sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Como dizer a uma criança que você tem uma deficiência

Quem ilustra este post é minha linda filha Anne. Ainda não tive essa conversa com ela, mas será bem mais fácil
Semana passada, fui deixar meus filhos na escolinha e resolvi descer do carro e acompanhá-los até a porta da sala, já que era a primeira semana de aula deles. Chegando lá, a babá deles tirou minha cadeira, desci e entrei no pátio da escola. Várias crianças me cercaram, muitos deles nunca tinham visto um cadeirante ou uma cadeira de rodas. Alguns pais puxaram seus filhos ou seguraram eles quando quiseram vir até mim, o que achei uma bobagem, não tem porque tolher a curiosidade dos filhos. Além disso, eu não mordo!
Algumas crianças ficaram no "que legal" outros só olhavam curiosos, até que uma menina de uns quatro anos me olhou nos olhos e perguntou:
- Porque você está nesse carrinho?
Achei de uma linda inocência e uma coragem enorme ela vir me perguntar, enquanto os amiguinhos só olhavam. Respondi:
- Isso que eu estou chama cadeira de rodas e estou nela porque tenho um dodói nas pernas e não consigo ficar de pé nem andar. Aí uso ela para andar.
Ela ficou pensativa, olhando pra mim, olhando pra cadeira. Aí perguntou:
- Mas você vai sarar?
Essa pergunta me pegou e fiquei pensando na resposta. Me sai com essa:
- Não vou sarar não, mas eu não ligo de andar nela, acho até legal.
Mais alguns segundos me olhando, e mais uma pergunta da minha curiosa amiguinha:
- Nem se sua mãe te der um beijinho?
Tive vontade de rir, mas fui pego novamente de surpresa, sem saber bem o que falar. Nesse momento a professora chamou e ela saiu correndo. No fundo pensei "ufa" pois não tinha decidido ainda o que responder. Fiquei entre contar a verdade, e estragar a crença dela que tudo que mamãe beija sara, o que ajuda ela a enfrentar o sofrimento, ou falar algo como "vou pedir para ela da próxima vez que a encontrar" mas aí ela ia achar que eu sou triste porque não tenho minha mamãe para beijar meus dodóis. Acho que o melhor seria falar a verdade, explicando que meu dodói é muito grande, que eu machuquei porque caí da moto, então não ia sarar com o beijinho da mamãe. Seria ótimo, ganharia outra adepta ao grupo anti-moto.
Não sou dono da verdade, cada pessoa pode achar uma forma diferente de explicar esta situação, mas sacho que no geral me saí bem. Queria ter mais tempo para responder a ela, e explicar que é normal usar a cadeira, muita gente usa, que é perfeitamente possível ser feliz assim, mas foi o que deu para fazer frente a essas questões tão complexas num tempo tão curto. Quem sabe da próxima vez?

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