segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Excesso de zelo

Faz tempo que quero falar sobre isso. É um dos fatores que mais atrapalha na reabilitação de um lesado medular ou uma pessoa que passa um grande trauma na vida, que causa limitações (vou chamar de "estrupiado" pra facilitar). A família ou companheiro(a) (vou chamar de "quem cuida") fica sensibilizado com a situação e faz de tudo pra ajudar, veste, dá banho, carrega no colo, tudo pra evitar que a pessoa faça qualquer esforço. Não acho isso errado, o problema é o excesso. Por medo de acontecer alguma coisa e piorar a situação, não deixam o estrupiado nem tentar fazer alguma coisa, transferir sozinho, se vestir, e às vezes nem comer.
Quando acontece o excesso, é tão prejudicial para o estrupiado, que acaba ficando mesmo mais dependente, não fortalece os músculos que funcionam nem estimula outros músculos; quanto pra quem cuida, que acaba dedicando muito tempo e preocupação para fazer coisas que o próprio estrupiado poderia estar fazendo.
E fica pior quando algum profissional de saúde explica que o estrupiado é capaz de fazer as coisas e mesmo assim quem cuida continua com excesso de zelo, tratando como se fosse uma porcelana. E é isso que quem cuida, junto com o estrupiado, devem fazer: se informar com profissionais sobre as reais limitações e o que deve ser estimulado, e passarem a deixar o estrupiado tentar se virar mais sozinho. Sei que no início é muito ruim, corta o coração de quem cuida ver o estrupiado fazendo uma força enorme pra realizar tarefas que poderiam ser mais fáceis com uma ajudinha; e para o estrupiado é difícil, e passa muita raiva nas primeiras tentativas, mas depois dá uma enorme satisfação pra todos descobrir que o estrupiado não é tão estrupiado assim e pode se virar bem sozinho.
Não me crucifiquem por criar um apelidinho exdrúxulo pra quem tem limitações, lembrem-se que me incluo na categoria. Já tô imaginando minha mãe me ligando depois de ler este post pra me zoar: "cadê o estrupiadinho da mamãe?"

8 comentários:

  1. Verdade! Se eu deixar meu marido me dá até a comida na boca mesmo! Mas foi legal o post pq "ando" meio preguiçosa pra novas possibilidades. Me fez pensar. Valeu! Abraços!

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  2. Nem só com deficientes físicos, com idosos isso acontece bastante. Tudo bem que em alguns casos não é bom abusar, mas às vezes chega a ser absurdo mesmo. Na casa da minha avó já está assim, se depender do meu pai e das irmãs dele porta ela nem abre mais...

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  3. "Não acrescente dias a sua vida, mas vida aos seus dias." (Harry Benjamin) Assim deve ser com todo ser humano. Por não sabermos as reais limitações acabamos por "superproteger", mas a superação irá engrandecer qualquer avanço, por menor que seja,pois gera independência.
    OK... puxei minha orelha com querer mimar demais hehehe

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  4. Olá Alessandro, parabéns pelo blog e por este post que traz uma excelente reflexão sobre a necessidade do indivíduo se ocupar.
    Bom, a quem interessar possa, eu estou para lançar um livro denominado "Pitando a Vida" que trata justamente dos portadores de necessidades especiais (em particular o cadeirante) e gostaria de uma foto para por na capa. Andei buscando nos sites de fotos mas não achei nada muito legal.
    Os interessados em saber mais detalhes sobre o livro e também em ceder a sua imagem, poderão mandar e-mail para mim pelo josmanlima@feiradeideias.com.
    Aguardo contato para mais detalhes sobre a foto.
    Muito obrigado!

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  5. Isso é uma triste realidade. Temos que ajudar os deficientes "iniciantes" dentro das "reais necessidades" e não em tudo, pois conheço cadeirantes que hoje poderiam estar bem melhor se alguém lhe tivesse dito: "Você consegue", "vamos tentar", "É para seu bem" e tantas outras palavras.
    No início ficava bravo com minha esposa pois em várias situações que eu lhe pedia ajuda ela me induzia a tentar fazer sozinho. (Hoje eu sei que ela aprendeu isso com uma fisioterapeuta do hospital em que eu fui internado). Conheço uma pessoa que sofreu uma lesão parecida com a minha e até hoje sua esposa passa faz o cateterismo, o auxilia para evacuar e em tudo mais. Já falei para ele "Você consegue sozinho", depende de seu esforço. (e nesse caso da esposa ser mais rasão do que emoção)

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  6. Oi, mano Alessandro!
    Muito interessante seu texto, viu!
    Parece que essa superproteção acontece muito não só com os cadeirantes... Digo porque já trabalhei com alunos cegos e baixa-visão. A família cuida tanto que chega a ser um pouco humilhante pra pessoa.

    Gostei muito do teu blog e da tua maneira de escrever, tu é talentoso! Mas... "estrupiado", mano? (risos)

    Abraços! Fique com Deus.

    Simone Fernandes (Faith)

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  7. Mas p outro lado, Alessandro, tem familiares como o meu pai, de origem alemã e o meu filho q tem 13 anos, q solicitam esforço demais de mim. Isso tb me faz mto mal, no sentido de q tem vezes q eu necessito de cuidados, ainda mais q o meu acidente ( queda de 1 Mirante em Ilhabela / 3 metros ) faz só 1 mês mais ou menos, os médicos falam q eu vou me recuperar mas demora, fraturei a T 12 e operei p colocar pino de titânio. Mas o maior problema são as dores ainda, a falta de mobilidd embora eu movimente as coxas e as pernas, só os pés q tem menos sensibilidd pq ainda estão mto inchados.O meu maior problema é fora as dores, a questão pélvica q estou c sonda urinária e uso fraldas, tda vez q eu evacuo é 1 terror a qquer hra do día, não tenho enfermeira, 1 senhora q cuida de mim c o meu filho de 13 anos e tenho q contar c o auxílio dos porteiros do meu prédio p me transportarem, 1 sufoco! O q vcs puderem me ajudar em termos de dicas e apoio desde já agradeço!
    Fiquem c Deus
    Karin Brinckmann.

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    1. Oi Karin, te respondi no facebook, mas como te disse fique tranquila, aos poucos você aprende a lidar com essas limitações, o negócio é treinar os movimentos e ter força de vontade para buscar a independência.

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