pode ajudar é posicionar o alarme um pouco distante da cabeceira, de forma que a pessoa tenha obrigatoriamente que se mexer e mudar de posição para desligá-lo. Claro que não pode ser tão longe que traga perigo de queda.
Quanto à mudança de posição sentado, no dia a dia, para nos acostumarmos a nos movimentar podemos inicialmente nos mirar em alguém e acompanhar a mudança de posição que a pessoa normalmente faz, e a cada duas mudanças da pessoa, ao fazer a terceira realizar a elevação, por um tempo mínimo de 30 segundos. No início demanda atenção, mas depois de um tempo fica automático. Outra opção é pedir a alguém que te lembre de movimentar-se, mas o ideal é fazer por conta própria para virar costume.
Há também um teste que o cadeirante pode pedir a alguém normal que sente-se em sua cadeira por meia hora e diga o que acha desconfortável e se a densidade da espuma está boa. Para garantir a prevenção existem no mercado vários tipos de almofadas complementares, das mais baratas, feitas de gel, até as caríssimas infláveis de borracha. É um investimento que vale a pena, porque uma vez abertas as escaras, o processo de cura é muito lento e complicado.
Eu nunca tive escaras, mas sempre segui as mudanças de decúbito e faço elevações constantemente. Hoje durmo a noite toda sem virar, mas no resto do dia, enquanto estou deitado fico sempre em posição diferente. Importante mesmo é se mexer, não é porque estamos em uma cadeira de rodas que devemos ficar parado!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Amor em dobro

Desde que criei o blog, muita gente me manda e-mail e me adiciona no MSN buscando informações sobre a experiência como cadeirante e opiniões sobre propostas de acessibilidade. Mas o que me chamou atenção nas últimas semanas foi a procura de algumas namoradas de cadeirantes preocupadas com questões sobre o relacionamento e peculiaridades da vida a dois.
O relacionamento em si não tem tanta diferença do que com pessoas normais, nós cadeirantes também somos românticos, gostamos de carinho, de atenção e de beijos, amassos e sexo. Mas o dia-a-dia demanda alguns cuidados. É preciso uma dose maior de paciência e compreensão.
Nem tudo é possível e muito menos fácil na vida a dois. A pessoa tem que entender que a limitação não é só de locomoção. A incontinência urinária, pra mim, é uma das coisas que mais incomoda. Há os coletores e bolsas que permitem uma menor preocupação com isso, mas nem sempre são eficazes. Muitas vezes eles podem estar furados ou podem se soltar, e como a sensibilidade é pouca, a gente não percebe, só descobre quando está com as calças completamente molhadas. Esta situação pode acabar com um programa ou transformar a cama numa piscina. Pode ser chato, inconveniente e até causar vergonha, mas a culpa não é nossa. Aí entra a compreensão, e a mulher se coloca numa situação quase de mãe, tem que enxugar, limpar, trocar a roupa, do jeito que fazemos com bebês. E ainda é preciso ajudar para se vestir, calçar sapatos e desmontar e montar a cadeira de rodas toda vez que sair de carro. Do nosso ponto de vista, chegamos a um grau de intimidade que jamais imaginamos. E sabemos dar valor a isso.
E só isso já é uma imensa vantagem em namorar um cadeirante ou qualquer pessoa com deficiência. Quando a pessoa se propõe a compartilhar o dia a dia com alguém com deficiência, sabe dos problemas e inconvenientes possíveis, e mesmo assim se dedica sem restrições, o deficiente retribui em dobro, seja porque a pessoa já tem essa qualidade ou porque aprendeu o quanto é difícil levar uma vida normal com deficiência.
Como hoje em dia é tão difícil saber se as pessoas gostam de verdade de nós, nos amam incondicionalmente, o deficiente enxerga isto claramente nas atitudes de seu companheiro (a). Não dá pra fingir pro resto da vida que está gostando de determinadas situações, as atitudes com o tempo mudam se não forem verdadeiras. E uma coisa que aprendemos ao nos tornar deficientes é valorizar quem nos dá apoio. E do outro lado, este valor é sentido e retribuído.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Impressões: Nissan Livina

Esta semana estive na Misaki Veículos, concessionária Nissan aqui em BH na Av. Raja Gabaglia, 2601, para conhecer de perto o Livina, recente opção para deficientes com tecnologia japonesa. Concorrente direto do Honda Fit, se encaixa na categoria de minivan, tem excelente espaço interno e um motor forte (1.8 16v com 125cv), mas o grande diferencial é o porta-malas, com 449 litros, digno dos maiores sedans. Para nós cadeirantes isto é muito importante, pois o tal de monta-desmonta cadeira e ainda tentar colocar alguma bagagem é uma luta em carros com porta-malas pequenos. O do Livina é tão grande que cabe a cadeira de rodas deitada no fundo, coisa que eu só tinha visto até hoje em carros três volumes. Sobra bastante espaço para bagagem e não precisa tirar a tampa do porta-malas.
A grande sacada das minivans é aproveitamento de espaço, o que deixa o interior espaçoso e ainda pode aumentar o porta-malas rebatendo os bancos. O acesso ao carro é bom, a porta abre bastante e dá pra chegar com a cadeira mais paralelamente ao banco. Porém o banco é muito alto, pra mim não foi ruim porque minha cadeira é grande e tem uma almofada alta, mas em cadeiras normais a tarefa deve ser um pouco difícil. O problema mesmo é para sair, não sei se porque a cadeira fica mais paralela, ou é típico de carros com bancos altos, mas a força do apoio na cadeira faz com que ela se afaste ou escorregue para o lado, mesmo com os freios puxados. Mas acredito que é uma questão de prática, com o tempo encontra-se o ponto de equilíbrio.
A versão básica com câmbio automático é a 1.8 Flex, que traz de série ar-condicionado, direção elétrica, vidros, travas e retrovisores elétricos, air bag para o motorista e volante com regulagem de altura, por R$ 50.690,00, um preço justo por um veículo de alto nível, que conta ainda com garantia de 3 anos. Com as isenções este valor deve ficar próximo dos 41 mil reais. Uma excelente opção para deficientes.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Infecção urinária: cuidado em dobro


Eis mais um assunto que gostaria muito de discutir com outros lesados medulares. Nos primeiros meses no hospital, tive muitas infecções urinárias bem fortes, daquelas de ficar sem camisa e colocar compressas para diminuir de 40º a febre. Foram os únicos dias em que tive medo de bater as botas. Ou melhor, as luvas, já que nem botas dava pra bater. Mesmo assim, no auge da febre não perdi o bom humor. Minha irmã ficava acordada a noite inteira colocando compressas em mim e eu falava "põe compressa, mas sem pressa" ou então "estou com frio, estou vendo uma luz, brilhante, dá vontade de ir até ela... mas não vou alcançar o teto."

Sem brincadeira, depois daqueles casos de morte e amputação por causa de infecções urinárias fiquei atento e sigo todas as recomendações para evitá-las. Mas mesmo assim tenho tido infecções constantemente, quase todo mês. Mas como já conheço os sintomas, quando percebo que a urina está escura e com cheiro e sinto dores pelo corpo, inicio o antibiótico e não chego a ter febre. Mas hoje de manhã foi diferente, já acordei com febre e iniciei o antibiótico, mas ainda está em 37,5º. É a segunda pior infecção do ano.

Mesmo depois que aprendi a fazer o cateterismo na modalidade limpa, recomendado até pelo Sarah, continuo mantendo o modo estéril, com luvas plásticas esterilizadas e sonda estéril em todos os cats, exceto no banho, em que faço a limpa. Mas ontem fiz o cat no Mineirão (fui assistir CruzeiroXInter), no banheiro para deficientes, não sei se foi o que influenciou a atual infecção, mas tem grande chance. Agora, definitivamente, não faço mais em locais em que eu não tenha certeza da qualidade da limpeza realizada. A seguir alguma teoria encontrada e métodos de prevenção.

Até os meados da década de 70, insuficiência renal e outras complicações do trato urinário eram as maiores causas de mortalidade em pacientes com lesão da medula espinhal (lesão raqui-medular - LRM) e a preservação da função renal é o principal objetivo do tratamento urológico de pacientes com LRM. 

A maioria das complicações relacionadas ao trato urinário observadas em pacientes com LRM deve-se aos distúrbios da função da bexiga e do esfíncter que freqüentemente acompanham o quadro de deficiências neurológicas. O advento dos exames urodinâmicos contribuiu para um melhor entendimento dos distúrbios da bexiga (também chamada bexiga neurogênica), servindo de base para o acompanhamento urológico dos pacientes. A monitorização periódica e criteriosa destes pacientes permite o diagnóstico precoce das complicações urológicas e pode prevenir a instalação de danos irreversíveis a função renal e vesical. 

Outros importantes avanços terapêuticos foram os progressos no tratamento das infecções urinárias e da litíase (cálculos) renal e vesical. Uma vez que a integridade do trato urinário esteja garantida e o paciente inserido num regime de acompanhamento urológico, novas considerações passam a ser importantes, destacando-se principalmente o controle da continência urinária e o estabelecimento de um método adequado de esvaziamento vesical. Neste sentido, avanços importantes realizados foram a introdução do auto-cateterismo intermitente, o desenvolvimento do esfíncter artificial, as técnicas cirúrgicas de ampliação vesical e derivações urinárias continentes e diferentes modalidades de estimulação elétrica vesical. 

O tratamento dos distúrbios da micção nos pacientes com lesão medular não deve se basear somente em dados clínicos, levando em consideração a investigação laboratorial, radiológica e urodinâmica. Os "exames urodinâmicos" constituem a melhor alternativa para estudar funcionalmente o trato urinário inferior. Através da urodinâmica pode-se determinar e classificar o tipo de disfunção miccional e identificar fatores que coloquem o paciente sob maior risco de desenvolver complicações nos rins e bexiga. 

Além da avaliação clínica-urodinâmica são necessários exames laboratoriais (creatinina sérica e hemograma; urina I e urocultura) e radiológicos (USG e uretrocistografia). Estes exames são importantes como referência futura para o acompanhamento urológico, possibilitando avaliar o surgimento ou agravamento de possíveis alterações urológicas. A partir da investigação urológica inicial podemos compreender a disfunção vesical de cada paciente e instituir o tratamento mais adequado. É importante frisar que pacientes com lesão medular podem apresentar algum grau de recuperação neurológica por vários meses após o trauma em decorrência de regeneração da lesão, devendo-se evitar qualquer procedimento irreversível antes de 1 ano do trauma. 

Para mais informações, clique aqui. E se possível comente sua situação em relação à infecção urinária, frequência de incidência e como faz para evitar.

sábado, 6 de junho de 2009

Australiano paralisado por 23 anos volta a andar após aplicação de Botox

Um australiano que estava paralisado havia mais de duas décadas após ter sofrido um derrame conseguiu voltar a andar graças a um tratamento com injeções de Botox. Russel McPhee, que tinha apenas 26 anos quando sofreu um derrame e ficou confinado a uma cadeira de rodas, diz conseguir andar até cem metros sem a ajuda de andadores.
O Botox, nome comercial da toxina botulínica, tem o efeito de relaxar a musculatura, e é normalmente associado ao tratamento estético, para a eliminação de rugas de expressão.
Mas o uso da toxina botulínica já é aprovado há vários anos para o tratamento de espasmos que impedem o movimento normal de membros em vítimas de derrames e fraturas da medula espinhal ou de pacientes de esclerose múltipla.
O caso de McPhee surpreendeu os médicos, porém, já que normalmente o tratamento com injeção de Botox apresenta melhores resultados quando iniciado pouco após o aparecimento do problema.
Segundo o médico Nathan Johns, que tratou McPhee no centro de reabilitação St. John of God Nepean, a aplicação do Botox em pacientes de derrame normalmente ajuda a reduzir a rigidez dos membros, mas por outro lado enfraqueceria também o músculo, tornando difícil a recuperação dos movimentos. Além disso, quanto mais tempo a pessoa fica paralisada, mais fracos estariam seus músculos. No caso de McPhee, porém, teria ajudado o fato de ele ter tentado, ao longo dos anos, se movimentar sozinho.
Apesar de nunca ter conseguido ficar mais do que poucos segundos de pé, isso teria ajudado a manter a musculatura das pernas forte, ajudando no resultado do tratamento com o Botox.
Segundo Lisa Norman, diretora do St John of God Nepean, o centro vem usando a toxina botulínica nesse tipo de tratamento há cinco anos, "com variados graus de sucesso". "Mas o que torna o caso de Russell tão único é que sua melhora foi tão dramática. Ele estabeleceu para si um objetivo de voltar a andar e estava determinado a fazer isso acontecer", disse.
Fonte: G1
Contribuição de Arthur A. Costa

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Kenguru

Não é nenhuma novidade, mas vale a republicação, pois a ideia é genial e deveria ser expandida pelo resto do mundo. Quem sabe alguém cai na real sobre a necessidade deste tipo de iniciativa e toma atitude para tornar este sonho realidade?
O Kenguru é um pequeno carro elétrico concebido, em 2003, pelo designer Zsolt Varga para a Rehab Ltd, uma companhia Húngara que se dedica à reabilitação. Este veículo tem a particularidade de se destinar especificamente a pessoas que se movem em cadeira de rodas. Não consiste numa adaptação, ou transformação de um veículo já existente, mas sim um projeto feito de raiz com este propósito.
O veiculo tem velocidade máxima de 50 km/h e autonomia para rodar por 50 km sem recarga. Ele pesa 290 kg e tem 2.150 mm de comprimento. O carro tem capacidade para uma pessoa e foi projetado para a cadeira de rodas ter a função de banco, graças ao conjunto de travas instalado no interior do veículo. Para facilitar o acesso do cadeirante, a porta fica na parte traseira. Além disso, a direção foi desenvolvida no mesmo conceito do guidão das motocicletas. Segundo a fabricante, em breve, haverá a opção de joystick. Controlado eletronicamente, o Kenguru não anda se a porta estiver aberta ou se a cadeira de rodas não estiver na posição correta.
O Kenguru está muito a frente das outras opções disponíveis no mercado, que são apenas adaptações de veículos, por ter sido projetado exclusivamente para facilitar a vida de quem usa cadeira de rodas.

No fim das contas, a grande vantagem é permitir ao cadeirante sair do veículo com sua cadeira manual e entrar em determinados lugares em que a cadeira motorizada se torna um trambolho. Para grandes centros é muito útil, por exemplo, para servir de transporte para o trabalho diariamente. Ainda é ecologicamente correto e cabe em qualquer vaguinha. É até melhor estacioná-lo perpendicular à calçada, facilitando a saída por trás. Mas tem dois problemas: só cabe o cadeirante (se for sair com a mulher, ela vai em outro carro, ou a pé) e o controle tipo guidão de moto é uma barreira para os acidentados de moto, como eu, que tem até pavor de pensar nesse tipo de controle. Nada que um ano de análise não resolva!
Link para o endereço da fabricante: http://www.kengurucars.com/

terça-feira, 2 de junho de 2009

Tábua de Transferência

Recebi outro dia um e-mail de uma leitora do blog relatando uma grande dificuldade em transportar o pai dela, que não tem força suficiente para passar para o carro, demandando auxílio dela e da mãe, em um processo complicado e difícil. Ela questionou se eu sabia da existência de um táxi acessível, como já ocorre em outras capitais, ou se eu sabia de alguma forma de facilitar a transferência para o carro.

No Hospital Sarah, me ensinaram a fazer a transferência para o carro com o auxílio de uma tábua, feita de compensado, que tem o formato ideal para transferência, pois se encaixa na cadeira de rodas (parte recortada) e a pessoa desliza por ela até o banco do carro. As medidas são 72 cm de comprimento e 29 cm de largura, e quem se interessar pode mandar fazer em qualquer marceneiro, é só levar o desenho. É importante que seja envernizada, para escorregar bem.

Hoje em dia eu não uso mais a tábua, pois aprendi a passar sem ela e acho pouco prático ficar transportando pra todo lado, mas para quem tem musculatura deficitária é muito útil. Uma idéia que tive, que facilitaria bastante, seria implantar no carro um dispositivo como esta tábua que ficasse embutido ao lado do banco, e quando necessário, se projetasse para fora, encaixando na cadeira e facilitando a transferência. Já vi os mecanismos que projetam o banco do passageiro pra fora, mas é um mecanismo mais elaborado e também mais caro. De qualquer forma, é necessário buscar mais facilidade e segurança neste processo, fundamental para garantir mais mobilidade aos cadeirantes.

Há ainda outro problema que já identifiquei (e sofri) é o encaixe da trava da porta do carro, geralmente proeminente e pontuda, causando machucados nas costas, principalmente no meu caso, pois sou muito grande e o espaço para entrar é pequeno, menor ainda em carros de quatro portas. Os de duas portas são bem mais fáceis devido ao tamanho da porta, e a trava fica mais pra trás. Em alguns carros ela é embutida, o que resolve este problema. Devia ser obrigatório, apesar de parecer sem importância, pois é muito perigoso pra quem tem pouca ou nenhuma sensibilidade, pode causar uma ferida mais grave com grande perda de sangue sem que a pessoa perceba. Eu já tive algumas camisas manchadas, mas sempre tomo cuidado e vejo se houve alguma avaria maior. Cuidado nunca é demais!

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