terça-feira, 28 de abril de 2009

Posto de Saúde sem acesso

A maior queixa dos cadeirantes é, sem dúvida, acessos para cadeira de rodas. Os mais inconformados fazem de tudo pra tentar resolver o problema, contactam autoridades, donos de estabelecimentos, recorrem à lei, ou, com eu, publicam no blog. É chover no molhado, mas temos nossos direitos e é nosso dever exigí-los.
Quando se trata de estabelecimentos comercias, restaurantes, cinemas, etc, temos que contar com a boa vontade dos donos para investir e adaptar o lugar, mas com órgãos públicos é diferente, há leis que exigem a daptação e há formas de denunciar e cobrar mudanças.
Já é um absurdo órgão público sem acesso, mas posto de saúde? Parece brincadeira. E não é só para cadeirante a necessidade de um acesso melhor, há pessoas idosas e outras que tem dificuldade de locomoção. E um local em que se supõe tratar da saúde da população não pode oferecer nenhum tipo de risco aos seus atendidos.
E este é o caso do Centro de Saúde Menino Jesus, no bairro Santo Antônio, Belo Horizonte. Não bastasse sua localização inadequada, em uma ladeira com elevado grau de inclinação, ainda tem dois lances de escada na entrada (em diagonal, pra dificultar), mais um lance na porta e ainda um corredor estreito, no qual nem mesmo entra uma cadeira de rodas. Se não fosse o único consultório em que consegui entrar, seria atendido na recepção. A situação é revoltante, e nem é porque fui prejudicado no único dia em que precisei do posto de saúde (graças a Deus tenho plano de saúde), mas pelo que presenciei lá.
Meu caso foi o seguinte: estou planejando ter um filho com minha namorada daqui a um ano e meio, dois anos. Fui informado sobre um programa desenvolvido no Hospital das Clínicas, na UFMG, que auxilia lesados medulares a realizar este sonho (em breve darei mais informações aqui). Liguei pra lá e me informaram do procedimento (outro absurdo). Eu teria que ir ao posto de saúde responsável pelo meu bairro, consultar com um médico da área, que me encaminharia ao PAM da Sagrada Família e de lá eu seria encaminhado ao Hospital das Clínicas para me inscrever no programa. Já viu burocracia mais desnecessária? Pra quem vive em uma cadeira de rodas, este processo é doloroso. Ainda mais com um posto de saúde como este.
Ligeui pro posto, que solicitou que eu fizesse um cadastro antes de me consultar. Fui sozinho ao posto, de carro, e liguei pra lá do celular explicando minha situação, da dificuldade que seria sair do carro sozinho e subir até o posto que nem rampa tinha, e pedi que pegassem comigo os documentos no carro. Tive que parar no lugar reservado para ambulâncias, pois não havia vagas por ali. Fiquei no celular mais de 15 minutos para conseguir que alguém viesse até o carro, bem em frente ao posto (na porta mesmo, a 10 metros da recepção). Enquanto aguardava (o processo todo levou uns 45 minutos) obeservei que no dia estavam distribuindo vacinas contra gripe a idosos, que chegavam a todo instante, geralmente com um acompanhante ajudando. Pessoas com bengala ou com dificuldade de andar até em pisos planos, faziam um esforço enorme para chegar ao posto para pegar uma fila enorme para conseguir a vacina. Uma senhora quase foi ao chão, se não fosse sua acompanhante. Agora vê, a pessoa precisa ir ao posto de saúde e além do esforço que faz, tem que mobilizar alguém para acompanhar, ainda assim correndo um grande risco.
Consegui marcar para o dia seguinte a consulta, mas tive que chamar minha mãe pra me acompanhar, prevendo a dificuldade. Lá chegando, solicitamos um ajudante no posto, e por sorte havia um guarda municipal por perto para ajudar (à esquerda na foto), pois só um não aguentaria. Aos trancos (e com muita dificuldade) conseguiram me colocar pra dentro, onde fui finalmente atendido e encaminhado (a médica não fez nada além de perguntas e tirou a pressão). Agora ainda tenho que esperar o PAM me ligar quando houver disponibilidade para dar sequência ao moroso processo que a saúde pública nos obriga.
Na saída, outra luta pra me colocar no carro, quase caí umas três vezes, se não me segurasse bem na cadeira tinha ido pro chão. E para entrar no carro ainda bati a cabeça e os joelhos, já que ele estava na descida.
Senhor prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda: mais atenção à saúde, por favor.
Em breve (ou melhor, daqui a um boooom tempo) mais capítulos dessa novela.

10 comentários:

  1. Que absurdo esse posto de saúde!!
    É bom saber que em BH também existem esses descasos!!
    Legal seu blog!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eh verdade Sam, as instituições públicas são obrigadas a ter acesso desde 2004 pelo decreto federal 5296, art. 11: “A construção, reforma ou ampliação de edificações de uso público ou coletivo, ou a mudança de destinação para estes tipos de edificação, deverão ser executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis à pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.” e no § 1o: " Para concessão de alvará de funcionamento ou sua renovação para qualquer atividade, devem ser observadas e certificadas as regras de acessibilidade previstas neste Decreto e nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT." Eh claro que aí entra outra dificuldade de ordem política pq o posto se localiza num bairro de topografia extremamente acidentada e para torná-lo acessível o custo é bem alto.
    Abraço, boa sorte na jornada.

    (PS.: vc tirou foto foi do cacetete do guarda, fala verdade...hehehe)

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  4. hola! Eu realmente gostei deste blog

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  5. this is discrimination. how it is possible that in a health center happen? is very bad for the people in charge, remember equality. thanks for the info, was very entertaining.

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  6. Aqui em Curitiba reclamamos muito. Entretanto pelo que tenho conversado com amigos de outras cidades , vejo que estamos a frente de outras cidades. Ainda há muitos descasos , mas estamos tentando nos mobilizar . É muito difícil unir os deficientes motores , pois parece que todos se escondem. Gostaria de contar com o apoio de todos aí de Minas para fazer um dia de invasão aos shoppings das cidades, afim de mostrar o descaso que existe contra todos aqueles que necessitam de todo tipo de inclusão

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  7. Lícia Helena de Oliveira Medeiros9 de novembro de 2010 às 13:17

    Alessandro, meu nome é Lícia e sou terapeuta ocupacional, estou realmente encantada com o seu blog,parabéns pela iniciativa! abraços.

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  8. Apesar da topografia desfavorável, não é impossível fazer um nivelamento mais adequado do pátio na frente do posto para embutir uma rampa.

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  9. Parabens pelo blog..EStou ha 17 anos com problemas tb por conta de uma cidente de moto, mas hj estou desistindo..

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